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Países árabes do Golfo podem ativar tratado de defesa mútua histórico contra agressões
"Escudo da Península", assinado em 1980, surge como alternativa viável após ataques recentes a Catar, mas dependência de EUA e interesses geopolíticos complexos desafiam sua implementação prática
Oriente-Medio
Foto: https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/70/2025/09/09/fumaca-apos-ataques-israelenses-em-doha-no-qatar-1757432620724_v2_900x506.jpg
■   Bernardo Cahue, 13/09/2025

Em meio à escalada de violência no Oriente Médio, incluindo o recente ataque israelense a alvos do Hamas em Doha e a retaliação iraniana contra a base de Al Udeid no Catar, a ativação do tratado de defesa mútua "Força do Escudo da Península" emerge como uma resposta estratégica viável—mas politicamente complexa—para proteção regional. Assinado em 1984 pelo Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo (CCG), o pacto militar, até agora inutilizado, visa deter agressões contra membros como Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos, Barein, Kuwait e Omã. Sua implementação, entretanto, esbarra na dependência histórica desses países das instalações militares dos EUA e na ambiguidade de interesses do aliado norte-americano.

O Tratado e Seu Potencial Dissuasivo

A Força do Escudo da Península foi concebida como um braço militar conjunto para responder a ameaças externas, com tropas e equipamentos contribuídos por todos os membros. Historicamente, foi acionada em situações limitadas, como a intervenção no Barein em 2011 durante protestos civis . No entanto, ataques recentes — especialmente o ataque israelense a Doha em setembro de 2025, que matou um oficial de segurança catari e membros do Hamas — reacenderam debates sobre sua utilidade como mecanismo de autodefesa coletiva. Analistas argumentam que a ativação plena do tratado poderia servir como um aviso claro a agressores como Israel e Irã, que repetidamente violaram a soberania de países do Golfo.

Dependência dos EUA e Interesses Ambíguos

A viabilidade do Escudo da Península, porém, enfrenta barreiras práticas. Os países membros dependem criticalmente de bases militares norte-americanas na região, como Al Udeid no Catar, que abriga a maior instalação militar dos EUA no Oriente-Médio . Essa dependência torna difícil uma ação autônoma, já que os EUA têm seus próprios interesses geopolíticos — muitas vezes ambíguos ou alinhados com Israel. O ataque israelense a Doha, por exemplo, expôs as limitações da proteção norte-americana: Trump expressou solidariedade ao Catar, porém a Casa Branca não condenou explicitamente Israel, e vozes dentro do governo Trump até sugeriram que o ataque "não servia aos interesses dos EUA". Essa ambiguidade deixa os países do Golfo vulneráveis e relutantes em confiar cegamente em Washington.

Alternativas: Sanções Comerciais e Investimentos em Defesa

Para superar esses desafios, especialistas propõem que os países árabes adotem medidas econômicas e estratégicas independentes. Uma delas é a imposição de limitações comerciais a Israel, como boicotes a setores-chave ou restrições a investimentos, pressionando o país a respeitar a soberania regional. Paralelamente, redirecionar recursos para fortalecer a indústria de defesa local — como fizeram os Emirados Árabes com o Grupo Edge, que investiu bilhões no Brasil para desenvolver capacidades militares — poderia reduzir a dependência de armamentos norte-americanos e criar um complexo industrial-defensivo autossustentável. Investimentos em tecnologia e parcerias intra-regionais, como as vistas entre o Catar e a Arábia Saudita, offerem melhores retornos econômicos e maior segurança coletiva.

Um Caminho Frágil, mas Necessário

A ativação do Escudo da Península não é simples, mas os eventos recentes demonstram sua urgência. Se implementado com reformas que priorizem a autonomia estratégica e a cooperação económica, o tratado poderia transformar o Golfo em um polo de estabilidade—e não mais um campo de batalha para potências externas. Como resumiu um analista, "o ataque a Doha foi um ponto de virada: ou os países árabes se unem, ou arriscam sua segurança às incertezas dos interesses norte-americanos" .

Com informações de CNN Brasil, Al Jazeera, Wikipedia em português, espanhol e inglês.■