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As declarações bombásticas de Jordan Goudreau, o ex-"boina verde" que liderou a fracassada invasão mercenária à Venezuela em 2020, lançam uma sombra de profunda suspeita sobre os reais motivos da escalada militar do governo Trump contra Caracas. Em recentes entrevistas, Goudreau não apenas nega a existência do "Cartel de los Soles" – estrutura usada para justificar sanções e ações militares – como afirma que ela foi uma criação da Agência Central de Inteligência (CIA) décadas atrás. No centro de suas alegações está a acusação de que os serviços de inteligência dos EUA estão, na verdade, por trás do narcotráfico na região, utilizando-o como ferramenta de política externa. Esta análise investiga essas denúncias à luz do histórico do mercenário, do contexto geopolítico atual e do histórico de envolvimento dos EUA com o tráfico de drogas.
Jordan Goudreau é uma figura central e controversa. Veterano condecorado das Forças Especiais do Exército dos EUA (os "Green Berets"), ele fundou a empresa de segurança privada Silvercorp USA. Em maio de 2020, ele organizou e liderou a "Operação Gedeón", uma incursão armada por mar com mercenários que tentou invadir a Venezuela para capturar o presidente Nicolás Maduro. A operação foi um fiasco completo, terminando com vários participantes mortos e dois ex-colegas de Goudreau presos na Venezuela. O episódio ficou conhecido de forma pejorativa como a "Bahía de los Cochinitos" (em referência ao desastre da Baía dos Porcos em Cuba).
Atualmente, Goudreau é um fugitivo da justiça americana. Em outubro de 2025, um juiz federal em Tampa emitiu uma ordem de prisão contra ele após não comparecer a uma audiência sobre violação das condições de sua liberdade condicional. Ele enfrenta acusações federais graves por contrabando de armas, relacionadas à tentativa de exportar ilegalmente cerca de 60 rifles AR-15, dispositivos de visão noturna e outros equipamentos para a Colômbia, com destino final na Venezuela. Se condenado, pode enfrentar até 20 anos de prisão. Sua credibilidade é, portanto, severamente questionada por seu envolvimento direto em atividades criminosas e por seu evidente interesse em minimizar sua própria culpa e atacar agências dos EUA.
Em entrevistas a meios como The Grayzone e a rede estatal russa RT, Goudreau fez uma série de alegações chocantes que desmontam a narrativa oficial dos EUA sobre a Venezuela.
As alegações de Goudreau ganham um contexto alarmante quando comparadas com as ações recentes do governo Trump. Goudreau insiste que sua missão em 2020 teve um "sinal de aprovação informal" da primeira administração Trump, embora o governo americano tenha negado publicamente qualquer envolvimento. Ele acusa agências como a CIA e o Departamento de Estado de terem "sabotado" sua operação.
Hoje, a retórica e as ações de Trump parecem dar um caráter oficial às táticas que Goudreau alega terem sido usadas de forma encoberta. O presidente autorizou a CIA a realizar operações secretas dentro da Venezuela e declarou abertamente que está considerando ataques militares em solo venezuelano, especificamente contra "instalações de cocaína" e rotas de tráfico de drogas. Esses planos são avançados apesar de organismos como o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) afirmarem que a Venezuela não é um país produtor de cocaína, e do último relatório anual da DEA não mencionar o país entre as principais rotas do narcótico.
Para analistas, isso revela um padrão. "Ao desmontar a narrativa do Cartel de los Soles, as declarações de Goudreau expõem uma estratégia sistemática de Washington: fabricar acusações de narcotráfico contra governos não alinhados como ferramenta de guerra psicológica e diplomática", escreveu o analista Nicolás Romero Reeves, comparando a tática com as falsas alegações de armas de destruição em massa usadas para invadir o Iraque em 2003.
As alegações de Goudreau, ainda que vindas de uma fonte duvidosa, ecoam escândalos históricos comprovados de envolvimento de agências dos EUA com o narcotráfico para fins geopolíticos.
Goudreau explicitamente conecta a situação atual a esse histórico, argumentando que o governo dos EUA, "independentemente da administração, busca proteger os recursos que obtém por meio do tráfico de drogas". Ele vê a pressão sobre a Venezuela como parte de uma "Doctrina Monroe" atualizada para conter a influência da Rússia e da China na região.
As declarações de Jordan Goudreau apresentam um profundo dilema. Por um lado, sua credibilidade é praticamente nula: ele é um mercenário condenado por crimes graves, em fuga da justiça e com claras motivações para atacar as agências que o perseguem. Sua narrativa é avidamente promovida por veículos de propaganda russa (como a RT) e meios alinhados com governos antiamericanos.
Por outro lado, sua história se encaixa em um padrão histórico perturbador e verificável de conduta dos serviços de inteligência dos EUA. Além disso, ela oferece uma lógica sinistramente coerente para explicar a insistência da administração Trump em uma narrativa de narcotráfico que não se sustenta em evidências de organismos internacionais, ao mesmo tempo em que mobiliza um poderio militar desproporcional e autoriza operações secretas.
Se as alegações de Goudreau são literalmente verdadeiras ou não, pode ser menos importante do que o efeito que produzem: elas expõem a profunda hipocrisia e as agendas ocultas que podem estar por trás da "guerra às drogas" levada a cabo por potências globais. No mínimo, elas servem como um forte alerta sobre os perigos de aceitar narrativas oficiais sem escrutínio, especialmente quando servem para justificar marchas em direção a conflitos armados. Como resumiu o analista Yves Engler, citado na Revista De Frente, "Estados Unidos no combate las drogas, las administra como instrumento de poder". No turbilhão geopolítico em torno da Venezuela, a linha entre combater o narcotráfico e administrá-lo para fins de poder parece estar perigosamente tênue.
Com informações de: Los Angeles Times, CBS News, Univision, CNN, The Week, U.S. News & World Report, U.S. Department of Justice, Revista De Frente, TeleSUR, Latin Times ■