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Centenas de milhares vão às ruas em Jerusalém em protesto contra serviço militar
Ultraortodoxos perderam o direito de isenção a partir de 2024, no âmbito das incursões israelenses a Gaza
Oriente-Medio
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRXHwhfD0BH_k_yn9XXL8lucLOtuvwIpXY0iA&s
■   Bernardo Cahue, 01/11/2025

Uma das maiores manifestações dos últimos anos na Israel paralisou partes de Jerusalém nesta quinta-feira (30/10), com centenas de milhares de judeus ultraortodoxos protestando contra o fim das isenções do serviço militar obrigatório.

Origens de uma isenção histórica

Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, os estudantes ultraortodoxos (também conhecidos como haredim) que se dedicam em tempo integral aos estudos religiosos em uma yeshivá estiveram isentos do alistamento militar obrigatório. Esse acordo, que originalmente beneficiava um grupo pequeno, foi estabelecido com os fundadores seculares do país e tornou-se uma base do estilo de vida ultraortodoxo.

A pressão da guerra e a decisão da corte

O conflito em Gaza, que exigiu a mobilização de centenas de milhares de soldados e revelou carências de efetivo nas Forças de Defesa de Israel (FDI), intensificou o debate sobre a isenção. Muitos cidadãos passaram a ver o privilégio como uma desigualdade de sacrifício dentro da sociedade israelense.

Em junho de 2024, a Suprema Corte de Israel decidiu unanimemente que não havia mais base legal para manter a isenção e ordenou que o governo começasse a recrutar homens ultraortodoxos, assim como faz com outros cidadãos. Com o vencimento das normas legais que garantiam a dispensa, as FDI se viram obrigadas a cumprir a decisão e começaram a enviar ordens de convocação.

O grande protesto em Jerusalém

Estima-se que cerca de 200 mil pessoas, a maioria homens vestindo os trajes pretos tradicionais, participaram do ato batizado de "marcha do milhão" ou "um milhão de homens". A manifestação, considerada uma rara demonstração de unidade entre as diferentes facções ultraortodoxas, bloqueou as principais vias de acesso a Jerusalém e paralisou o tráfego, exigindo mais de 2 mil policiais para seu controle.

Os manifestantes carregavam cartazes com frases como "O povo está com a Torá" e "Fechar a yeshivá é uma sentença de morte para o judaísmo", afirmando preferir a prisão a servir ao exército. O protesto, que foi majoritariamente pacífico, foi marcado por um incidente trágico: um jovem de 20 anos morreu após cair de um prédio em construção nas proximidades do local.

Religião, Estado e a crise política

Para a comunidade ultraortodoxa, que representa cerca de 14% da população israelense, o estudo da Torá é visto como sua principal contribuição para a proteção espiritual da nação. Eles argumentam que o serviço militar, ao expor os jovens a ambientes seculares, representa uma ameaça direta ao seu modo de vida milenar.

A questão tornou-se um grande desafio político para o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Em julho, os partidos ultraortodoxos Shas e Judaísmo Unido da Torá (JUT) deixaram a coalizão de governo em protesto, ameaçando a maioria parlamentar do premiê e abrindo caminho para uma possível crise governamental ou eleições antecipadas.

Com informações de: BBC, Folha de S.Paulo, Metrópoles, Al Jazeera, Opera Mundi. ■