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No labirinto jurídico e político que se tornou a vida de Jair Bolsonaro, uma ironia cruel se desenha: enquanto Eduardo Bolsonaro cavava a cova política do pai com declarações cada vez mais radicais, Flávio Bolsonaro tentava abrir uma rota de fuga que acabou por selar o destino do ex-presidente. A cena do patriarca sendo levado pela Polícia Federal na madrugada de sábado foi o epílogo de um drama familiar meses em gestação, onde as tentativas de salvação apenas aceleraram a ruína.
Desde o início de 2025, Eduardo Bolsonaro assumiu uma postura que seus aliados chamavam de "linha dura" e seus críticos definiam como "suicídio político". Em discursos inflamados e entrevistas bombásticas, o deputado federal:
O ápice veio em outubro, quando Eduardo declarou em rede social que "quem dialoga com o sistema já perdeu a guerra". A frase ecoou nos gabinetes do Supremo como uma declaração de guerra, endurecendo ainda mais a posição dos ministros em relação aos processos do ex-presidente. Um assessor próximo a Bolsonaro, em condição de anonimato, resumiu: "Cada fala do Eduardo era como cavar um degrau a mais na escada que levava o pai para a cadeia".
Enquanto Eduardo queimava pontes, Flávio Bolsonaro tentava construir uma saída. A ideia da vigília religiosa no Jardim Botânico, segundo apurou a coluna, nasceu de uma estratégia dupla: criar um fato político que demonstrasse apoio popular e, nas entrelinhas, preparar o terreno para uma possível fuga.
Fontes próximas à família revelam que Flávio articulou nos bastidores:
O que Flávio não calculou foi que a estratégia seria interpretada pela Justiça como "preparação para evasão". Na noite de sexta-feira, quando convocou a vigília, o senador acreditava estar dando ao pai uma tábua de salvação. Na realidade, estava pregando o último prego no caixão.
Na madrugada de sábado, quando a violação da tornozeleira foi detectada, o ministro Alexandre de Moraes não viu apenas um homem tentando escapar da Justiça. Viu o desfecho lógico de uma estratégia familiar desesperada. Na decisão que decretou a prisão preventiva, o ministro foi claro ao conectar os pontos entre a retórica incendiária de Eduardo e a tática de mobilização de Flávio.
Um analista político ouvido pela reportagem sintetizou o drama: "Eduardo criou o ambiente de confronto que tornou Bolsonaro inimigo do sistema. Flávio tentou a fuga que confirmou todos os temores do sistema. Foi uma combinação perfeita - para o desastre".
O próprio Bolsonaro, segundo relatos de pessoas que estiveram com ele na véspera da prisão, estava dividido entre as estratégias dos dois filhos. "Ele oscilava entre o radicalismo do Eduardo e o pragmatismo do Flávio. No final, tentou os dois e falhou nos dois", contou um auxiliar.
O episódio revela mais do que o fracasso de uma tentativa de fuga. Explica como dinâmicas familiares podem determinar destinos políticos. Enquanto Eduardo buscava consolidar sua liderança na ala mais radical do bolsonarismo, Flávio tentava resgatar o legado político do pai. No meio do fogo cruzado, Jair Bolsonaro viu suas últimas esperanças se dissiparem.
Na prisão, o ex-presidente tem agora tempo para refletir sobre o paradoxo final: foram suas próprias criações - no sentido biológico e político - que, tentando salvá-lo, acabaram por condená-lo. A anti-campanha de Eduardo que o enterrou politicamente, e a tentativa de fuga de Flávio que o colocou atrás das grades, são as duas faces da mesma moeda: a tragédia de um patriarca traído por seu próprio legado.
Com informações de: Veja, IstoÉ, CNN Brasil, G1, UOL ■