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O povo pauta o legislativo na rua
1,3 milhões de pessoas foram às ruas no dia 21 de setembro para conseguir vitórias importantes: sem anistia, sem blindagem e sem IR para os mais pobres - a última, por unanimidade; momento atual em Plenário indica a hora do retorno aos atos
Editorial
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ37VGSs-KAjIORTLutWXUwoB9Y5wnYLFFbIA&s
■   Bernardo Cahue, 09/10/2025

O poder das ruas escreveu, mais uma vez, um capítulo decisivo na política brasileira. As multidões que tomaram as avenidas do país no dia 21 de setembro, 1,3 milhão de pessoas segundo os organizadores, demonstraram com clareza solar que a vontade popular é uma força impositiva que o Legislativo não pode ignorar. O recado foi direto: o povo não aceita anistia para golpistas e exige justiça tributária.

O resultado dessa pressão não demorou a chegar. Em uma semana, a Câmara dos Deputados aprovou, e o projeto seguiu para o Senado, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, um benefício direto para 15,5 milhões de pessoas. Paralelamente, a PEC da Blindagem, que buscava dificultar a investigação de parlamentares, foi enterrada no Senado após sua rejeição popular atingir 63% da população. A reprovação a qualquer tipo de anistia para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro cresceu seis pontos percentuais, atingindo 47% dos brasileiros.

Essas vitórias populares podem ser resumidas em:

  • Justiça Fiscal: A isenção de IR para as faixas de renda mais baixas e a criação de uma tributação mínima para os "super-ricos" que hoje pagam aliquotas efetivas irrisórias.
  • Defesa da Democracia: A clara rejeição a projetos que perdoam ou atenuam as penas daqueles que atacaram as instituições democráticas.
  • Fim dos Privilégios: O recuo da PEC que criava um mecanismo de blindagem para deputados e senadores, tratando-os como uma casta acima da lei.

Entretanto, a mesma semana que testemunhou essas conquistas também trouxe um revés que evidencia a batalha permanente que a sociedade precisa travar. Uma articulação do Centrão derrubou a Medida Provisória que taxava fintechs e aplicações financeiras de alta renda, impondo uma derrota ao governo. A manobra protegeu setores lucrativos e enterrou uma fonte de arrecadação de R$ 17 bilhões que compensaria, em parte, a renúncia fiscal com a isenção de IR.

Este episódio deixa claro que os interesses corporativos estão sempre à espreita, prontos para agir nos bastidores quando a atenção pública se dispersa. A derrota desta MP é um exemplo perfeito de como a pressão popular precisa ser contínua e incansável. Não basta uma ida às ruas a cada certo tempo; é necessário um monitoramento constante daqueles que foram eleitos para representar o povo, mas que, não raro, votam por seus próprios interesses.

O momento atual exige, portanto, que a rua se faça ouvir novamente. A pauta agora se expande:

  1. Pela reconstrução da medida provisória que taxava setores de alto poder econômico, garantindo justiça fiscal e arrecadação necessária para o Estado.
  2. Pela luta contra a jornada exaustiva de 6x1, que precariza a vida do trabalhador e retrocede décadas em conquistas trabalhistas.

A história republicana do Brasil é marcada por momentos em que a rua dita o rumo: da Revolta da Vacina em 1904, passando pelas Diretas Já e pelos Caras-Pintadas, até os grandes protestos mais recentes. A vitória da isenção do IR e o recuo na anistia aos golpistas mostram que a força do povo organizado é real. A derrota da MP das taxas revela que essa força não pode descansar.

A rua mostrou seu poder. Agora, é preciso voltar a ela.

Com informações de: Agência Câmara Notícias, CartaCapital, Contraf-CUT, Folha de S.Paulo, G1, Gazeta do Povo, InfoMoney, Agência Senado. ■