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Bielorrússia liberta vencedor do Nobel e oposicionistas em troca de suspensão de sanções dos EUA
Acordo diplomático negociado em Minsk resulta na libertação de 123 pessoas, incluindo o símbolo de resistência Maria Kolesnikova, e no alívio de restrições à potassa, commodity vital para a economia bielorrussa
Leste Europeu
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT31NsfMr7P5h9tomBh5Xvc00Y0M-wd6Rir_A&s
■   Bernardo Cahue, 14/12/2025

O governo do presidente Alexander Lukashenko libertou 123 prisioneiros neste sábado (13), em um acordo direto com os Estados Unidos que envolve o fim de sanções americanas ao setor de potassa, um fertilizante que é a principal exportação da Bielorrússia. Entre os libertados estão algumas das figuras mais emblemáticas da oposição e dos direitos humanos no país, como a ativista Maria Kolesnikova e o vencedor do Prêmio Nobel da Paz Ales Bialiatski.

A libertação em massa é o ponto mais visível de uma aproximação diplomática entre Washington e Minsk, que vem sendo construída desde meados de 2024. O enviado especial dos EUA para a Bielorrússia, John Coale, que se reuniu com Lukashenko na sexta e no sábado, afirmou que o objetivo é a "normalização das relações" entre os dois países e que, à medida que isso avança, "mais e mais sanções serão suspensas". Em contrapartida imediata ao perdão concedido por Lukashenko, os EUA suspenderam as sanções à produtora estatal de potassa Belaruskali.

O Acordo e a Negociação

O acordo representa uma concessão significativa de Lukashenko, que governa o país com mão de ferro há mais de três décadas. Analistas veem a movimentação como uma tentativa do líder bielorrusso de aliviar o isolamento internacional e a pressão econômica causada pelas sanções ocidentais, impostas tanto pela repressão interna quanto pelo apoio de Minsk à invasão russa da Ucrânia em 2022.

A libertação segue um padrão de gestos semelhantes nos últimos meses:

  • Junho de 2025: 14 prisioneiros foram libertados, incluindo Siarhei Tsikhanouski, marido da líder da oposição no exílio Sviatlana Tsikhanouskaya, após visita de um enviado dos EUA.
  • Setembro de 2025: Um acordo resultou na libertação de 52 detidos, incluindo cidadãos de vários países europeus. Na ocasião, os EUA aliviaram sanções sobre a companhia aérea estatal Belavia.
  • Desde julho de 2024: Com este último grupo, o número total de prisioneiros libertados em troca de concessões ocidentais ultrapassa a marca de 430.

Quem São os Libertados

Os 123 indivíduos libertados incluem um cidadão americano, seis de países aliados dos EUA e cinco ucranianos. A maioria (114) foi levada para a Ucrânia, enquanto um grupo menor, incluindo Bialiatski, seguiu para a Lituânia.

Conheça algumas das principais figuras:

  • Ales Bialiatski (63 anos): Fundador do grupo de direitos humanos Viasna, foi laureado com o Nobel da Paz em 2022 enquanto estava na prisão. Condenado a 10 anos por acusações amplamente vistas como politicamente motivadas, ele passou 1.613 dias atrás das grades. Ao ser liberado, declarou: "Mais de mil presos políticos na Bielorrússia permanecem atrás das grades simplesmente porque escolheram a liberdade. E, claro, eu sou a voz deles".
  • Maria Kolesnikova (43 anos): Figura central dos protestos massivos de 2020 e aliada próxima de Tsikhanouskaya. Tornou-se um símbolo de resistência ao rasgar seu passaporte para evitar a deportação forçada. Foi condenada a 11 anos de prisão. Após a libertação, expressou "uma sensação de felicidade inacreditável" mas lembrou daqueles que ainda não são livres.
  • Viktar Babaryka (62 anos): Ex-banqueiro e filantropo que tentou desafiar Lukashenko nas eleições de 2020. Foi preso antes da votação e sentenciado a 14 anos por acusações de corrupção consideradas políticas.
  • Maryna Zolatava: Editora-chefe do popular site de notícias independente Tut.by, que foi fechado pelas autoridades. Ela havia recebido uma sentença de 12 anos de prisão.

Contexto e Reações

Apesar da celebração pelas libertações, organizações de direitos humanos e a oposição bielorrussa fazem alertas sérios. A Anistia Internacional afirmou que a libertação "não apaga um sistema que ainda mantém centenas, se não milhares, de outros definhando atrás das grades meramente por se manifestarem". A líder oposicionista Sviatlana Tsikhanouskaya, que aguardava os libertados em Vilnius, advertiu que Lukashenko "vai vender pessoas pelo preço mais alto possível" e que as sanções são a única alavanca para forçar mudanças.

Ela e outros analistas destacam que a repressão continua ativa no país, com novas detenções ocorrendo regularmente, e que o alívio das sanções europeias, mais dolorosas para a economia bielorrussa, deve ser condicionado a mudanças estruturais e ao fim do apoio à guerra na Ucrânia.

Próximos Passos e a Guerra na Ucrânia

O diálogo EUA-Bielorrússia também abordou outros temas espinhosos. O enviado John Coale mencionou que Lukashenko deu "bons conselhos" sobre como abordar a guerra na Ucrânia, aproveitando sua longa amizade com o presidente russo Vladimir Putin. No entanto, qualquer progresso futuro nas relações bilaterais, conforme um oficial americano, também dependerá da resolução de tensões com a Lituânia, como o envio de balões de contrabando que afetam o espaço aéreo lituano.

O acordo demonstra uma clara divergência de estratégia entre os EUA e a Europa, que mantém sua política de sanções e isolamento contra o regime de Lukashenko. Enquanto Washington prioriza um acordo tangível que liberta prisioneiros, a União Europeia mantém pressão por uma transformação política mais profunda na Bielorrússia.

Com informações de: Al Jazeera, CNN, Christian Science Monitor, BBC, ABC News, WRAL, Yahoo News, Amnesty International, Business Day, The Washington Post ■