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A paisagem na Faixa de Gaza foi radicalmente transformada. O trajeto que liga Beit Hanoun ao resto da cidade de Gaza, outrora uma rota conhecida e familiar para seus habitantes, hoje é uma sucessão de escombros e destruição, onde pontos de referência geográficos se perderam, tornando irreconhecível o cenário da vida anterior ao conflito.
Essa desorientação física é sentida na pele por sobreviventes e equipes de resgate. Em um episódio recente em Jan Yunis, no sul de Gaza, socorristas escutaram gritos vindos de debaixo dos destroços de um edifício residencial destruído por um ataque aéreo. Eles conseguiram resgatar com vida Ella Osama Abu Dagga, uma bebê de apenas 25 dias. Seus pais e irmão morreram no mesmo ataque, que matou ao menos 16 pessoas, a maioria mulheres e crianças.
"Quando perguntamos à gente, disseram que ela tem um mês de idade e estava sob os escombros desde o amanhecer. Ela estava gritando e depois ficando em silêncio de vez em quando até que conseguimos tirá-la há pouco, e graças a Deus está a salvo", relatou Hazen Atta, um socorrista da defesa civil presente no local.
A destruição em Gaza é massiva. Segundo relatos de agências da ONU, o território está devastado por quase dois anos de conflito intenso, com sobreviventes descritos como "sombras de seu eu anterior", suas vidas alteradas para sempre por um trauma indescritível e uma perda profunda.
Os bombardeios não pararam. Relatos locais dão conta de novos ataques em áreas densamente povoadas, como o campo de refugiados de Shati, seguindo avisos de evacuação emitidos pelo exército israelense. Cenas de civis em meio a fumaça e ruínas, gritando "Não vamos sair!", tornaram-se comuns, refletindo o protesto contra o deslocamento massivo da população.
Quase toda a população de Gaza depende de ajuda humanitária para sobreviver, a maior parte distribuída pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) [citation:4]. No entanto, a própria UNRWA tornou-se alvo na guerra, enfrentando uma campanha para cortar seu financiamento e uma operação praticamente impossibilitada pelas restrições israelenses.
O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, descreveu a situação humanitária como um "abismo". "Em Gaza, dois milhões de pessoas estão sendo famintas", alertou, criticando os mecanismos de ajuda atuais por humilhar e degradar pessoas desesperadas, tornando-se, em suas palavras, uma "armadilha mortal".
O contexto atual é agravado por uma decisão do parlamento israelense de banir a UNRWA de operar dentro de Israel e Jerusalém Oriental ocupada, uma medida que, segundo a agência, inviabiliza seu trabalho em Gaza e na Cisjordânia.
Enquanto a guerra continua, a tarefa de reconstruir não é apenas sobre erguer prédios, mas sobre reencontrar uma identidade em um mapa que não existe mais. A pequena Ella, agora órfã e sob os cuidados dos avós, carrega em sua história a dor de um povo que, além de lidar com a perda de entes queridos, viu seu chão, suas ruas e suas referências serem apagadas.
Com informações de: Associated Press no Chicago Tribune, BBC, UN News, Ynetnews. ■