Siga nossas redes sociais
Logo     
Siga nossos canais
   
Trump nomeia enviado especial para a Groenlândia com o objetivo declarado de anexação
Nomeação do governador Jeff Landry reacende tensão diplomática; Dinamarca convoca embaixador dos EUA e rejeita proposta, enquanto população groenlandesa demonstra resistência à ideia
America do Norte
Foto: https://img.band.com.br/image/2025/12/05/trump-sorteia-papel-dos-estados-unidos-no-sorteio-da-copa-1519_1200x900.jpg
■   Bernardo Cahue, 22/12/2025

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou no domingo (21) o governador da Louisiana, Jeff Landry, como seu enviado especial para a Groenlândia. Em suas declarações, Landry assumiu publicamente o objetivo de "fazer da Groenlândia parte dos EUA". A nomeação representa a mais recente e concreta ação de Trump para adquirir o território autônomo dinamarquês, um desejo que ele manifesta desde seu primeiro mandato.

A reação internacional foi rápida e negativa. O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, declarou-se "profundamente incomodado" e convocou o embaixador dos EUA em Copenhague para explicações. A União Europeia emitiu nota defendendo a soberania territorial da Groenlândia e do Reino da Dinamarca.

Rejeição na Groenlândia e um contexto de busca por independência

A proposta de anexação é amplamente rejeitada pela população e pelas autoridades da Groenlândia. O primeiro-ministro groenlandês, Jens-Frederik Nielsen, exigiu respeito à integridade territorial e afirmou que a ilha decidirá seu próprio futuro. Uma parlamentar local deixou claro que "não há qualquer desejo disso na Groenlândia".

Este episódio ocorre em um momento político delicado para o território, que busca maior autonomia:

  • Em março de 2025, eleições gerais na Groenlândia foram vencidas por partidos que defendem uma independência gradual da Dinamarca.
  • Uma pesquisa recente indicou que apenas 6% da população apoia a incorporação aos Estados Unidos, enquanto a maioria vê o interesse de Trump como uma ameaça.
  • O processo de independência total, previsto na Lei de Autogoverno de 2009, é complexo e, segundo especialistas, pode levar mais de uma década para ser concluído.

Interesses estratégicos e um histórico de tentativas

O interesse dos Estados Unidos pela Groenlândia não é novo e se baseia em dois pilares principais: segurança nacional e recursos naturais.

Do ponto de vista militar, a localização da ilha no Ártico é considerada vital. Trump argumenta que ela serve como plataforma estratégica para monitorar a Rússia e a China, além de proteger rotas de navegação. Os EUA mantêm a Base Espacial de Pituffik (antiga Base Aérea de Thule) no noroeste da ilha desde a Guerra Fria, sob um acordo de defesa com a Dinamarca de 1951.

Economicamente, a Groenlândia abriga vastos recursos inexplorados, considerados essenciais para a transição energética e a indústria de alta tecnologia:

  • Minérios de terras raras.
  • Uranio.
  • Estimativas de 50 bilhões de barris de petróleo e gás offshore.

Esta é a mais recente de uma série de tentativas históricas de aquisição:

  1. 1867 e 1910: Propostas iniciais consideradas pelo governo americano.
  2. 1946: O presidente Harry Truman ofereceu US$ 100 milhões em ouro à Dinamarca pela ilha, mas foi recusado.
  3. 2019: Durante seu primeiro mandato, Trump sugeriu a compra da Groenlândia, gerando escárnio e recusa formal.

Postura agressiva e cenário futuro

Diferente de abordagens anteriores, a retórica do segundo mandato de Trump tem sido mais assertiva. Em janeiro de 2025, ele não descartou o uso de "força" econômica ou militar para tomar o controle da Groenlândia (e do Canal do Panamá). Seu vice-presidente, J.D. Vance, também visitou a base militar americana na ilha em março, em uma visita considerada desrespeitosa pelas autoridades locais.

Analistas consideram a hipótese de uma anexação forçada improvável, dada a aliança entre Dinamarca e EUA na OTAN e as ramificações legais internacionais. O caminho teórico para uma mudança de soberania passaria pela independência groenlandesa, seguida de uma decisão de associação com os EUA. No entanto, o sentimento popular atual torna este cenário remoto. A nomeação de Landry, portanto, parece ser mais um movimento de pressão diplomática para reforçar a influência americana no Ártico do que um plano concreto de anexação iminente.

Com informações de: G1, CNN Portugal, UOL, BBC, Agência Brasil, The Hill, Wikipedia (versões em inglês e português)