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Trump anuncia perdão a ex-presidente de Honduras condenado por narcotráfico e intervém em eleição
O presidente dos EUA, Donald Trump, chamou de "armadilha" a sentença de 45 anos de prisão imposta a Juan Orlando Hernández pelos tribunais americanos
America do Norte
Foto: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/wp-content/uploads/2025/11/sdbjy-600x400.png
■   Bernardo Cahue, 01/12/2025

Em uma decisão que mistura justiça criminal, política externa e eleições estrangeiras, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que concederá perdão total ao ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, condenado a 45 anos de prisão por narcotráfico. O anúncio, feito às vésperas das eleições presidenciais hondenhas, foi acompanhado de um endosso público a um candidato conservador e de uma ameaça de cortar ajuda ao país centro-americano, gerando críticas de legisladores americanos e acusações de ingerência política.

O Anúncio e a Justificativa Presidencial

Em uma publicação na plataforma Truth Social na sexta-feira (28), Trump afirmou que concederia um "perdão total e completo" a Juan Orlando Hernández. O presidente americano justificou a medida, alegando que o ex-líder hondurenho foi "tratado de forma muito dura e injusta", segundo avaliação de pessoas que ele diz respeitar. Em declarações posteriores, Trump sugeriu que o processo judicial contra Hernández foi uma "armadilha" do governo Biden, argumentando que "se alguém vende drogas naquele país, isso não significa que você prende o presidente e o coloca na prisão pelo resto da vida". A família de Hernández reagiu com orações e agradecimentos em sua casa em Tegucigalpa.

Os Crimes: Um "Narco-Estado" e 400 Toneladas de Cocaína

A decisão de Trump contrasta violentamente com a gravidade dos crimes pelos quais Hernández foi condenado. Em março de 2024, um tribunal federal em Nova York o considerou culpado por conspirar para importar cocaína para os Estados Unidos e por crimes relacionados a armas. A sentença de 45 anos e uma multa de US$ 8 milhões foram aplicadas em junho do mesmo ano.

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, durante seu mandato como presidente (2014-2022) e em cargos anteriores, Hernández estava no centro de uma das maiores conspirações de tráfico de drogas do mundo:

  • Escala do Tráfico: Ele facilitou a passagem de mais de 400 toneladas de cocaína com destino aos EUA através de Honduras.
  • Método: Abusou do poder público para proteger e enriquecer traficantes que lhe pagavam milhões em subornos, usando instituições do Estado, como a Polícia Nacional, para proteger carregamentos de drogas.
  • Violência: Os co-conspiradores usaram armas de fogo, incluindo metralhadoras e lança-granadas, para proteger o território do tráfico e seus carregamentos.

O procurador-geral Merrick Garland, durante o governo Biden, afirmou que Hernández "abusou de seu poder para apoiar uma das maiores e mais violentas conspirações de narcotráfico do mundo". Durante o julgamento, testemunhas relataram que o ex-presidente teria dito que seu objetivo era "enfiar droga nos gringos debaixo de seus narizes".

Reações Imediatas e Críticas nos EUA e em Honduras

O anúncio do perdão provocou reações imediatas e negativas de políticos americanos de ambos os partidos, além de descontentamento em Honduras:

  • Críticas Bipartidárias nos EUA: O senador republicano Bill Cassidy questionou publicamente a lógica de perdoar Hernández enquanto o governo Trump critica o líder venezuelano Nicolás Maduro por tráfico de drogas. O democrata Tim Kaine foi mais contundente, classificando o ato como "chocante" e sugerindo que "Trump não se importa nada com o narcotráfico".
  • Protesto em Honduras: A candidata governista Rixi Moncada acusou Trump de realizar uma "interferência intervencionista" nas eleições hondurenhas ao anunciar o perdão e o apoio a seu rival no fim de semana eleitoral.
  • Defesa do Advogado: Renato Stabile, advogado de Hernández, agradeceu a Trump, afirmando que "uma grande injustiça foi corrigida".

O Pano de Fundo Eleitoral: A Interferência na Véspera da Votação

O momento do anúncio não foi casual. A eleição presidencial em Honduras ocorreu no domingo (30), e Trump explicitamente vinculou seu perdão ao resultado do pleito.

  1. Apoio a um Candidato: Na mesma publicação, Trump declarou apoio ao candidato conservador Nasry "Tito" Asfura, do Partido Nacional (o mesmo de Hernández).
  2. Ameaça de Retaliação: O presidente americano advertiu que, se Asfura não vencer, os EUA não "desperdiçarão mais dinheiro" em ajuda, pois um "líder errado" traria resultados catastróficos.
  3. Ataques a Opositores: Trump também atacou os outros candidatos, chamando Rixi Moncada de "comunista" e Salvador Nasralla de "comunista limítrofe", acusando este último de tentar dividir o voto de direita.

Asfura, por sua vez, tentou se distanciar do ex-presidente condenado, afirmando não ter "nenhuma vinculação" com Hernández e que o partido não é responsável por ações pessoais.

Convergência com a Política Externa Trumpista na Região

A decisão de perdoar Hernández ocorre dentro de um contexto geopolítico mais amplo da administração Trump, marcado por uma postura agressiva na América Latina:

  • Operações Militares Antidrogas: O governo Trump intensificou operações navais no Caribe, alegando combater o narcotráfico. Desde setembro, ataques a embarcações suspeitas resultaram na morte de mais de 80 pessoas.
  • Críticas Internacionais: O Escritório de Direitos Humanos da ONU classificou esses ataques como "inaceitáveis" e uma violação dos direitos humanos, por se tratarem de "execuções extrajudiciais".
  • Foco na Venezuela: A retórica de Trump constantemente vincula a ameaça das drogas ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela. Ele acusou Maduro de liderar um cartel de drogas e ameaçou ações militares ou da CIA contra o país.

Nesse cenário, o perdão a um ex-alié condenado por traficar centenas de toneladas de cocaína é visto por analistas como uma contradição flagrante, mas que se alinha ao objetivo de influenciar aliados políticos na região.

Com informações de: BBC, U.S. Department of Justice - Office of Public Affairs, G1, CNN Brasil, Swissinfo.ch, CBS News■