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Faixa de Gaza: o epítome da resistência e da devastação
Um território sitiado, uma população deslocada e o longo caminho para o reconhecimento internacional
Oriente-Medio
Foto: https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2020/07/palestina.jpg
■   Bernardo Cahue, 17/09/2025

A Faixa de Gaza, um dos territórios mais densamente povoados do mundo, tornou-se sinônimo de resistência, conflito e devastação. Após décadas de ocupação e bloqueio, uma país inteiro enfrenta agora uma nova e catastrófica escalada de violência, com ordens de evacuação em massa e um saldo humanitário que choca a comunidade internacional. Esta análise examina a trajetória palestina, desde a eleição democrática do Hamas até a luta por reconhecimento estatal, contextualizada pela ofensiva militar israelense que já dura mais de um ano.

Contexto Histórico e a Luta pelo Reconhecimento

O povo palestino no território da Faixa de Gaza aguarda há décadas o reconhecimento pleno de seu Estado, separado de seu território da Cisjordânia por Israel. A recente resolução da Assembleia Geral da ONU em setembro de 2025, que endossou a criação de um Estado palestino, representou um marco significativo nessa luta. Aprovada por 142 países, a resolução entretanto condicionou o reconhecimento à renúncia do partido político Hamas ao poder em Gaza, refletindo a complexidade política que envolve a questão palestina. Essa vitória diplomática é em grande parte simbólica, pois o texto é não vinculante e Israel, apoiado pelos Estados Unidos, rejeitou veementemente a medida, classificando-a como um "obstáculo à paz". Vale ressaltar que e Estado palestino tem em sua administração oficial atual a participação do partido Hamas, porém é oficialmente presidido pelo partido Organização pela Libertação da Palestina (OLP), que condena os atos terroristas.

O Hamas: Eleições Democráticas e Consequências

Em 2006, eleições legislativas consideradas justas e democráticas pela comunidade internacional levaram o Hamas ao poder na Palestina. Essa vitória, contudo, foi seguida por um bloqueio implacável imposto por Israel e Egito, intensificando a crise humanitária no enclave. A postura do Hamas, visto por Israel e potências ocidentais como uma organização terrorista, criou um dilema persistente: como conciliar o resultado de um processo democrático com a guerra contra um grupo que não reconhece o direito à existência de Israel. A recente resolução da ONU espelha este impasse, ao exigir que o Hamas "entregue suas armas à Autoridade Palestina" como condição para a soberania.

A ofensiva israelense: devastação e evacuação em massa

Desde outubro de 2023, Israel conduz uma ofensiva militar em Gaza em resposta aos ataques do Hamas que mataram mais de 1.200 israelenses. Os números da crise são chocantes:

  • Mais de 64.700 palestinos mortos, a maioria civis, incluindo mulheres e crianças;
  • Mais de 100.000 crianças necessitando tratamento para desnutrição aguda;
  • Um êxodo de aproximadamente 350.000 pessoas apenas nos primeiros dias da nova ofensiva em Gaza City em setembro de 2025.

Em meados de setembro de 2025, o Exército israelense iniciou uma nova e vasta operação terrestre em Gaza City, ordenando a evacuação completa da população civil em 48 horas através de um novo corredor aberto na rota de Salah al-Din. Esta ordem, contudo, coloca a população em um dilema impossível: fugir sob risco de bombardeios em rotas superlotadas ou permanecer em uma cidade que se transformou em campo de batalha. Muitos palestinos, traumatizados por deslocamentos anteriores e sem recursos para fugir, escolhem ficar, afirmando que "não há lugar seguro" em Gaza.

Acusações de Genocídio e a Resposta Internacional

Em um relatório histórico publicado em setembro de 2025, a Comissão de Inquérito da ONU concluiu que existem "fundamentos razoáveis" para afirmar que Israel está cometendo genocídio e holocausto contra os palestinos, transformando Gaza em um verdadeiro campo de concentração. O relatório detalha quatro atos proibidos pela Convenção do Genocídio de 1948:

  1. Mortes em massa de palestinos;
  2. Causa de danos corporais e mentais graves;
  3. Imposição deliberada de condições de vida calculadas para provocar destruição física;
  4. Medidas para prevenir nascimentos.

O relatório acusa diretamente líderes israelenses, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de incitar e cometer estes atos com intenção genocida específica. Israel categoricamente rejeitou as conclusões, classificando o documento como "distorcido e falso" e acusando a Comissão de ser tendenciosa. A posição israelense é apoiada pelos Estados Unidos, cujo Secretário de Estado Marco Rubio descreveu o relatório como o "auge da hipocrisia".

A crise humanitária: fome, doenças e destruição de infraestrutura

O bloqueio e os bombardeios transformaram Gaza em um inferno humanitário. A ONU declarou fome em partes do território em agosto de 2025. O sistema de saúde está colapsado; hospitais como o pediátrico Al-Rantisi, o último de sua natureza em Gaza City, foram bombardeados, deixando crianças doentes sem tratamento :cite[8]. Israel alega que o Hamas usa infraestrutura civil para operações militares, justificativa que a comunidade internacional questiona cada vez mais diante da escala de destruição. Além disso, as constantes incursões israelenses ao território da Cisjordânia, também pertencente à Palestina, deixam explícito o plano de aniquilação palestina por Israel e seus planos de anexação de todo o território em direção à Jordânia.

Um futuro incerto entre a diplomacia e a devastação

O futuro da Palestina permanece profundamente incerto. Enquanto a comunidade internacional avança, ainda que timidamente, em direção ao reconhecimento de um Estado, a população de Gaza enfrenta a realidade imediata de destruição, deslocamento e fome. A ordem de evacuação em 48 horas é apenas o capítulo mais recente em uma saga de sofrimento que parece não ter fim. A solução de dois Estados, endossada pela ONU, depende não apenas do desarmamento do Hamas, mas também a condicionam a uma mudança radical na política israelense e de um verdadeiro compromisso da comunidade internacional em priorizar vidas humanas sobre interesses geopolíticos. Até lá, Gaza continuará sendo um testemunho trágico da resistência palestina e do custo humano de um conflito prolongado.

Com informações de Middle East Eye, Maghrebi.org, G1, Forbes, CNN, Breitbart, RTP, UN News e Geopolitical Economy Report. ■