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Enviado dos EUA leva proposta de paz a Putin em teste decisivo
Após conversas 'duras mas construtivas' com Ucrânia, nova rodada de negociações põe em foco as relações de Washington com o Kremlin
Leste Europeu
Foto: https://admin.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2025/11/Presidente-da-Russia-Vladimir-Putin-e-Steve-Witkoff-em-Moscou.jpg?w=419&h=283&crop=0
■   Bernardo Cahue, 01/12/2025

Em meio a sinais de que negociadores americanos conseguiram extrair concessões dolorosas da Ucrânia, o maior desafio da atual diplomacia itinerante dos Estados Unidos será, nos próximos dias, convencer a Rússia a aceitá-las. O enviado especial Steve Witkoff viaja a Moscou para se reunir com o presidente Vladimir Putin, após uma rodada de negociações intensas com uma delegação ucraniana em um clube exclusivo no sul da Flórida .

O cenário atual é de cauteloso otimismo, mas permeado por enormes incertezas. Enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou acreditar na viabilidade de um acordo "nos próximos dias" , o Kremlin se mantém publicamente irredutível em suas demandas máximas e afirma ainda não ter recebido oficialmente o plano revisado .

O "Progresso" nas Negociações EUA-Ucrânia

A reunião de domingo (30) no Shell Bay, clube privado do Grupo Witkoff, foi descrita por participantes como "dura, mas muito construtiva" e um "passo adiante" . O secretário de Estado Marco Rubio e o enviado Witkoff lideraram a delegação americana, que também incluiu Jared Kushner, genro do presidente Donald Trump. Do lado ucraniano, as discussões foram chefiadas por Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional .

Um gesto diplomático sutil marcou o encontro: o cardápio incluiu borsch ucraniano e holubtsi (rolinhos de repolho), pratos tradicionais do país, servidos enquanto as partes debatiam um dos tópicos mais espinhosos: a definição da futura fronteira no leste do país . Fontes relatam que, após uma hora em formato amplo, a discussão se concentrou por horas em um grupo restrito de três pessoas de cada lado, tendo a linha de controle territorial como tema quase exclusivo .

Os Pontos Sensíveis e as Soluções Criativas

O plano de paz original americano, um documento de 28 pontos vazado anteriormente, era amplamente visto como excessivamente favorável à Rússia e continha exigências inaceitáveis para Kiev e seus aliados europeus . Duas dessas demandas permanecem no centro das discussões:

  • Aspiração à OTAN: A proposta pedia que a Ucrânia renunciasse formalmente à sua ambição de ingressar na aliança, um desejo consagrado em sua constituição. Agora, negociadores discutem um cenário alternativo e complexo: garantias bilaterais entre os EUA e a Rússia, ou multilaterais entre a OTAN e Moscou, que efetivamente barrariam a entrada da Ucrânia, sem que Kiev precise rejeitar legalmente sua aspiração .
  • Controle do Donbas: A Rússia exige o controle total das regiões de Donetsk e Luhansk, que anexou, mas não conquistou militarmente por completo. A ideia de simplesmente ceder o território é considerada "fora de cogitação" por enfraquecer drasticamente a defesa ucraniana . Negociadores buscam fórmulas criativas para esse impasse, mas detalhes são mantidos em sigilo absoluto para não "arruinar a solução potencial" .

Como resultado das pressões ucranianas e europeias, o plano original de 28 pontos foi revisado e reduzido para 19 pontos, com alterações em tópicos como o tamanho das Forças Armadas ucranianas e o uso de ativos russos congelados .

A Frágil Posição Ucraniana

Zelensky navega em um mar de crises que enfraquecem sua posição na mesa de negociações:

  1. Pressão Militar: As forças russas avançam em múltiplas frentes (Zaporíjia, Pokrovsk, Kupiansk), e a Ucrânia enfrenta escassez de soldados para combatê-las .
  2. Instabilidade Política: Um grande escândalo de corrupção, envolvendo a suposta lavagem de US$ 100 milhões, levou à demissão do chefe de gabinete e principal negociador de Zelensky, Andriy Yermak . O Kremlin explorou o caso para questionar a legitimidade do governo em Kiev .
  3. Incerteza com Aliados: O financiamento militar futuro da Europa está em dúvida, embora a UE afirme que pode preencher eventuais lacunas .

O Teste Final: A Reunião em Moscou

A viagem de Steve Witkoff a Moscou representa o momento da verdade. Até agora, o Kremlin manteve uma postura pública de intransigência:

  • O porta-voz Dmitry Peskov advertiu que é "muito cedo" para falar em um acordo próximo .
  • O assessor presidencial Yuri Ushakov afirmou que a Rússia não recebeu oficialmente o plano revisado e que alguns de seus pontos "exigem análise séria" .
  • O histórico dos Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015 e posteriormente descartados por Putin, serve como um alerta sombrio. Esses acordos fracassaram em parte porque a Rússia os via como um instrumento para controlar as escolhas soberanas da Ucrânia, não como um caminho para uma paz genuína .

Analistas apontam que, para Putin, o controle territorial no Donbas é secundário em relação ao seu objetivo primordial: impedir a integração da Ucrânia ao Ocidente e manter o país em sua esfera de influência . Qualquer acordo que não contemple essa ambição estratégica pode ser apenas uma trégua temporária.

Um Longo Caminho por Percorrer

Embora o presidente Trump tenha declarado que há uma "boa chance de fechar um acordo" , o caminho à frente permanece longo e incerto. A diplomacia americana conseguiu, com dificuldade, alinhar posições com a Ucrânia, mas agora enfrenta seu teste mais difícil: um Kremlin que, até o momento, não deu qualquer sinal público de abrandar suas demandas maximalistas . O sucesso ou fracasso desta iniciativa de paz será determinado não em Miami ou Kiev, mas nas salas do Kremlin.

Com informações de: CNN en Español, CNN Brasil, CNN, CNBC, Wikipedia, O Globo, Carnegie Endowment for International Peace, El País, DN Portugal, Axios■