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O jogo duplo entre Washington, Moscou e Bruxelas
Enquanto Trump e Putin selavam reaproximação no Alasca, UE endurecia sanções à Rússia em movimento que expõe fraturas transatlânticas, num alinhamento criticado como subserviente aos EUA
Editorial
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSEDNNK28cp7dA3wHXvvD7oAzFBhaJu8bLIU3CjQeJEAPwGqm1c8JKDJQo&s=10
■   Bernardo Cahue, 16/08/2025

O encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin no Alasca, em 15 de agosto, e o anúncio simultâneo de novas sanções da UE contra a Rússia pintam um retrato de contrastes explosivos na geopolítica global. Enquanto os presidentes dos EUA e Rússia compartilhavam uma limusine sob salvas militares e tapete vermelho em Anchorage, a União Europeia aprovava sua "mais severa" rodada de sanções, incluindo um teto de US$47,60 para o barril de petróleo russo – abaixo do preço de mercado. Este movimento coordenado, porém não articulado, revela a emergência de um funil norte-americano que redireciona as relações globais através de Washington.

A Diplomacia do Contraditório:

  • Cúpula do Alasca: Trump elevou Putin de "pária internacional a líder global", discutindo parcerias em energia nuclear, tecnologia e reconfiguração geoeconômica do mundo em zonas de influência controladas por EUA, Rússia e China. O encontrou durou 3 horas com direito a convite público de Putin para Moscou: "Da próxima vez em Moscou".
  • Sanções Europeias: No mesmo dia, a UE aprovava seu 18º pacote de sanções, mirando setor energético, bancário e industrial russo. Kaja Kallas, chefe de política externa da UE, declarou: "Continuaremos a aumentar os custos da guerra".

A Manobra do Funil Americano:

A coincidência temporal não é acidental. Trump vinha pressionando aliados a romperem com Moscou, enquanto negociava diretamente com Putin. Dias antes da cúpula, a UE fechou um acordo comercial com os EUA considerado "escandaloso" e "ato de submissão" por líderes europeus:

  • Tarifas de 15% sobre exportações da UE aos EUA, contra 2.5% anteriores
  • Compromisso europeu de investir US$600 bilhões nos EUA
  • Críticas ferozes do premiê francês François Bayrou: "É um dia sombrio quando uma aliança de povos livres se resigna à submissão"

Von der Leyen na Mira:

A presidente da Comissão Europeia tornou-se o símbolo desta suposta subserviência:

  • Defendeu o acordo EUA-UE como "estabilidade" apesar de admitir que 15% "não deve ser subestimado"
  • Foi acusada por Viktor Orbán de ter sido "o café da manhã de Trump"
  • Permitiu que a "questão ucraniana" se tornasse secundária na agenda EUA-Rússia

As Consequências da Dupla Jogada:

Enquanto Trump anunciava conversas "muito produtivas" com Putin, a UE via sua unidade rachar:

  1. Divisão Europeia: França e Hungria criticaram violentamente o acordo comercial, enquanto Itália e Alemanha o aceitaram como mal necessário
  2. Autonomia Estratégica Minada: A UE dependeu da ameaça de Trump de cortar ajuda à Ucrânia para pressionar Putin, enfraquecendo sua posição própria
  3. Rússia Fortalecida: Propagandistas do Kremlin comemoraram o fim do "isolamento internacional", usando o Alasca como símbolo nacionalista

O Caminho Fraturado:

A contradição expõe uma reordenação perigosa: Trump negocia zonas de influência com Putin enquanto a UE paga o preço geopolítico via sanções e tarifas. Como analisou Fernanda Magnotta, "a Europa oscila entre autonomia estratégica e dependência do guarda-chuva norte-americano". O resultado é um Ocidente fragmentado, onde o "funil" de Washington dita os termos da guerra e da paz – mesmo quando isso significa sentar-se com o inimigo de seus aliados sob tapete vermelho.

Com informações de: CNN Brasil, Consilium, DW, RFI, Folha de S.Paulo, G1