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O período natalino, tradicionalmente associado à trégua e à reflexão, tem se revelado um palco adicional para a geopolítica. Líderes de diferentes orientações exploram a simbologia da data para projetar valores, reforçar narrativas de poder e, em alguns casos, enviar mensagens estratégicas a adversários. Especialistas apontam que, com a atenção da opinião pública mais voltada para as celebrações, o Natal se torna um momento oportuno tanto para gestos de conciliação quanto para a consolidação de posições políticas.
De Washington a Caracas, de Brasília a Moscou e Buenos Aires, as saudações de fim de ano neste ciclo refletem conflitos em andamento, polarizações internas e batalhas culturais, mostrando como o "espírito natalino" é, também, interpretado e instrumentalizado no cenário internacional. A inclusão das mensagens do Canadá, Espanha e do pronunciamento oficial do Brasil enriquece esse panorama, mostrando abordagens que variam da unidade nacional e otimismo programático à diplomacia militar.
No hemisfério ocidental, as mensagens destacaram profundas divisões. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump manteve o que analistas chamam de uma "guerra cultural", utilizando o bordão "We are saying merry christmas again" como crítica a seu antecessor e defesa de valores cristãos tradicionais.
No Canadá, o primeiro-ministro Mark Carney adotou um tom notavelmente conciliador e inclusivo. Em sua mensagem oficial, reconheceu que o mundo está "mais dividido e incerto", enfatizando que a temporada é uma oportunidade para desacelerar e focar no que realmente importa. Carney falou diretamente aos cristãos, celebrando o nascimento de Jesus, mas estendeu os votos a "canadenses de todas as tradições", ressaltando que as festas nos lembram que "pode haver esperança após o desespero" e que a luz segue a escuridão. A tradição de união também se manifesta no campo religioso, com líderes anglicanos e luteranos do país divulgando uma saudação de Natal conjunta há anos, focada na história do nascimento de Cristo.
O tom, no entanto, contrasta com a postura em relação à Venezuela. Em meio a uma escalada de tensão, o presidente Nicolás Maduro dirigiu-se diretamente ao povo americano em um vídeo, num apelo pacifista em um contexto de alta militarização no Caribe.
Na Argentina, o presidente Javier Milei combinou votos festivos com um balanço agressivo de seu primeiro ano de governo e um alerta sobre reformas futuras, pedindo à população que "apertem os cintos".
Já no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento à nação com um claro tom de balanço e celebração programática. Ele classificou 2025 como um "ano histórico" e fez um extenso inventário das conquistas de seu governo, como a saída do país do Mapa da Fome, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, e recordes de emprego. O anúncio mais marcante foi a promessa de liderar uma grande mobilização nacional contra a violência doméstica, conclamando os homens a um "compromisso de alma". Ele também defendeu o fim da escala de trabalho 6x1, adiantando uma bandeira para o futuro. Seu discurso encerrou com um apelo à união familiar e votos de paz, ecoando a mensagem mais concisa divulgada em suas redes sociais.
Na Europa, o Natal espelha a guerra em curso. A Ucrânia oficialmente adotou a celebração no dia 25 de dezembro, um marco de sua "descolonização cultural" de Moscou.
Já o presidente russo, Vladimir Putin, utiliza a data para reforçar a narrativa de defesa de valores tradicionais em oposição a um "Ocidente decadente".
A Espanha, por sua vez, apresentou um exemplo claro de como a data é usada para diplomacia e reforço da coesão nacional em tempos de crise. O primeiro-ministro Pedro Sánchez adotou duas abordagens distintas. Em uma mensagem geral para todos os espanhóis, ele apelou à convivência e diversidade, desejando felizes festas em todos os idiomas cooficiais do país e enfatizando a liberdade de celebrar a data de diferentes formas. Paralelamente, em uma videoconferência com mais de 20.000 militares destacados no exterior, Sánchez conduziu uma mensagem de carácter geopolítico claro. Ele agradeceu ao seu sacrifício e destacou seu papel essencial na frente oriental da OTAN, mostrando "firmeza e determinação frente às provocações da Rússia de Putin" em meio a ameaças que "não cessam". A Casa Real espanhola também participou da tradição, enviando seus votos de Natal, apesar de alegações em contrário que circularam nas redes sociais.
No Oriente Médio, a data é usada para fins diplomáticos. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e seus ministros costumam enviar mensagens destacando a liberdade de culto para cristãos no país, em contraste com nações vizinhas. Para Palestinos, Sírios e outras nações de maioria muçulmana da região, o Natal é celebrado pelas comunidades cristãs locais, mas as mensagens de seus líderes políticos não tiveram destaque nas fontes disponíveis.
Na China, onde o Natal não é feriado público, a abordagem é de controle e assimilação cultural, promovendo a "sinicização" do cristianismo.
A análise das mensagens mostra que, mais do que simples formalidades, as declarações natalinas de chefes de Estado e governo são ferramentas de comunicação política carregadas de significado. Seus conteúdos revelam prioridades e conflitos:
Assim, os votos de "paz na Terra" convivem, no discurso dos líderes, com a reafirmação de soberania, a demarcação de fronteiras ideológicas, a prestação de contas e a preparação das populações para os desafios do ano que se inicia. O Natal, portanto, confirma-se não como um intervalo na política, mas como mais um de seus cenários.
Com informações de A Tarde, Episcopal News Service, Euronews, Governo do Brasil, Governo do Canadá, Mixvale, Mundo Deportivo, Polígrafo, 20 Minutos, UOL