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Os milhões nas ruas de 2025 e o "remonte" midiático de 2013
Especialistas e dados mostram que protestos contra a PEC e anistia têm natureza, pautas e financiamento radicalmente diferentes das Jornadas de Junho de 2013, de qual comparações não se sustentam
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■   Bernardo Cahue, 22/09/2025

Em mais um movimento covarde de alguns canais do conglomerado de imprensa e massivamente nas redes sociais, uma narrativa tenta equiparar as recentes manifestações de 21 de setembro de 2025 contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia aos atos de 2013. No entanto, uma análise crítica dos fatos revela que a comparação é, no mínimo, esdrúxula. Enquanto as Jornadas de Junho foram um movimento de natureza inicialmente apartidária e posteriormente cooptado por grupos com campanhas televisivas específicas, os atos do último domingo nasceram com uma identidade político-partidária clara e um financiamento pulverizado, majoritariamente ancorado em movimentos sociais e sindicais.

Natureza e Liderança dos Movimentos

Os protestos de 2025 foram convocados abertamente por frentes como Povo Sem Medo e Brasil Popular, ligadas a partidos de esquerda como PT e PSOL, e contaram com a adesão de centrais sindicais. A participação de figuras públicas foi marcada por manifestações individuais de artistas que decidiram por conta própria se posicionar. Já em 2013, o "Movimento Vem Pra Rua" emergiu como uma força de organização, notadamente com um perfil diferente e que, em sua fase posterior, contou com financiamento direto de banqueiros e uma campanha televisiva explícita, elementos totalmente ausentes no cenário atual.

Pautas e Reivindicações Específicas

As manifestações de 2025 tinham como foco duas pautas concretas do Congresso Nacional:

  • A PEC da Blindagem: Proposta que exige autorização do Congresso para abertura de processos penais contra parlamentares no STF, aprovada de forma "quase unilateral" pela Câmara dos Deputados.
  • O Projeto de Lei da Anistia: Texto que busca perdoar ou reduzir penas de condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em contraste, as Jornadas de 2013 eclodiram a partir de uma pauta difusa (contra o aumento das tarifas de ônibus) que se amplificou para uma série de demandas heterogêneas contra os serviços públicos e o sistema político como um todo, sem um alvo legislativo específico. Não obstante, os movimentos de 2013 iniciaram de forma analiticamente "oportunizada": meio às tensões diplomáticas entre Dilma Rousseff e Barack Obama após o caso dos "grampos telefônicos", caso que sustenta a tese conspiratória de que as Jornadas teriam sido majoritariamente financiadas pela USAID. O resultado do movimento foi devastador: apesar da vitoria de Dilma Rousseff ao segundo mandato em 2014, o mesmo movimento contínuo alimentou o "lavajatismo", o antipetismo, o impeachment de Dilma Rousseff e, posteriormente, o bolsonarismo.

Contextos históricos incomparáveis

A tentativa de equalizar os dois momentos é um exercício de apagamento ou distorção de contextos. As manifestações de 2025 são uma reação direta a iniciativas legislativas percebidas como um retrocesso democrático e uma promessa de impunidade, articulada por uma base política definida. Já 2013 representou uma explosão de insatisfação popular de origens multifacetadas, canalizada por atores políticos que não os tradicionais partidos de esquerda. Tratá-los como iguais é ignorar a complexidade da política brasileira e as razões específicas que levam cidadãos às ruas em diferentes momentos da história.

Com informações de: Agência Brasil, BBC News Brasil, CNN Brasil, Estado de Minas, G1. ■