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As recentes negociações entre Brasil e Estados Unidos, desencadeadas pela imposição de tarifas de 50% por Donald Trump, estão expondo uma fratura potencial dentro da administração americana. A designação do secretário de Estado Marco Rubio como principal interlocutor revela não uma linha coesa, mas um jogo de poder onde as agendas pessoais e a desconexão com as diretrizes presidenciais podem estar prejudicando os próprios interesses dos EUA, particularmente no que se refere ao comércio com o Brasil.
O Custo Concreto para os EUA e a "Saudade" do Café Brasileiro
A justificativa de segurança nacional e a defesa da liberdade de expressão usadas para impor as tarifas esbarram em uma realidade econômica inconveniente: as medidas estão prejudicando o consumidor e a economia americanos. Na recente videoconferência com o presidente Lula, o próprio Trump admitiu que os EUA estão "sentindo falta" de alguns produtos brasileiros, citando especificamente o café. Os dados confirmam a queixa:
Este cenário levou a reportagens na própria mídia americana, como Fox Business e CNN, a atribuírem a forte inflação às tarifas contra o Brasil. A dependência é tamanha que, como apontam especialistas, é "quase impossível" para os EUA substituir o volume de café fornecido pelo Brasil no curto prazo. A sanção, portanto, age como um tiro pela culatra, onerando o bolso do cidadão americano e forçando uma revisão de estratégia.
Rubio: O Interlocutor "Ideológico" e sua Postura Austera
A escolha de Marco Rubio para liderar as negociações é vista por analistas como o "caminho mais difícil para o Brasil". Rubio é identificado como parte da ala "ideológica" do governo Trump, com posições conhecidamente linha-dura contra países como China, Cuba, Venezuela e Irã. Sua nomeação foi celebrada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que viram nela um sinal de que haveria "zero de avanço" nas tratativas.
Esta percepção é alimentada pelo histórico de ações de Rubio contra o Brasil. Ele foi um dos principais porta-vozes das sanções, tendo liderado a revogação de vistos de autoridades brasileiras em represália a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que ele classificou como "caça às bruxas". A postura petulante e austera do secretário de Estado, portanto, não é uma novidade nas relações com a América Latina, mas um traço consolidado de sua atuação diplomática, que agora pode entrar em rota de colisão com os interesses econômicos pragmáticos defendidos por Trump.
Assessorias e Fake News: A Influência da Equipe de Rubio
A base argumentativa para as sanções parece estar alinhada com narrativas disseminadas por figuras próximas ao bolsonarismo. O governo brasileiro investiga e já indiciou pessoas por propagarem fake news para incentivar ataques e desestabilizar a democracia. Entre eles está o economista e blogueiro Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, neto do último presidente da ditadura militar, que se disse "honrado" com o indiciamento por golpe de Estado. Figueiredo era investigado por incitar militares contra a democracia em programas de rádio, TV e redes sociais.
Outro nome de destaque é o do deputado Eduardo Bolsonaro, que atuou nos EUA como enviado de seu pai. Ele comemorou publicamente a designação de Rubio, entendendo-a como um freio à aproximação. A sintonia entre a assessoria de Rubio e essas vozes radicais sugere que as pautas de fake news e a pressão política antidemocrática encontraram eco na formação da política externa americana para o Brasil, influenciando diretamente a imposição de taxações e sanções.
Divergências Estratégicas e o Futuro das Negociações
O descompasso entre Trump e Rubio tornou-se visível. Enquanto Trump, após conversa "gentil" e "civilizada" com Lula, designou Rubio para dar sequência aos diálogos , o presidente brasileiro precisou fazer um pedido público: "conversar com o Brasil sem preconceito". Este recado indireto a Rubio evidencia a percepção, no mais alto nível do governo brasileiro, de que o secretário de Estado age com "certo desconhecimento da realidade do Brasil" e com uma agenda própria.
Para o governo brasileiro, no entanto, há um lado positivo em ter um negociador diretamente ligado a Trump, com seu aval, em vez de alguém sem essa interlocução. A contradição é clara: Rubio é ao mesmo tempo um canal de acesso e um obstáculo ideológico. A decisão de um tribunal dos EUA que suspendeu outras tarifas globais de Trump por considerá-las ilegais acrescenta outra camada de pressão, mostrando que a estratégia comercial agressiva do presidente enfrenta resistências internas significativas, o que pode forçar uma reavaliação de sua equipe.
Enquanto isso, a pressão econômica interna nos EUA cresce. A alta no preço do café é um exemplo tangível de como as sanções contra o Brasil estão tendo um efeito contrário ao esperado, fortalecendo indiretamente outros players globais, como a China, com quem os EUA são forçados a manter relações comerciais obrigatórias para suprir demandas não atendidas. O sucesso ou fracasso dessa complexa negociação pode, no fim, depender mais da capacidade de Trump impor sua vontade sobre seu próprio secretário de Estado do que da diplomacia entre os dois países.
Com informações de: BBC News, CNN Brasil, Último Segundo, G1, O Globo, Estadão. ■