Siga nossas redes sociais
Logo     
Siga nossos canais
   
Governo de Assad moveu vala comum em operação secreta para ocultar mortes, aponta investigação
Operação clandestina, que durou dois anos, transferiu milhares de corpos para um local remoto no deserto para apagar evidências de crimes de guerra
Oriente-Medio
Foto: https://admin.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2024/12/2024-12-17T231432Z_1_LYNXMPEKBG0Z8_RTROPTP_4_SYRIA-SECURITY-USA-MASS-GRAVES.jpg?w=419&h=283&crop=0
■   Bernardo Cahue, 15/10/2025

Uma investigação exclusiva da Reuters revelou que o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, realizou uma operação secreta ao longo de dois anos para desenterrar e transferir milhares de corpos de uma das maiores valas comuns conhecidas na Síria para um local remoto no deserto. A ação foi uma tentativa de ocultar evidências de mortes e crimes de guerra cometidos durante o conflito civil no país .

A operação clandestina, conhecida internamente como “Operação Mover Terra”, ocorreu entre 2019 e 2021. Envolveu o transporte de restos mortais da vala comum de Qutayfah, nos arredores de Damasco, para um novo e enorme local de enterramento fora da cidade desértica de Dhumair .

De acordo com a investigação, que se baseou em imagens de satélite, documentos oficiais e relatos de testemunhas, a ação foi orquestrada pelos militares de Assad. Treze pessoas com conhecimento direto da operação, incluindo pessoal militar, motoristas e mecânicos, descreveram como seis a oito caminhões carregados com terra e restos humanos faziam viagens quase que diariamente durante mais de dois anos .

As evidências apontam para a criação de um novo complexo de valas comuns em Dhumair, com pelo menos 34 trincheiras que se estendem por quase dois quilómetros. Acredita-se que o local, que pode abrigar dezenas de milhares de corpos, seja hoje uma das maiores valas comuns da guerra civil síria .

Fontes relataram que a operação foi ordenada para "apagar evidências" de assassinatos em massa que ocorreram em Qutayfah e para melhorar a imagem do regime, que buscava se reinserir no cenário internacional após anos de isolamento . Um ex-oficial da Guarda Republicana de elite de Assad afirmou: "O objetivo era esvaziar Qutayfah e esconder os crimes" .

O local original em Qutayfah era utilizado desde aproximadamente 2012 para enterrar detidos de prisões e hospitais militares, além de soldados do regime. Quando o governo de Assad caiu em dezembro de 2024, todas as 16 valas identificadas em Qutayfah já haviam sido esvaziadas .

Este caso joga luz sobre o drama dos desaparecidos na Síria. Grupos de direitos sírios estimam que mais de 160.000 pessoas tenham desaparecido após serem detidas pelo aparato de segurança de Assad, e muitas são consideradas enterradas em valas comuns secretas .

As consequências da operação secreta são profundas para as famílias das vítimas e para a prestação de contas:

  • Dificuldade para identificação: Especialistas alertam que o processo de transferência e recomposição dos corpos tornará extremamente complicada a identificação e a devolução dos restos mortais aos familiares .
  • Falta de recursos: A nova Comissão Nacional para Pessoas Desaparecidas do governo sírio planeja criar um banco de dados de DNA, mas ainda carece de recursos e especialistas para um desafio forense dessa magnitude .
  • Medo entre os participantes: Os envolvidos na "Operação Mover Terra" relataram que desobedecer às ordens era impensável. Um motorista de caminhão resumiu: "Você mesmo poderia acabar nos buracos" .

Com informações de: Ohio Society Of Association Professionals, Daily Sabah, Moneycontrol. ■