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Haiti volta à Copa do Mundo após 52 anos em campanha marcada pela superação
Em meio a uma crise humanitária profunda, com estádios vazios e um técnico que nunca pisou no país, a seleção haitiana escreveu uma das páginas mais emocionantes das Eliminatórias
Central e Caribe
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQopLSkeMEC8IqDoEah-MuDVPAd1o3zyqpL0w&s
■   Bernardo Cahue, 21/11/2025

Em um feito histórico que transcende o esporte, o Haiti garantiu sua vaga para a Copa do Mundo de 2026, retornando ao maior palco do futebol mundial após 52 anos. A classificação, conquistada com uma vitória por 2 a 0 sobre a Nicarágua em 18 de novembro, representa um poderoso símbolo de resiliência para uma nação que enfrenta crises gravíssimas de segurança, energia e infraestrutura.

Uma campanha fora de casa

A trajetória do Haiti até a Copa de 2026 foi atípica desde o início. Devido à grave crise de segurança que assola o país, com gangues armadas controlando cerca de 90% da região metropolitana de Porto Príncipe, a seleção foi forçada a jogar todas as suas partidas como mandante longe de seu território. O principal estádio do país, o Stade Sylvio Cator, local onde o Brasil se apresentou em 2004 no "jogo da paz" contra a seleção do próprio Haiti, está abandonado e sob domínio de grupos criminosos desde fevereiro de 2024.

Por isso, a equipe exerceu seu mando de campo no Estádio Ergilio Hato, em Curaçao, a mais de 800 quilômetros de distância do Haiti. A situação é tão crítica que o técnico francês Sébastien Migné, que comanda a equipe há 18 meses, nunca pôde visitar o país. Ele precisou gerenciar o time remotamente, baseando-se em informações fornecidas pela federação haitiana.

Celebrações contra todas as probabilidades

A histórica classificação foi conquistada no Dia da Vitória, data em que o Haiti celebra a Batalha de Vertières, que consolidou a independência do país e a abolição da escravidão. A coincidência de datas atribuiu um significado ainda mais profundo à conquista esportiva.

No entanto, as celebrações nas ruas do Haiti foram diferentes de qualquer outra parte do mundo. Sem fornecimento regular de energia elétrica e com poucos aparelhos de TV, a população precisou se reunir em torno de telas de celular com conexão de internet intermitente para acompanhar o jogo decisivo.

"Mesmo quando assistimos, às vezes cai a imagem, mas a gente consegue ver o gol depois. A gente se anima, fica feliz, e a gente espera que um dia melhor, muito melhor, virá", relatou Maykenley Dantil, um estudante de agronomia que assistiu ao jogo com amigos na cidade de Pignon.

O time e o contexto da conquista

A base desta equipe histórica é formada quase que integralmente por atletas da diáspora haitiana, que atuam em clubes espalhados pelo mundo. Entre os principais nomes estão:

  • Duckens Nazon: atacante do Esteghlal (Irã) e artilheiro das Eliminatórias da CONCACAF, com 6 gols
  • Jean-Ricner Bellegarde: meio-campista do Wolverhampton Wanderers, da Inglaterra
  • Frantzdy Pierrot: atacante do AEK Atenas, da Grécia

A classificação para 2026 marcará apenas a segunda participação haitiana em Copas do Mundo. A primeira foi na edição de 1974, na Alemanha Ocidental, onde a equipe perdeu seus três jogos na fase de grupos contra Itália, Polônia e Argentina.

Apesar de ser um dos países menos desenvolvidos do mundo, o Haiti encontrou no futebol um dos poucos pontos de união para toda a sua população. Esta conquista não é apenas sobre futebol, mas sobre a capacidade de um povo de encontrar alegria e esperança mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.

Com informações de: TSN, ge.globo, ESPN, Veja, Facebook, Brasil de Fato, Voi ID, Wikipedia ■