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Atentado em área desértica da Síria deixa três americanos mortos
Primeiro ataque fatal a tropas dos EUA no país desde 2019 ocorre durante patrulha conjunta com forças sírias e acende alerta sobre infiltração do Estado Islâmico
Oriente-Medio
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS1hrcE68Wd9JDpTpvUaxSCFJPncGoY1xG15Q&s
■   Bernardo Cahue, 14/12/2025

Um ataque a tiros neste sábado (13) na região central da Síria matou dois militares e um civil norte-americanos e deixou outros três soldados dos EUA feridos. O Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM) classificou o episódio como uma "emboscada de um francoatirador" do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) e confirmou que o atacante foi "confrontado e morto" após a ação. O ataque, que aconteceu na área de Palmira, marca o primeiro ataque fatal a tropas americanas na Síria desde 2019 e o primeiro desde a queda do regime de Bashar al-Assad há um ano.

Detalhes do ataque e investigação em andamento

O incidente ocorreu durante uma patrulha conjunta entre forças americanas e sírias na província de Homs. Segundo o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, os soldados estavam realizando uma "reunião de engajamento com um líder-chave" em apoio às operações de contraterrorismo em curso na região. Além dos três americanos mortos e dos três feridos, pelo menos dois militares sírios também ficaram feridos. Helicópteros dos EUA evacuaram os feridos para a base de al-Tanf, perto da fronteira com o Iraque e a Jordânia.

A identidade das vítimas americanas não será divulgada até que suas famílias sejam notificadas, um processo que deve levar 24 horas. A investigação sobre o ataque segue em andamento. Embora nenhum grupo tenha reivindicado a autoria imediatamente, a avaliação inicial das autoridades dos EUA aponta que o Estado Islâmico "provavelmente" está por trás do ataque.

O atirador: membro das forças sírias ou infiltrado?

Um dos aspectos mais sensíveis do caso é a identidade e afiliação do atirador. Enquanto o CENTCOM atribui o ataque a um militante do EI, fontes locais e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede no Reino Unido, afirmam que o agressor era um membro das forças de segurança sírias. Um porta-voz do Ministério do Interior da Síria, Noureddine el-Baba, tentou esclarecer a situação em entrevista à televisão estatal:

  • El-Baba confirmou que o indivíduo não ocupava um cargo de liderança nas forças de segurança internas.
  • Ele afirmou que o homem não fazia parte da comitiva que acompanhava a patrulha conjunta.
  • O porta-voz revelou que, em 10 de dezembro, uma avaliação interna indicou que o suspeito "podia ter ideias extremistas" e que uma decisão sobre seu caso estava prevista para o domingo (14), dia seguinte ao ataque.

Contexto geopolítico e alertas desconsiderados

O ataque expõe as tensões e os riscos da nova cooperação entre Washington e Damasco. Há pouco mais de um mês, o presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, visitou a Casa Branca e a Síria aderiu à coalizão internacional antijihadista liderada pelos EUA. No entanto, autoridades sírias já declararam que haviam emitido alertas prévios sobre uma possível incursão do EI na região desértica (Badia), os quais, segundo elas, não foram levados em consideração pelas forças da coalizão.

Palmira, um sítio histórico, foi controlada pelo Estado Islâmico em 2015, antes de ser retomada por uma coalizão internacional em 2019. Apesar de ter perdido seu "califado" territorial, o grupo mantém entre 5.000 e 7.000 combatentes na Síria e no Iraque, segundo a ONU, e realiza ataques esporádicos a partir do vasto deserto sírio. Os Estados Unidos mantêm aproximadamente 2.000 soldados no nordeste do país como parte de uma missão antiterror que já dura uma década.

Reações e promessa de retaliação

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu ao ataque em uma publicação em sua rede social, prometendo uma resposta forte.

  • Trump: "Lamentamos a perda de três grandes patriotas americanos na Síria... Este foi um ataque do Estado Islâmico contra os EUA e a Síria, em uma região muito perigosa do país... Haverá uma retaliação muito séria".
  • Pete Hegseth (Secretário de Defesa dos EUA): "Que fique claro: se você tem americanos como alvo — em qualquer lugar do mundo —, passará o resto de sua vida breve e ansiosa sabendo que os Estados Unidos vão persegui-lo, encontrá-lo e matá-lo sem piedade".
  • Tom Barrack (Embaixador dos EUA na Turquia): Condenou a "emboscada terrorista covarde" e reiterou o compromisso de derrotar o terrorismo com os parceiros sírios.

O ataque também gerou debate sobre a presença militar contínua dos EUA na Síria. Especialistas do think tank Defense Priorities argumentaram, em comunicado, que a morte é um "trágico lembrete" dos riscos de desdobramentos militares no exterior e defenderam a retirada das tropas, já que o EI não representa mais uma ameaça ao território americano.

Com informações de: G1, Al Jazeera, BBC, CNN Brasil, Long War Journal, Revista Oeste, NBC News, Público, The Washington Post ■