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Muhammad al-Durrah nunca deve ser esquecido
Imagens do menino de 12 anos sendo morto a tiros no início da Segunda Intifada chocaram o mundo há 25 anos e foram alvo de disputas que perduram por décadas
Oriente-Medio
Foto: https://media.cnn.com/api/v1/images/stellar/prod/130521154308-israel-palestinians-disputed-photo.jpg?q=x_3,y_94,h_1194,w_2124,c_crop/w_1280
■   Bernardo Cahue, 30/09/2025

No dia 30 de setembro de 2000, o segundo dia do levante palestino conhecido como Segunda Intifada, o mundo testemunhou por meio de uma câmera a morte de Muhammad al-Durrah, de 12 anos. As imagens, que se tornariam um dos símbolos mais poderosos do conflito, mostram o menino e seu pai, Jamal al-Durrah, tentando se proteger de um intenso tiroteio em um cruzamento na Faixa de Gaza.

O pai e o filho estavam voltando de um leilão de carros quando se viram presos no Cruzamento Netzarim, local de violentos confrontos entre forças israelenses e palestinas. Eles se agacharam atrás de um cilindro de concreto, com Jamal tentando, em vão, proteger o filho com seu próprio corpo enquanto uma chuva de balas atingia a área.

O momento da morte de Muhammad foi capturado pela lente do cinegrafista palestino Talal Abu Rahma, que trabalhava como freelancer para a rede francesa France 2. A filmagem de 59 segundos, com a narração do correspondente-chefe da France 2 em Israel, Charles Enderlin, foi televisionada no mesmo dia, e Enderlin informou aos telespectadores, com base no relato do cinegrafista, que os disparos que atingiram a dupla haviam partido das posições israelenses. Após um funeral emocionante, Muhammad foi alçado ao status de mártir em todo o mundo muçulmano, e sua imagem estampou cartazes e selos postais.

A Câmera e a Controvérsia

A história, no entanto, não terminou com o funeral. A cena filmada por Talal Abu Rahma se tornou o centro de uma dura batalha sobre a narrativa e a veracidade dos fatos.

Inicialmente, as Forças de Defesa de Israel (IDF) aceitaram a responsabilidade pelo ocorrido, mas depois se retrataram. Ao longo dos anos, investigações israelenses chegaram a conclusões controversas, incluindo a alegação de que o menino poderia ter sido morto por fogo palestino, ou até mesmo que o incidente teria sido encenado. Em 2013, um relatório encomendado pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, concluiu que Muhammad não foi atingido pelo fogo da IDF e talvez nunca sequer tivesse sido baleado ou morto.

Estas alegações foram veementemente rejeitadas por Jamal al-Durrah, que se ofereceu para exumar o corpo do filho, e pela France 2. As acusações de que a cena foi uma farsa culminaram em um processo judicial na França. A France 2 processou por difamação o comentarista de mídia francês Philippe Karsenty, que fez a alegação. Em 2013, um tribunal francês acabou por absolver Karsenty, em uma decisão que foi vista como uma vitória para seus apoiadores, embora a rede de televisão e seu cinegrafista mantivessem a defesa da precisão de sua reportagem.

Para Talal Abu Rahma, a filmagem foi um marco em sua carreira, rendendo-lhe o prestigiado Rory Peck Award em 2001. Em entrevista ao canal Al Jazeera, ele relembrou o dia com clareza, descrevendo a situação como "chovendo balas" e afirmando que tentou, em vão, salvar o menino e seu pai. Sua resposta às alegações de que as imagens foram encenadas sempre foi a mesma: "A câmera não mente".

Um legado que persiste

Mais de duas décadas depois, a história de Muhammad al-Durrah permanece uma ferida aberta no conflito israelense-palestino. O caso transcendeu o fato em si e se transformou em um poderoso símbolo, frequentemente invocado para ilustrar o custo humano da violência. A data de 30 de setembro não só rememora a curta vida do menino, mas também a coragem do cinegrafista que registrou seu momento final e as complexas disputas de narrativa que podem surgir de uma única imagem.

Com informações de: Wikipedia, Al Jazeera, The Guardian. ■