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Síria e Israel em negociações diretas por acordos de segurança
Menos de um ano após a queda de Bashar al-Assad, Síria e Israel, tecnicamente em guerra desde 1948, mantêm conversações diretas com mediação dos EUA e visam fechar acordos históricos ainda em 2025
Oriente-Medio
Foto: https://cdn.folhape.com.br/img/pc/1100/1/dn_arquivo/2025/09/afp-20250917-74va4we-v1-midres-syriaturkeypoliticsdiplomacy-1.jpg
■   Bernardo Cahue, 06/12/2025

Um cenário transformado: a queda de Assad e a nova Damasco

A renúncia e fuga de Bashar al-Assad em dezembro de 2024, após quase 14 anos de guerra civil, reconfigurou completamente o tabuleiro geopolítico regional. Seu governo foi substituído por uma administração interina liderada por Ahmed al-Sharaa, ex-líder jihadista que comandou a ofensiva final contra o regime. Este novo governo, buscando reconstruir o país e sair do isolamento internacional, deu início a uma política externa pragmática que inclui a aproximação com os Estados Unidos e a abertura de canais com Israel.

Um objetivo central de Damasco é a suspensão das sanções internacionais que ainda pesam sobre o país. A comunidade internacional, por meio da ONU, manifestou disposição para apoiar a Síria nesta transição, enfatizando a necessidade de uma reforma inclusiva do setor de segurança e o respeito aos direitos humanos.

As negociações em curso: diretrizes, avanços e obstáculos

As conversas entre sírios e israelenses, confirmadas por fontes de ambos os lados, representam um marco sem precedentes. Os principais elementos em discussão incluem:

  • Restabelecimento e expansão do acordo de desengajamento de 1974: O antigo cessar-fogo que estabelecia uma zona-tampão na linha de cessar-fogo está sendo revisto para reduzir tensões.
  • Acordos militares e de segurança: Damasco espera fechar vários acordos deste tipo até o final de 2025, com foco em deter as operações militares israelenses em seu território.
  • Retirada israelense de territórios ocupados recentemente: A Síria negocia a saída das tropas israelenses de áreas tomadas após a queda de Assad, incluindo o cume do Monte Hermon.
  • O status das Colinas de Golã: Este é o principal ponto de discórdia. Israel, que anexou o território em 1981 (reconhecido pelos EUA em 2019), insiste em manter sua soberania. A Síria reivindica a área. Uma proposta criativa em análise é transformar a região em um "parque da paz" para desenvolvimento econômico conjunto, mas os detalhes são vagos e a aceitação pública é incerta.

O ritmo das discussões é intenso. O chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, revelou que o diálogo passou a ser direto e envolve múltiplos níveis governamentais, ocorrendo diariamente. Os Estados Unidos atuam como mediadores-chave, pressionando pela normalização como parte da visão de um "Médio Oriente próspero".

Desafios complexos no caminho da paz

Apesar do otimismo cauteloso, o caminho para um acordo definitivo é estreito e cheio de obstáculos:

  1. A questão territorial intratável: Como mencionado, nenhuma solução para as Colinas de Golã será fácil. Israel considera a área estratégica e parte de seu Estado, enquanto para a Síria é uma questão de soberania e orgulho nacional.
  2. A frágil situação interna síria: O governo interino ainda consolida seu poder em meio a relatos de violência sectária e violações de direitos humanos. A ONU alerta que a integração de grupos armados às novas forças de segurança foi "apressada" e sem verificação adequada, um risco para a estabilidade futura.
  3. Opinião pública e credibilidade do governo: O presidente Ahmed al-Sharaa ainda está sob sanções da ONU devido ao seu passado jihadista. Qualquer acordo percebido como uma concessão excessiva a Israel pode ser difícil de vender à população síria.

Reconfiguração regional: o Irã como pano de fundo

Um motor estratégico por trás dessas negociações é o enfraquecimento da influência iraniana na Síria. Com a retirada do apoio russo ao regime Assad e os repetidos ataques israelenses a alvos iranianos no país que frequentemente ficavam sem resposta, Damasco parece estar se afastando do eixo Teerã-Damasco-Hezbollah. Para Israel, um acordo com a Síria representaria um golpe estratégico monumental, isolando ainda mais o Irã e podendo influenciar positivamente a situação no Líbano. Analistas veem esta como uma tentativa síria de se libertar do conflito proxy Irã-Israel em seu solo.

O que esperar do futuro próximo?

Especialistas sugerem que um acordo abrangente de paz ainda enfrenta grandes barreiras, mas acordos de segurança mais limitados são uma possibilidade real ainda em 2025. A dinâmica pode seguir dois caminhos principais:

  • Se a normalização avançar, poderíamos testemunhar uma retirada israelense parcial do sul da Síria e o estabelecimento de mecanismos conjuntos de patrulha e monitoramento.
  • Se as negociações fracassarem, Israel pode buscar fortalecer comunidades locais, como os drusos na região de Sweida, como um contraponto ao governo central de Damasco, perpetuando a instabilidade.

O resultado final dependerá da capacidade das lideranças de apresentar concessões dolorosas como vitórias nacionais e da vontade de enxergar um inimigo histórico como um vizinho necessário para a reconstrução e a estabilidade.

Com informações de: R7, Swissinfo, Syrian Observer, Euronews, UN News, GauchaZH, The Daily Star, The Media Line ■