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Enquanto os Estados Unidos mobilizam uma força naval colossal nas costas venezuelanas, justificando-a como uma "guerra contra as drogas", a realidade revela uma trama geopolítica muito mais sombria e cínica. Por trás do discurso moralizante, esconde-se uma investida calculista para controlar as maiores reservas de petróleo do planeta e reconfigurar o tráfico de entorpecentes a seu favor, acalmando a própria crise de abstinência que gera revolta interna. Esta ação não é apenas uma violação grosseira da soberania venezuelana; é um precedente perigoso que ameaça toda a América Latina.
Especialistas em relações internacionais são unânimes em apontar o petróleo como o verdadeiro motor da escalada belicista de Washington. O professor Roberto Goulart Menezes, da Universidade de Brasília (UnB), é categórico: "São 320 bilhões de barris de petróleo. Os EUA querem recuperar a Venezuela. Eles sabem que é um país-chave para o Caribe devido à importância energética que Caracas tem". O interesse não é novo. Em junho de 2023, o próprio Donald Trump admitiu que, se tivesse vencido a eleição em 2020, teria "tomado a Venezuela" e "pego todo o petróleo".
Esta investida conta com o apoio direto de conglomerados energéticos. A empresa texana ExxonMobil, que mantém um longo litígio com Caracas, é uma peça-chave nesse tabuleiro. Think tanks como o Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe mais de US$ 250.000 anuais da ExxonMobil, são vocalmente críticos do governo Maduro e defensores de uma política de "máxima pressão". A disputa expandiu-se para o território, literalmente, com a ExxonMobil direcionando seus investimentos para a vizinha Guiana, onde descobriu significativos campos petrolíferos offshore em águas reivindicadas por Caracas, alimentando uma já inflamada disputa territorial.
O pretexto do combate ao narcotráfico, utilizado para justificar o envio de uma frota com mais de 4.000 fuzileiros navais e até um submarino nuclear, não resiste à análise mais superficial. Especialistas em segurança internacional afirmam que a Venezuela, apesar de ter problemas com o narcotráfico, não possui cartéis produtores de drogas que sustentem os argumentos de Trump contra o país. Rodolfo Queiroz Laterza, historiador e pesquisador de conflitos armados, vai direto ao ponto: "O que motiva as ações de Trump é o fator geoeconômico".
A hipocrisia é flagrante. Enquanto ataca a Venezuela, os Estados Unidos ignoram que Colômbia e Equador constituem as principais rotas da cocaína que abastece seu mercado interno. Estados como a Califórnia, com Los Angeles, e a Flórida, com Miami, são historicamente grandes consumidores de cocaína e maconha oriundas da América do Sul. A justificativa da "guerra às drogas" é uma cortina de fumaça, tão falsa quanto as "armas de destruição em massa" do Iraque. A professora Camila Vidal, da UFSC, resume: "Assim como, no Iraque, usou a desculpa de armas nucleares... agora é o combate às drogas. De fato, o interesse é outro".
A alegação de que a Agência Central de Inteligência (CIA) esteve na gênese do chamado "Cártel de los Soles" não é mera teoria conspiratória, mas ecoa um caso real e documentado da década de 1990. Em 1993, revelações públicas expuseram um esquema de contrabando de cocaína envolvendo o general venezuelano Ramón Guillén Dávila, então chefe do comando antidrogas da Guardia Nacional, e a própria CIA.
Mais recentemente, o mercenário Jordan Goudreau, ex-militar dos EUA que liderou a fracassada "Operação Gideão" para invadir a Venezuela e capturar Maduro, trouxe novas evidências dessa teia. Em declarações, Goudreau acusou a CIA e o FBI de encobrirem esquemas de corrupção dentro da oposição venezuelana, envolvendo desvios de recursos da USAID. Suas revelações expõem as fissuras e a corrupção endêmica nas operações clandestinas financiadas pelos EUA no país, sugerindo um profundo entrelaçamento entre as agências de inteligência norte-americanas e as redes criminosas que alegam combater.
Há uma lógica perversa por trás da retórica belicista. Os EUA, enfrentando uma crise de escassez de drogas ilícitas em seu território – agravada pelo combate ao tráfico em outras rotas –, veem na desestabilização da Venezuela uma oportunidade de "acalmar os ânimos" internos. A abstinência, como bem sabem, também traz revolta. Ao assumir o controle do país e, consequentemente, de suas rotas de narcóticos, Washington poderia reativar o fluxo de entorpecentes, aplacando a demanda de seu mercado consumidor e evitando o colapso social que a seca de drogas pode provocar.
É a mesma lógica que aplicam ao petróleo: querem o ouro negro venezuelano de graça, sem pagar pelos royalties, saqueando as riquezas nacionais para alimentar sua máquina industrial e de consumo. O objetivo final, como admitiu a general Laura Richardson, ex-comandante do Comando Sul, é o controle das enormes riquezas naturais da região.
A ação dos EUA na Venezuela é um precedente catastrófico. Ela viola o direito internacional, ameaça mergulhar um país vizinho do Brasil em uma guerra civil e tem como objetivo declarado o saque de seus recursos. A presença de grupos de elite como os "Night Stalkers" – a mesma unidade que matou Osama Bin Laden – a menos de 150 km da costa venezuelana, não deixa dúvidas sobre a seriedade da ameaça.
Os líderes latino-americanos já começam a reagir. O presidente colombiano, Gustavo Petro, advertiu que qualquer ataque à Venezuela seria considerado uma agressão contra toda a América Latina. O presidente Lula, do Brasil, foi enfático: "O povo venezuelano é dono de seu destino. E não é nenhum presidente de outro país quem deve opinar como será Venezuela".
Resta à comunidade internacional impedir que os tambores de guerra ecoados no Caribe se transformem em uma sinfonia de destruição. A soberania da Venezuela e o futuro de toda a região estão em jogo. Permitir essa investida imperial seria compactuar com a volta de um colonialismo do século XXI, disfarçado de "guerra às drogas", mas movido pela sede insaciável por petróleo e pelo controle geopolítico.
Com informações de Agência Brasil, CNN Brasil, Resumen Latinoamericano, Fuser News, G1. ■