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Como o encontro Trump-Putin ofuscou ataque dos EUA ao Brasil
Enquanto líderes trocavam elogios no Alasca, sanções atingiam famílias de gestores brasileiros e revelavam nova frente de pressão geopolítica contra países do BRICS
Editorial
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTCt8MjUy_B-sp88HwmPNMRKkmH7hC_umNrIWH-IbwlsJONImnbhpEleD4&s=10
■   Bernardo Cahue, 16/08/2025

A reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder russo, Vladimir Putin, em 15 de agosto de 2025 no Alasca, terminou sem acordos concretos sobre a Ucrânia, mas com uma atmosfera de "portas abertas" para futuras negociações. Enquanto as câmeras registravam sorrisos e apertos de mão, porém, o governo Trump aplicava sanções contra brasileiros envolvidos no programa Mais Médicos, em uma ação que atingiu até familiares de gestores e enviou um recado geopolítico sobre acordos com Cuba.

  • Cúpula sem substância: O encontro de três horas em Anchorage terminou sem o esperado cessar-fogo na Ucrânia. Trump classificou o diálogo como "muito produtivo", mas admitiu que não chegaram a um acordo, apenas a um "progresso" em alguns pontos. Putin manteve sua posição de que a paz só viria com a eliminação das "causas primárias" do conflito – expressão interpretada como exigência de neutralização geopolítica da Ucrânia.
  • Contraste nas ações: Paralelamente ao encontro, o Departamento de Estado, sob comando de Marco Rubio, impunha sanções a dois funcionários do Ministério da Saúde brasileiro e revogava vistos de familiares do ministro Alexandre Padilha, incluindo sua esposa e filha de 10 anos. As medidas atingiram Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman por suposta cumplicidade com o "esquema de exportação de trabalho forçado" cubano via Mais Médicos.

O programa brasileiro, que já operou com médicos cubanos entre 2013 e 2018, foi alvo de críticas do governo Trump por "enriquecer o corrupto regime cubano". Padilha rebateu as acusações, lembrando que o modelo ocorre em 61 países, incluindo aliados dos EUA como Itália, e que o Brasil não mantém mais parcerias com Cuba no programa. A sanção a familiares foi classificada como "covarde" pelo ministro, que vinculou a ação ao lobby de Eduardo Bolsonaro nos EUA.

  • BRICS no alvo: As sanções ocorrem num contexto em que Brasil, Cuba (alvo indireto) e Rússia são membros ativos do BRICS. Enquanto o encontro no Alasca buscava uma reaproximação EUA-Rússia (mesmo sem resultados práticos), as medidas contra o Brasil sinalizam uma política externa agressiva contra membros do bloco que desafiam as sanções norte-americanas a Cuba.
  • Temas ausentes: A reunião Trump-Putin não abordou dois temas que circulavam como possíveis moedas de troca: o acesso a terras raras em territórios ucranianos ocupados pela Rússia e as relações comerciais com a Venezuela. Propostas econômicas que incluíam exploração de recursos naturais do Alasca e alívio de sanções à aviação russa também não avançaram após a ausência de acordo.

Informações Adicionais

  • O Mais Médicos atua atualmente com 92,25% de médicos brasileiros (24,9 mil profissionais), atendendo 73 milhões de pessoas em áreas remotas.
  • A UE anunciou novas sanções à Rússia no mesmo dia do encontro, enquanto os EUA suspendiam temporariamente algumas restrições para viabilizar as negociações.

Com informações de: G1, AP News, BBC, Al Jazeera, Kyiv Independent, Ukraine Today, WTOP, Star Tribune