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A crise humanitária em Gaza se aprofunda com a chegada do inverno
Um mês após o cessar-fogo, a ajuda continua insuficiente para atender necessidades básicas da população, que enfrenta fome, desabrigo e a iminência de tempestades e frio
Oriente-Medio
Foto: https://admin.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2023/10/GettyImages-1719518032.jpg?w=1200&h=1200&crop=1
■   Bernardo Cahue, 14/11/2025

Um mês após a entrada em vigor de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, a assistência humanitária permanece gravemente aquém das necessidades de uma população devastada por dois anos de guerra. Com a aproximação do inverno e das fortes chuvas, milhões de palestinos deslocados enfrentam condições de vida cada vez mais desesperadoras, sem habitação adequada, alimentos suficientes ou acesso a serviços de saúde.

A Fome Persiste Apesar dos Esforços

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas conseguiu levar 20.000 toneladas de comida a Gaza, um montante que representa apenas metade do objetivo mínimo necessário para a população. A entrada de alimentos no norte do território é particularmente difícil, com Israel mantendo abertos apenas dois passos fronteiriços no sul, o que obriga os comboios de ajuda a seguir uma rota lenta e difícil.

  • Dependência de Alimentos Básicos: A maioria dos lares só consegue consumir cereais, leguminosas e rações de comida seca. Itens como carne, ovos, verduras e frutas são consumidos muito pouco, agravando os riscos de desnutrição.
  • Preços Inacessíveis: Os preços nos mercados permanecem proibitivos para a maioria da população. Muitos não comem uma variedade suficiente para evitar a desnutrição.
  • Condições Perigosas para Cozinhar: Com a falta de gás para cozinha, mais de 60% dos habitantes de Gaza recorrem à queima de resíduos para preparar alimentos, uma prática que aumenta os riscos para a saúde.

O Inverno e a Crise de Abrigos

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) alerta que as necessidades de abrigo são extremas, com cerca de 90% da população deslocada. Estima-se que 1,5 milhão de pessoas precisem urgentemente de um abrigo de emergência, enquanto os estoques disponíveis estão praticamente esgotados.

  • Famílias sem Teto: Centenas de milhares de pessoas que regressam aos seus locais de origem deparam-se com casas reduzidas a escombros. Com poucas tendas ou lonas à disposição, muitas utilizam sacos de farinha e arroz para se abrigar das intempéries.
  • Distribuição de Ajuda: A OIM já enviou mais de 47.000 artigos de socorro, incluindo 2.500 tendas que darão proteção a cerca de 15.000 deslocados antes da chegada do inverno. Milhões de outros itens, como lonas impermeáveis e cobertores, estão prontos para despacho assim que o acesso for garantido.

Obstáculos Logísticos e Burocráticos

Apesar do cessar-fogo, restrições sistemáticas continuam a dificultar a provisão de assistência. A ONU relata que a burocracia, os cruzos fronteiriços limitados e a insegurança persistente são barreiras significativas. As inspeções israelitas nos postos de entrada são descritas como lentas, e muitos caminhões enfrentam dificuldades para circular entre os escombros que ainda obstruem as estradas. A OIM afirma estar pronta para responder rapidamente, mas depende de que lhe seja garantido acesso total, seguro e sem restrições pelas autoridades israelitas.

O Contexto Político e o Futuro de Gaza

Enquanto a crise humanitária se desenrola, os planos para o futuro de Gaza permanecem em fluxo. Documentos militares dos EUA vazados revelam planos para a divisão de longo prazo do território em uma "zona verde", sob controlo militar internacional e israelita, onde começaria a reconstrução, e uma "zona vermelha", que ficaria em ruínas e para a qual a maioria dos palestinos foi deslocada. Este cenário levanta sérias questões sobre o compromisso com um acordo político duradouro que leve ao governo palestino em toda a Gaza.

Enquanto isso, organizações palestinas e movimentos de solidariedade globais intensificam seus apelos, ligando a justiça climática à libertação da Palestina e denunciando a destruição de terras agrícolas e a contaminação do solo e da água em Gaza como parte de um "ecogenocídio".

Com informações de: The Guardian, Brasil de Fato, SAPO, IOM.int, Agência Brasil, Wikipedia, Euronews, Ungeneva.org, European Parliament ■