Siga nossas redes sociais
Logo     
Siga nossos canais
   
O Cliente Perfeito
Como os EUA punem seu segundo maior parceiro comercial – e por que o tiro pode sair pela culatra
Editorial
Foto: https://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2024/07/image-22-6.png
■   Bernardo Cahue, 11/07/2025
O presidente Donald Trump acaba de impor 50% de tarifa sobre todos os produtos brasileiros. A justificativa? Uma suposta relação comercial "injusta". A ironia? Os Estados Unidos nunca venderam tanto para o Brasil quanto agora – e são eles que lucram com o desequilíbrio.

O paradoxo dos números
Enquanto o Brasil ocupa o honroso posto de 2º maior parceiro comercial dos EUA, os americanos sequer entram no top 10 dos parceiros brasileiros – são apenas o 15º colocado. A matemática é cruel:
  • Para o Brasil, os EUA absorvem 12% de tudo que exportamos;
  • Para os EUA, o Brasil representa míseros 1,4% de suas importações globais.
É como um elefante brigando com um gato – mas quem morde é o elefante.

Quem sangra primeiro?
Os setores estratégicos brasileiros já estremecem:
  • Café: 33% do consumo americano vem do Brasil. Sem nosso grão, os EUA enfrentariam um caos nas xícaras e nos preços;
  • Suco de laranja: Metade do líquido dourado que os americanos bebem é brasileiro;
  • Aço e aviões: Setores já asfixiados por tarifas anteriores agora enfrentam asfixia total.
Mas o golpe é de ricochete: 85% dos turborreatores que movem nossa indústria aeronáutica vêm dos EUA. Sem eles, até a Embraer engasga.

As saídas invisíveis
Enquanto Trump ameaça, o Brasil já gira o leme:
  • China: Comprou US$ 93,4 bilhões em 2024 – mais que o dobro dos EUA. E cresce como compradora de manufaturados;
  • Japão e Rússia: Ampliam compras de commodities, de carne a minério;
  • Mercosul e UE: Acordos em curso podem redirecionar US$ 20 bilhões em exportações industriais.
Nas palavras de um exportador paulista: "Trump nos deu um empurrão para deixarmos de ser reféns de um só mercado".

O preço da arrogância
Os EUA podem até celebrar uma vitória política. Mas economicamente?
  • Custos domésticos: Carne, café e chocolate mais caros nos supermercados americanos;
  • Fuga de investimentos: Empresas como John Deere e Boeing têm 9 mil fornecedores brasileiros – romper essa cadeia é suicídio industrial;
  • Isolamento geopolítico: O "castigo" ao Brasil soa como um alerta para Índia, África do Sul e outros BRICS.
Enquanto isso, o superávit comercial americano com o Brasil – US$ 1,7 bilhão só em 2025 – começa a evaporar.

O veredito
Nesta guerra assimétrica, o Brasil sangra, mas respira. Perde um cliente importante, mas não vital. Já os EUA perdem algo mais valioso que dólares: credibilidade. Ao taxar um aliado que compra mais do que vende, Trump enterra a própria retórica de "reciprocidade". O cliente perfeito – aquele que sempre paga e nunca cobra – está aprendendo a virar as costas.

Enquanto agosto se aproxima, o Brasil descobre que seu maior trunfo não estava em Washington, mas na própria capacidade de diversificar. Ironia das ironias: quem deu essa lição foi Donald Trump.

Com informações de Deutsche Welle, UOL, O Globo, CNN, Aos Fatos.org, Infomoney e EBC.■