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Conservador Nasry Asfura lidera apuração presidencial em Honduras após intervenção direta de Trump
Candidata de situação do governo, Rixi Moncada denuncia estratégias de manipulação das urnas, incluindo suposto hackeamento do sistema eleitoral em favor de candidato perdoado de condenação por tráfico de drogas pelos EUA
Central e Caribe
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT55MfZWllQaEwTVc8u2f9BtxfGTsj8ZSlx3g&s
■   Bernardo Cahue, 01/12/2025

A apuração parcial dos votos das eleições presidenciais em Honduras, realizadas no domingo (30), coloca o candidato conservador Nasry "Tito" Asfura na dianteira de uma disputa acirrada, marcada por uma interferência sem precedentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que incluiu apoio público e ameaças de corte de ajuda financeira.

Com cerca de 40% dos votos apurados, Asfura, do Partido Nacional, obtém aproximadamente 41% dos votos. Logo atrás, com cerca de 39%, está outro candidato de direita, o apresentador de televisão Salvador Nasralla, do Partido Liberal. A candidata governista de esquerda, Rixi Moncada, do partido LIBRE, aparece em terceiro, com cerca de 20% dos sufrágios. Como o sistema eleitoral hondurenho não prevê segundo turno, o candidato com a maioria simples dos votos será declarado vencedor.

Os protagonistas de uma disputa triangular

A eleição, que também define os 128 membros do Congresso e centenas de cargos municipais, apresentou um cenário de triplo empate nas pesquisas, condensando as tensões políticas de um país com histórico de golpes e instabilidade.

  • Nasry "Tito" Asfura (Partido Nacional): Ex-prefeito de Tegucigalpa, de 67 anos, é filho de imigrantes palestinos e concorre pela segunda vez à presidência. Sua campanha se apresenta como pragmática, focada em infraestrutura, mas ele carrega o estigma da corrupção associada ao seu partido, incluindo a condenação do ex-presidente Juan Orlando Hernández, e já foi acusado de desvio de fundos. Recebeu apoio formal de Donald Trump e do presidente argentino Javier Milei.
  • Salvador Nasralla (Partido Liberal): Popular apresentador de TV e esportivo de 72 anos, está em sua quarta tentativa presidencial. Se apresenta como um outsider anticorrupção e admira as políticas de segurança de Nayib Bukele (El Salvador) e a gestão econômica de Javier Milei (Argentina), prometendo replicá-las. Suas propostas incluem grandes projetos de infraestrutura e o fortalecimento da produção agrícola.
  • Rixi Moncada (Partido LIBRE): Advogada de 60 anos e ex-ministra nos governos de Manuel Zelaya e Xiomara Castro, representa a continuidade do projeto de esquerda no poder. Defende a "democratização" da economia com uma reforma tributária progressiva, mas também foi alvo de acusações de corrupção e nepotismo.

A intervenção de Trump: apoio, ameaças e um polêmico perdão

A campanha foi dramaticamente impactada por ações diretas de Donald Trump nos dias que antecederam o pleito. O presidente americano não apenas declarou apoio público a Asfura, chamando-o de "o único verdadeiro amigo da liberdade", como também emitiu ameaças explícitas.

Trump afirmou que, se Asfura perdesse, os Estados Unidos "não vão desperdiçar dinheiro" em Honduras, sugerindo o corte de ajuda financeira ao país. Além disso, de forma chocante, anunciou que concederia perdão ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, condenado em 2024 a 45 anos de prisão nos EUA por tráfico de drogas. Trump justificou a decisão alegando que Hernández foi vítima de uma "armadilha" política. A candidata Rixi Moncada denunciou essas ações como "atos de ingerência" intervencionistas.

Um pleito sob a sombra da desconfiança e tensão institucional

O processo eleitoral foi realizado em um clima de extrema desconfiança, com todos os candidatos lançando acusações mútuas de fraude antes mesmo da votação. A tensão foi amplificada por dois fatores institucionais preocupantes:

  1. Fragilidade do Sistema Eleitoral: Na semana anterior à eleição, autoridades eleitorais relataram irregularidades em um teste do sistema de apuração preliminar. Rixi Moncada chegou a declarar que não reconheceria os resultados eletrônicos iniciais, aguardando apenas a contagem física das cédulas. A missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) expressou preocupação com ações que "geram incerteza e desestabilizam o processo".
  2. Papel das Forças Armadas: Os militares, que executaram o golpe de Estado de 2009, solicitaram ao Conselho Nacional Eleitoral acesso às atas de votação para verificar a contagem—um pedido rejeitado por violar a Constituição, mas que gerou temores de intromissão. Analistas apontam que a presidente Castro, apesar de prometer reduzir a influência militar, declarou estado de emergência em 2022 e dependeu das Forças Armadas para segurança, reforçando seu papel político.

Os desafios ignorados: pobreza, violência e uma economia frágil

Em meio aos ataques pessoais e à geopolítica, as urgentes questões nacionais ficaram em segundo plano. Honduras permanece um dos países mais desiguais da América Latina, com cerca de 60% de sua população vivendo na pobreza e uma economia dependente de remessas de emigrantes e da agricultura.

Apesar de a presidente Xiomara Castro ter conseguido reduzir a pobreza e a desigualdade, recebendo elogios do FMI por sua gestão fiscal, a economia informal atinge cerca de 70% da força de trabalho. Na segurança, mesmo com a taxa de homicídios em seu menor nível em 30 anos, Honduras ainda possui a mais alta da América Central, e a violência das gangues permanece um flagelo.

O próximo governante herdará ainda um delicado xadrez diplomático. Tanto Asfura quanto Nasralla sinalizaram a intenção de restabelecer relações com Taiwan, revertendo a decisão de Castro de se aproximar da China em 2023—uma medida que seria um revés significativo para Pequim na região.

Enquanto a apuração total pode levar dias, o país aguarda o resultado final sob o risco de contestação e impasse. O subsecretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, já advertiu que Washington responderá "com firmeza" a qualquer tentativa de minar a integridade do processo. O pleito em Honduras demonstra, mais uma vez, como as frágeis democracias da América Central se tornam arenas de disputas de poder tanto internas quanto externas.

Com informações de G1, Euronews, Agência Brasil, DW, UOL, CNN Brasil, Público e Revista Salto ■