Siga nossas redes sociais
Logo     
Siga nossos canais
   
Cuba denuncia na ONU "hegemonia" dos EUA e alerta para escalada militar contra Venezuela
Em discurso no Conselho de Segurança, diplomata cubano classificou apreensão de petroleiro como "ato de pirataria" e acusou Washington de reviver Doutrina Monroe. Crise no Caribe amplia tensão geopolítica e ameaça estabilidade regional
Central e Caribe
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQO9Evv98H9prL0GU0x0V5yJtfh8kWsPO4gwA&s
■   Bernardo Cahue, 24/12/2025

Em uma intervenção contundente perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, Cuba condenou as ameaças e ações militares dos Estados Unidos contra a Venezuela, caracterizando-as como uma imposição de hegemonia e uma violação grave do direito internacional. O embaixador Yuri Gala, encarregado de Negócios da Missão Permanente de Cuba, denunciou o que chamou de "falso pretexto" da luta antidrogas para justificar um desdobramento militar extraordinário no Caribe.

O ponto central da acusação foi o assalto a um navio petroleiro em águas internacionais por forças militares estadunidenses em 10 de dezembro. Gala descreveu o episódio como um "ato de pirataria e terrorismo marítimo", afirmando que a ação viola convenções internacionais do mar e integra uma campanha para impedir que a Venezuela comercialize livremente seus recursos naturais. Este evento é parte de uma crise mais ampla iniciada em 2025, quando os EUA aumentaram sua presença naval no Caribe sob a justificativa de combater o narcotráfico.

Contexto da Crise e a Posição dos Estados Unidos

A chamada "Operação Lanza del Sur" já resultou em dezenas de mortes e envolve um significativo poderio militar, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford. O governo do presidente Donald Trump designou vários cartéis de drogas como organizações terroristas, o que, segundo analistas, criou o arcabouço legal para a intervenção.

Em resposta às críticas na ONU, o embaixador dos Estados Unidos, Jeffrey Bartos, defendeu as ações de seu país e atacou os governos de Cuba e Venezuela. Ele afirmou que as dificuldades econômicas cubanas são resultado de suas próprias políticas e acusou o regime de Havana de "apoiar ativamente a guerra da Rússia na Ucrânia". Bartos instou Cuba a "abandonar suas lentes marxistas" e a libertar presos políticos.

O Apoio Incondicional de Cuba a Maduro e os Riscos para a Ilha

Para Cuba, a crise transcende a solidariedade ideológica. A sobrevivência do governo venezuelano é vista como um interesse nacional estratégico. Desde os anos 2000, a Venezuela substituiu a antiga União Soviética como principal suporte econômico e energético da ilha, fornecendo petróleo em troca de serviços como missões médicas. Especialistas consultados pelo jornal El País afirmam que "a sobrevivência do regime autocrático venezuelano é de suma importância para a sobrevivência das elites políticas cubanas.".

Esta dependência explica a mobilização total do aparato estatal cubano em apoio a Nicolás Maduro:

  • O Partido Comunista de Cuba emitiu uma declaração oficial condenando a "escalada de agressões do governo fascista dos Estados Unidos" e reafirmando seu apoio inquebrantável.
  • O chanceler Bruno Rodríguez utilizou suas redes sociais para atacar figuras estadunidenses como o secretário de Estado, Marco Rubio.
  • O governo organizou atos de massa e coletou milhões de assinaturas entre a população em apoio à Venezuela.

Analistas políticos cubanos observam uma "evidente inquietude" na chancelaria da ilha, preocupada com as consequências imprevisíveis de uma eventual queda do aliado estratégico.

O Bloqueio como Pano de Fundo e a Reação Internacional

A denúncia de Cuba na ONU ocorre em um contexto de pressão econômica crescente. Em outubro de 2025, a Assembleia Geral da ONU aprovou, por ampla maioria, uma resolução pedindo o fim do embargo estadunidense à ilha pelo 33º ano consecutivo. Cuba alega que o bloqueio, intensificado nos últimos anos, causa danos humanos e econômicos devastadores, com perdas acumuladas que superam os 170 bilhões de dólares.

A crise no Caribe também tem desdobramentos geopolíticos mais amplos:

  1. China: Condenou as interceptações de petroleiros como violações do direito internacional e vê a postura dos EUA como uma tentativa de afirmar "esferas de influência". Analistas sugerem que Pequim pode explorar a situação para avançar sua narrativa contra a hegemonia ocidental.
  2. Rússia: Junto com a China, criticou a campanha de pressão dos EUA em reunião do Conselho de Segurança.
  3. América Latina: Movimentos sociais e organizações regionais, como a CELAC, enfatizam a necessidade de unidade contra o que chamam de "Eixo de Dominação EUA/UE/OTAN" e defendem a região como uma "Zona de Paz".

O conflito diplomático e militar em curso coloca a América Latina no centro de uma disputa entre potências, reacendendo tensões históricas e ameaçando com uma instabilidade prolongada. A defesa intransigente de Cuba em relação a Venezuela evidencia que, para Havana, a batalha no Caribe é, em muitos aspectos, uma batalha pela sua própria sobrevivência política e econômica.

Com informações de: Prensa Latina, Cubaminrex, Black Agenda Report, Wikipedia, United Nations, El País, U.S. Mission to the United Nations, Facebook, Cubadebate, CNN ■