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Em um movimento que sinaliza uma das maiores mudanças estratégicas na história da televisão aberta brasileira, a TV Globo vem adotando, de forma progressiva e calculada, uma aproximação com o público evangélico. Esta guinada acontece em um cenário de transformações profundas: perda de audiência tradicional para plataformas de streaming, fortalecimento da TV Record (de propriedade da Igreja Universal) e a constatação de que os evangélicos formam um público massivo, fiel e economicamente potente. Anos depois de rechaçar a venda de parte da Record para o Bispo Macedo, a Globo agora retransmite especiais gospel e ajusta sua dramaturgia, em uma revisão pragmática de seus valores e de seu lugar no mercado.
A estratégia da Globo é multifacetada e vai além das transmissões eventuais. Ela se materializa em:
Não se trata apenas de fé, mas de um formidável poderio econômico e cultural. A indústria gospel movimenta uma vasta rede que inclui:
Ignorar este segmento significaria, para a Globo, abrir mão de uma fatia enorme e crescente da população brasileira e de seu poder de consumo.
Uma análise crítica da grade de programação atual, contudo, revela que a abordagem ainda é cautelosa. Na TV aberta, o conteúdo gospel de grande porte ainda ocupa majoritariamente horários alternativos ou canais por assinatura (como o Multishow). Na grade da TV Globo, é possível encontrar a "Santa Missa" no início da manhã de domingo, um conteúdo católico tradicional, mas os grandes festivais gospel ainda não conquistaram um espaço fixo em horário nobre ou mesmo no domingo à tarde.
Isso indica uma estratégia em dois tempos:
A guinada gospel da Globo levanta questões profundas sobre a televisão brasileira:
1. Reconfiguração do Campo Midíático: A histórica rivalidade com a Record agora se dá em um novo patamar. A Globo não está apenas competindo por pontos de audiência, mas tentando cooptar a base cultural e religiosa de seu principal concorrente. É uma batalha por identidade e relevância.
2. O Dilema da Autenticidade: Até que ponto a abordagem da Globo é vista como legítima por seu novo público-alvo? O risco de ser percebida como oportunista é real. A construção de uma relação de confiança com líderes religiosos e artistas do meio será crucial, mas lenta.
3. O Futuro da TV Aberta: Este movimento é um sintoma claro de que a TV generalista, tal como conhecida, precisa se fragmentar para sobreviver. A busca por nichos específicos e altamente engajados (como o evangélico, mas também outros) parece ser o caminho inevitável em um mundo pós-streaming.
Em última análise, a estratégia da Globo é um reflexo do Brasil atual. Mais do que uma simples manobra por audiência, é o reconhecimento, tardio e pragmático, de uma potência cultural, econômica e social que a emissora, por décadas, tratou com distância ou estereótipo. O sucesso ou fracasso desta "conversão midiática" dirá muito sobre quem ditará as regras do entretenimento e da influência no país nos próximos anos.
Com informações de: Pipoca Moderna, G1 - Jornal Nacional, G1 - São Paulo ■