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A Turquia emitiu avisos formais à Ucrânia e à Rússia após uma sequência de ataques a navios no Mar Negro, incluindo três petroleiros vinculados a Moscou em poucos dias. As autoridades turcas classificaram os incidentes como uma grave ameaça à segurança da navegação e ao meio ambiente em sua zona econômica exclusiva.
Os ataques representam uma perigosa expansão do conflito para uma área marítima crítica, forçando Ancara a um delicado equilíbrio diplomático. A Turquia, membro da OTAN, mantém relações estreitas com ambos os países em guerra e controla o acesso ao Mar Negro através dos estratégicos estreitos de Bósforo e Dardanelos.
A onda de incidentes começou na sexta-feira, 28 de novembro, quando dois petroleiros associados à chamada "frota fantasma" russa sofreram ataques:
Um terceiro ataque foi registrado na terça-feira, 2 de dezembro, contra o petroleiro MIDVOLGA-2, de bandeira russa. O navio, que transportava óleo de girassol da Rússia para a Geórgia, foi atacado a aproximadamente 130 km da costa turca. Os 13 tripulantes não ficaram feridos e a embarcação seguiu por seus próprios meios para o porto turco de Sinop.
Fontes dos serviços de segurança ucranianos (SBU) reivindicaram a responsabilidade pelos ataques aos navios Kairos e Virat, descrevendo-os como operações conjuntas da Marinha e do SBU utilizando drones navais do modelo 'Sea Baby'. O objetivo declarado é "reduzir a capacidade financeira da Rússia para travar a guerra".
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi direto em sua condenação: "Não podemos tolerar estes ataques, que ameaçam a segurança da navegação, a vida e o meio ambiente, especialmente na nossa própria zona económica exclusiva". Ele classificou os ataques como uma "escalada preocupante" do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Além das declarações públicas, a Turquia transmitiu suas preocupações diretamente a ambas as partes envolvidas. Um porta-voz do governo turco afirmou que "estamos a emitir os avisos necessários a todas as partes" sobre os riscos representados por esses incidentes.
Este posicionamento reflete o dilema estratégico complexo que Ancara enfrenta. A Turquia:
As preocupações turcas vão além da segurança marítima imediata. O ministro da Energia turco alertou publicamente para os riscos aos gasodutos submarinos Blue Stream e Turk Stream, que transportam gás natural russo para a Turquia através do Mar Negro.
"Apelamos a todas as partes para que mantenham a infraestrutura energética fora desta guerra, porque faz parte da vida quotidiana das pessoas", declarou o ministro, lembrando a sabotagem do gasoduto Nord Stream em 2022 como um precedente perigoso.
A dependência energética turca da Rússia é significativa: quase metade das necessidades totais de energia do país são suprimidas por petróleo e gás russos. Esta realidade condiciona profundamente a política externa de Ancara, mesmo sob pressão de aliados ocidentais para reduzir esta dependência.
A Turquia buscou consistentemente posicionar-se como mediadora potencial no conflito. Ancara já acolheu conversações de baixo nível entre ucranianos e russos e facilitou trocas de prisioneiros. O incidente atual testa esta posição diplomática.
Um elemento central do poder de negociação turco é seu controle sobre os Estreitos de Bósforo e Dardanelos. A Convenção de Montreux concede à Turquia a autoridade para regular a passagem de navios de guerra durante períodos de conflito.
Em fevereiro de 2022, a Turquia aplicou esta convenção, recusando a passagem de quatro navios de guerra russos que não estavam registrados em bases no Mar Negro. No entanto, o ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, esclareceu que o pacto também permite que navios de guerra retornem à sua base de origem, limitando as opções de Ancara para um bloqueio completo.
O governo turco indicou que está estudando juridicamente se o atual conflito se enquadra formalmente como "guerra" nos termos da Convenção, o que determinaria o alcance de suas ações.
Os ataques recentes aumentaram os temores sobre catástrofes ambientais no Mar Negro. As autoridades marítimas turcas destacaram o perigo de derramamento de óleo ou combustível, que poderia causar danos ecológicos duradouros em uma bacia marítima já sensível.
O tráfego comercial através da região também enfrenta interrupções. Os estreitos turcos são uma via crucial para o comércio global de grãos e energia. Incidentes de segurança repetidos podem forçar as companhias de navegação a reconsiderar rotas, aumentando custos e perturbações na cadeia de abastecimento.
Com os ataques a navios continuando e a Ucrânia anunciando sua intenção de direcionar a "frota fantasma" russa, a pressão sobre a Turquia para estabilizar a situação só tende a aumentar. A capacidade de Ancara de equilibrar seus diversos interesses e obrigações será testada como talvez nunca antes neste conflito de quase quatro anos.
Com informações de: es.euronews.com, cnnbrasil.com.br, pt.euronews.com, dw.com, indeksonline.net, rtp.pt, jornaldenegocios.pt, cnnespanol.cnn.com, oglobo.globo.com ■