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Israel paralisa processo de anexação de Cisjordânia após forte pressão dos EUA
Projeto de lei, aprovado em votação preliminar, foi congelado após declarações contundentes de Trump e Vance, que classificaram a manobra como "estúpida" e uma ofensa pessoal
Oriente-Medio
Foto: https://assets.brasildefato.com.br/2024/09/image_processing20200703-26197-joznw2.jpeg
■   Berardo Cahue, 24/10/2025

O governo israelense decidiu congelar, nesta quinta-feira (24/10), os projetos de lei que visavam anexar formalmente a Cisjordânia ocupada. A decisão ocorre após uma sequência de críticas severas e advertências incomuns da administração dos Estados Unidos, seu principal aliado, que ameaçou retirar todo o apoio a Israel caso a anexação prosseguisse.

O anúncio da suspensão do trâmite legislativo foi feito pelo chefe da coalizão governista, Ofir Katz, por ordem direta do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O congelamento abrange tanto a proposta de anexar todos os assentamentos israelenses na Cisjordânia quanto um projeto separado para anexar a cidade-assentamento de Ma'ale Adumim.

Votação Preliminar e a Crise Diplomática

Tudo começou na quarta-feira (23/10), quando o Parlamento israelí (Knéset) aprovou, em votação preliminar, um projeto de lei para aplicar a soberania israel à Cisjordânia ocupada. A proposta, apresentada pelo deputado de extrema direita Avi Maoz, foi aprovada por uma margem estreita: 25 votos a favor e 24 contra.

O timing da votação, que coincidiu com a visita oficial do vice-presidente americano, J.D. Vance, a Israel, foi considerado um desastre diplomático. A medida foi interpretada como uma afronta direta aos enviados americanos, que estavam no país justamente para consolidar o frágil acordo de cessar-fogo em Gaza.

Reação Feroz dos Estados Unidos

A resposta de Washington foi rápida e contundente, vindo das mais altas esferas:

  • Donald Trump: O presidente americano foi categórico em uma entrevista à revista Time. Ele afirmou que a anexação "não sucederá" e advertiu que, se Israel ousasse aprová-la, "perderia todo o apoio de EE UU". Trump justificou sua posição dizendo ter dado sua palavra aos países árabes.
  • J.D. Vance: O vice-presidente não poupou palavras ao deixar Israel, classificando a votação como uma "maniobra política muito estúpida" e declarando-se "pessoalmente insultado" com o ocorrido. Vance reafirmou que "a política do Governo de Trump é que Cisjordânia não será anexada por Israel".
  • Marco Rubio: O secretário de Estado, que chegou a Israel pouco depois de Vance, também expressou preocupação, alertando que a anexação representa uma "ameaça ao plano de paz" proposto por Trump para a região.

Israel Recua e Netanyahu Tenta Conter Danos

Perante a feroz reação americana, a administração Netanyahu agiu rapidamente para conter os danos. A ordem para suspender o avanço dos projetos de lei foi a saída encontrada para acalmar os ânimos.

Num comunicado, o escritório do primeiro-ministro israelense tentou isolar a responsabilidade, descrevendo a votação como uma "provocação política deliberada por parte da oposição para semear discórdia" durante a visita de Vance. O partido governista Likud salientou que, sem o seu apoio, estes projetos de lei têm poucas hipóteses de avançar no Parlamento.

Um Ato Simbólico com Repercussões Reais

Apesar de ter sido apenas uma votação preliminar – sendo necessárias mais três para que o projeto se tornasse lei – o episódio revelou as profundas fissuras na relação entre Washington e Tel Aviv. A anexação formal da Cisjordânia é um objetivo de longa data dos setores nacionalistas e religiosos de Israel, mas a administração Netanyahu preferia adiar o assunto para não colocar em risco o apoio diplomático e militar americano, essencial para o país.

Este incidente lembra um episódio semelhante ocorrido em 2010, quando o então vice-presidente Joe Biden também se sentiu insultado pelo anúncio de novos assentamentos durante a sua visita a Israel. A repetição deste cenário, agora com a administração Trump, demonstra a complexidade e as tensões constantes na relação entre os dois aliados, mesmo com governos considerados alinhados.

Com informações de: El País, Democracy Now!, teleSUR TV, RTVE, France 24, El Periódico, Tendencia de Noticias. ■