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Turquia alerta Ucrânia e Rússia após série de ataques a navios no Mar Negro
Presidente Erdogan denuncia "escalada preocupante" após três petroleiros serem alvos de ataques em águas próximas à costa turca, elevando tensões em uma rota marítima estratégica
Oriente-Medio
Foto: https://admin.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2025/11/Video-divulgado-pela-Ucrania-supostamente-mostra-o-momento-em-que-ataques-atingiram-a-frota-fantasma-da-Russia.jpg?w=960
■   Bernardo Cahue, 06/12/2025

A Turquia emitiu avisos formais à Ucrânia e à Rússia após uma sequência de ataques a navios no Mar Negro, incluindo três petroleiros vinculados a Moscou em poucos dias. As autoridades turcas classificaram os incidentes como uma grave ameaça à segurança da navegação e ao meio ambiente em sua zona econômica exclusiva.

Os ataques representam uma perigosa expansão do conflito para uma área marítima crítica, forçando Ancara a um delicado equilíbrio diplomático. A Turquia, membro da OTAN, mantém relações estreitas com ambos os países em guerra e controla o acesso ao Mar Negro através dos estratégicos estreitos de Bósforo e Dardanelos.

Sequência de ataques a navios-tanque

A onda de incidentes começou na sexta-feira, 28 de novembro, quando dois petroleiros associados à chamada "frota fantasma" russa sofreram ataques:

  • Petroleiro Kairos: Navio de bandeira de Gâmbia foi atingido por uma explosão a cerca de 50 km da costa turca. Os 25 tripulantes foram evacuados com segurança após um incêndio a bordo.
  • Petroleiro Virat: Também com bandeira de Gâmbia, foi atacado em uma área próxima. As autoridades turcas relataram danos acima da linha de flotação, mas sem feridos entre os 20 membros da tripulação.

Um terceiro ataque foi registrado na terça-feira, 2 de dezembro, contra o petroleiro MIDVOLGA-2, de bandeira russa. O navio, que transportava óleo de girassol da Rússia para a Geórgia, foi atacado a aproximadamente 130 km da costa turca. Os 13 tripulantes não ficaram feridos e a embarcação seguiu por seus próprios meios para o porto turco de Sinop.

Fontes dos serviços de segurança ucranianos (SBU) reivindicaram a responsabilidade pelos ataques aos navios Kairos e Virat, descrevendo-os como operações conjuntas da Marinha e do SBU utilizando drones navais do modelo 'Sea Baby'. O objetivo declarado é "reduzir a capacidade financeira da Rússia para travar a guerra".

Posicionamento diplomático e alertas da Turquia

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi direto em sua condenação: "Não podemos tolerar estes ataques, que ameaçam a segurança da navegação, a vida e o meio ambiente, especialmente na nossa própria zona económica exclusiva". Ele classificou os ataques como uma "escalada preocupante" do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Além das declarações públicas, a Turquia transmitiu suas preocupações diretamente a ambas as partes envolvidas. Um porta-voz do governo turco afirmou que "estamos a emitir os avisos necessários a todas as partes" sobre os riscos representados por esses incidentes.

Este posicionamento reflete o dilema estratégico complexo que Ancara enfrenta. A Turquia:

  1. É um membro crucial da OTAN e apoia a integridade territorial da Ucrânia.
  2. Mantém relações económicas e energéticas profundas com a Rússia.
  3. Exerce controle soberano sobre os estreitos que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo, regulado pela Convenção de Montreux de 1936.

Interesses vitais e preocupações energéticas

As preocupações turcas vão além da segurança marítima imediata. O ministro da Energia turco alertou publicamente para os riscos aos gasodutos submarinos Blue Stream e Turk Stream, que transportam gás natural russo para a Turquia através do Mar Negro.

"Apelamos a todas as partes para que mantenham a infraestrutura energética fora desta guerra, porque faz parte da vida quotidiana das pessoas", declarou o ministro, lembrando a sabotagem do gasoduto Nord Stream em 2022 como um precedente perigoso.

A dependência energética turca da Rússia é significativa: quase metade das necessidades totais de energia do país são suprimidas por petróleo e gás russos. Esta realidade condiciona profundamente a política externa de Ancara, mesmo sob pressão de aliados ocidentais para reduzir esta dependência.

O papel de mediador e o controle dos estreitos

A Turquia buscou consistentemente posicionar-se como mediadora potencial no conflito. Ancara já acolheu conversações de baixo nível entre ucranianos e russos e facilitou trocas de prisioneiros. O incidente atual testa esta posição diplomática.

Um elemento central do poder de negociação turco é seu controle sobre os Estreitos de Bósforo e Dardanelos. A Convenção de Montreux concede à Turquia a autoridade para regular a passagem de navios de guerra durante períodos de conflito.

Em fevereiro de 2022, a Turquia aplicou esta convenção, recusando a passagem de quatro navios de guerra russos que não estavam registrados em bases no Mar Negro. No entanto, o ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, esclareceu que o pacto também permite que navios de guerra retornem à sua base de origem, limitando as opções de Ancara para um bloqueio completo.

O governo turco indicou que está estudando juridicamente se o atual conflito se enquadra formalmente como "guerra" nos termos da Convenção, o que determinaria o alcance de suas ações.

Riscos regionais e ambientais

Os ataques recentes aumentaram os temores sobre catástrofes ambientais no Mar Negro. As autoridades marítimas turcas destacaram o perigo de derramamento de óleo ou combustível, que poderia causar danos ecológicos duradouros em uma bacia marítima já sensível.

O tráfego comercial através da região também enfrenta interrupções. Os estreitos turcos são uma via crucial para o comércio global de grãos e energia. Incidentes de segurança repetidos podem forçar as companhias de navegação a reconsiderar rotas, aumentando custos e perturbações na cadeia de abastecimento.

Com os ataques a navios continuando e a Ucrânia anunciando sua intenção de direcionar a "frota fantasma" russa, a pressão sobre a Turquia para estabilizar a situação só tende a aumentar. A capacidade de Ancara de equilibrar seus diversos interesses e obrigações será testada como talvez nunca antes neste conflito de quase quatro anos.

Com informações de: es.euronews.com, cnnbrasil.com.br, pt.euronews.com, dw.com, indeksonline.net, rtp.pt, jornaldenegocios.pt, cnnespanol.cnn.com, oglobo.globo.com ■