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Conselheiro eleitoral não valida resultados e denuncia “eleição mais suja da história” de Honduras
Marlon Ochoa, do partido no poder, exige contagem voto a voto e acusa EUA de interferência, enquanto país completa 21 dias sem presidente declarado
Central e Caribe
Foto: https://assets.brasildefato.com.br/2025/12/000_86RJ2K3.jpg
■   Bernardo Cahue, 20/12/2025

O processo eleitoral de Honduras mergulhou em uma crise profunda com um dos três conselheiros do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) se recusando publicamente a validar os resultados das eleições de 30 de novembro. Marlon Ochoa, representante do partido governista Liberdade e Refundação (Libre), classificou o pleito como a “eleição mais suja e menos transparente” da história do país e reiterou sua exigência por uma contagem voto por voto para aceitar qualquer resultado.

A posição de Ochoa acentua a instabilidade em Honduras, que completa 21 dias sem um presidente eleito oficialmente declarado. O escrutínio especial de milhares de urnas com inconsistências, considerado crucial para definir o vencedor, só começou em 18 de dezembro após reiterados atrasos.

O impasse técnico e a exigência do voto a voto

O cerne da controvérsia está na contestação sobre como contar os votos que apresentam problemas. O conselheiro Marlon Ochoa exige a abertura física das 19.167 urnas de nível presidencial para uma contagem manual integral. Ele baseia seu pedio em:

  • Inconsistências nas atas: Discrepâncias entre o número de eleitores e os votos consignados.
  • Falhas no sistema de transmissão (TREP): Quedas constantes que, segundo ele, abriram espaço para manipulação.
  • Padrões suspeitos: Alegações de que as falhas no sistema coincidiram com a tentativa de ingresso de atas de regiões onde seu adversário tinha vantagem.

No entanto, o próprio CNE declarou que a legislação atual não permite um reconto voto a voto de forma generalizada sem uma causa justificada, argumentando que tal medida "desnaturaria o sistema de escrutínio". Em vez disso, o órgão optou por um "escrutínio especial" focado em 2.792 atas com inconsistências, que representam cerca de 500 mil votos em jogo.

Um resultado incrivelmente apertado

Os resultados preliminares, com mais de 99,8% das atas processadas, mostram uma disputa extremamente acirrada que justifica a minuciosidade do processo:

  • Nasry “Tito” Asfura (Partido Nacional): 40,24% dos votos (1.341.766 votos).
  • Salvador Nasralla (Partido Liberal): 39,64% dos votos (1.321.763 votos).
  • Diferença: Apenas 20.003 votos separam os dois candidatos.

Esta margem estreita significa que os cerca de 500 mil votos sob revisão no escrutínio especial são mais do que suficientes para alterar o resultado final. O candidato Nasralla já pediu que a revisão seja ampliada para outras 8.845 urnas, alegando que os números atuais não refletem a vontade do povo.

A sombra da interferência internacional

A crise eleitoral é agravada por acusações de ingerência estrangeira, principalmente dos Estados Unidos. O conselheiro Ochoa denunciou explicitamente uma intervenção e tutela norte-americana sobre o processo. Os fatos que alimentam essas acusações incluem:

  1. O apoio público do ex-presidente Donald Trump ao candidato Asfura antes das eleições, inclusive com a promessa de ajuda condicional.
  2. O indulto concedido por Trump ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, do mesmo partido de Asfura, condenado por narcotráfico nos EUA, dois dias antes da votação.
  3. Ações recentes do governo dos EUA, que revogou o visto de um magistrado eleitoral e negou o visto ao próprio conselheiro Marlon Ochoa, acusando-os de obstruir a apuração.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que as vozes dos 3,4 milhões de hondurenhos "devem ser respeitadas" e que seu governo não tolerará ações que desestabilizem a região.

Protestos, investigações e um país em suspenso

Enquanto o CNE tenta concluir a contagem, o clima no país permanece tenso:

  • Protestos: Simpatizantes do partido Libre e de Nasralla têm se mobilizado, bloqueando estradas e se concentrando em frente ao armazém onde o material eleitoral está guardado.
  • Investigação do Ministério Público: A Procuradoria já abriu investigações sobre o funcionamento do sistema biométrico, as falhas na transmissão de resultados e a disseminação de mensagens de texto coativas durante a eleição.
  • Chamado por moderação: A Missão de Observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) exortou todos os atores a evitar confrontos e a participar do processo de escrutínio pelas vias institucionais.

O que esperar dos próximos dias

A data limite para o CNE declarar um vencedor é 30 de dezembro. Analistas preveem que, independentemente do resultado, o próximo presidente assumirá o cargo com um sério déficit de legitimidade em meio a um profundo vácuo de governabilidade. A possibilidade de o conselheiro Ochoa e seu partido se recusarem a reconhecer a declaração final coloca o país em um território político desconhecido e perigoso, onde a solução pode depender mais da pressão de atores internacionais e das Forças Armadas do que de um consenso nacional.

Com informações de: CNN Español, Prensa Latina, BBC News Mundo, La Silla Rota, WRAL, Hondudiario, Infobae, Deutsche Welle■