Siga nossas redes sociais | ![]() | Siga nossos canais |
Em um sábado qualquer que não era qualquer sábado, o ex-Presidente Jair Bolsonaro trocou o verde e amarelo pelo laranja discreto de uma sala de Estado na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. A cena, capturada por trás de um vidro, tinha a atmosfera surreal de um reality show cancelado por baixa audiência: lá estava ele, cumprindo prisão preventiva, enquanto do lado de fora o Brasil seguia seu ritmo, com ou sem caos.
A determinação partiu do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que, ao que tudo indica, acordou e decidiu que era dia de dar um chega pra lá no bordão "um cabo e um soldado". A ironia, é claro, não passou despercebida. Enquanto o plano golpista supostamente articulado pelo ex-mandatário contava com a força simbólica de um cabo e um soldado, a lei apareceu com um mandado de prisão e uma viatura. A conta, definitivamente, não fechou.
Segundo a nota oficial da Polícia Federal, a prisão era de caráter preventivo, um eufemismo jurídico para "você fica aqui enquanto a gente desenrola esse novelo". A medida não marcava o início do cumprimento da pena de 27 anos e 3 meses, mas serviu como um prólogo dramático – e para alguns, tardio – de um processo que tem como pano de fundo a tentativa de golpe de Estado para se manter no poder.
O que mais chamou a atenção, contudo, não foi a privação de liberdade, mas as condições em que ela se deu. Bolsonaro não foi levado para uma cela comum. A acomodação escolhida foi uma sala de Estado, o mesmo tipo de espaço já utilizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ex-presidente Michel Temer em seus respectivos períodos de detenção. A justiça, parece, tem seu próprio critério para o tratamento de ex-chefes de Estado, mesmo aqueles acusados de tentar subvertê-la.
As imagens do local, compartilhadas por investigadores, mostravam um quarto que mais lembrava uma suíte de hotel do que uma prisão convencional. Mobiliário incluía:
Naquele domingo, a ex-primeira-dama Michelle foi vista visitando o marido. Enquanto isso, nas redes sociais, a direita radical chorava e a esquerda comemorava, em mais um dia de polarização padrão no Brasil. O "cabo e o soldado" imaginários do bolsonarismo não apareceram para resgatá-lo. Apenas a lei, lenta e ruidosa, mas ainda assim presente, fez sua parte.
Para entender o presente, é preciso voltar ao passado recente. Os eventos do 8 de Janeiro de 2023, quando hordas de bolsonaristas invadiram e depredaram a Praça dos Três Poderes, pairaram como um fantasma sobre esta prisão. Na época, o presidente Lula já havia dito, com sua convicção característica, que estava "convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse porque não tem porta quebrada".
Dois anos depois, em Janeiro de 2025, Lula participou de uma série de atividades no Planalto para relembrar os ataques, incluindo a reintegração de obras de arte danificadas e um simbólico "abraço da democracia". Era a democracia se reafirmando, mostrando que, por mais abalada que estivesse, ainda podia dar a volta por cima. E, ocasionalmente, prender seus algozes.
A prisão de Bolsonaro não é um episódio isolado. Ela é o capítulo mais recente de um romance político que mistura tragédia, farsa e, agora, comédia de costumes. O homem que prometia acabar com a farra dos grandes homens descobriu, tarde demais, que a festa acabou – e para ele, o custo do ingresso foi especialmente salgado.
Enquanto isso, nas ruas, a vida segue. O Brasil, esse país tropical e abençoado por Deus, mostra mais uma vez sua capacidade única de transformar drama institucional em espetáculo popular. E, pelo menos por enquanto, o "cabo e o soldado" seguem sendo apenas isso: uma figura de retórica, inofensiva e vazia, como um grito de guerra sem eco.
Com informações de R7, Veja, G1, CartaCapital, Agência Brasil ■