Siga nossas redes sociais
Logo     
Siga nossos canais
   
Plano de paz de Trump para Ucrânia propõe cessão territorial e limites militares
Esboço de acordo de 28 pontos, elaborado em consultas entre Washington e Moscou, exigiria que Kiev reconhecesse territórios como russos e reduzisse suas forças armadas, em proposta que ressoa demandas do Kremlin
Leste Europeu
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRB78vVeOcXyrhsixVWS84jPKyIP9ZiDrs6HQ&s
■   Bernardo Cahue, 21/11/2025

Um plano de paz de 28 pontos elaborado pela administração do presidente dos EUA, Donald Trump, para encerrar a guerra na Ucrânia propõe que Kiev ceda territórios à Rússia, limite drasticamente o tamanho de suas forças armadas e renuncie à adesão à Otan, de acordo com o rascunho do documento obtido por veículos de imprensa e confirmado por fontes oficiais.

A proposta, que tem sido discutida de forma discreta por enviados americanos e russos, representa concessões significativas às demandas de longa data de Moscou. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, recebeu o plano e concordou em trabalhar com a administração Trump, mas líderes europeus manifestaram preocupação com os termos aparentemente desbalanceados.

Os principais pontos do plano

O esboço do acordo, que a Casa Branca descreve como um documento em evolução, contém disposições abrangentes que afetam desde questões territoriais até arranjos de segurança e econômicos.

Questões territoriais e soberania

  • Reconhecimento de territórios como russos: Crimeia, Luhansk e Donetsk seriam reconhecidas como "territórios russos de fato", inclusive pelos Estados Unidos, marcando uma reversão da política externa americana.
  • Zonas congeladas: As regiões de Kherson e Zaporizhzhia seriam "congeladas ao longo da linha de contato" atual, o que significaria o reconhecimento de fato das posições russas nessas áreas.
  • Zona tampão: As forças ucranianas se retirariam das partes de Donetsk que ainda controlam, criando uma "zona tampão neutra desmilitarizada" internacionalmente reconhecida como território pertencente à Rússia.
  • Compromisso territorial: Ambas as partes se comprometeriam a não alterar os acordos territoriais pela força, sob pena de perda de garantias de segurança.

Medidas de segurança militar

  • Redução das forças armadas: O tamanho das Forças Armadas da Ucrânia seria limitado a 600.000 efetivos, redução significativa em relação aos aproximadamente 900.000 atuais.
  • Veto à Otan: A Ucrânia se comprometeria a incluir em sua Constituição a renúncia à adesão à Otan, e a aliança incluiria em seus estatutos que a Ucrânia não será admitida no futuro.
  • Sem tropas da Otan: A Otan não estacionaria tropas na Ucrânia, com os caças europeus sendo estacionados na Polônia.
  • Garantias de segurança: Os EUA ofereceriam garantias de segurança, com compensação financeira, que seriam invalidadas se a Ucrânia lançasse um míssil contra Moscou ou São Petersburgo "sem motivo".

Medidas econômicas e humanitárias

  • Reconstrução com recursos russos: Um fundo de US$ 100 bilhões em ativos russos congelados seria usado para reconstruir a Ucrânia, com os EUA recebendo 50% dos lucros.
  • Reintegração russa: A Rússia seria reintegrada à economia global, com levantamento gradual de sanções e convite para retornar ao G8.
  • Usina nuclear dividida: A Central Nuclear de Zaporizhzhia seria reativada sob supervisão da AIEA, com a eletricidade produzida sendo distribuída igualmente (50%) entre Rússia e Ucrânia.
  • Eleições em 100 dias: A Ucrânia realizaria eleições dentro de 100 dias.
  • Amnistia total: Todas as partes receberiam "amnistia total por suas ações durante a guerra".

Reações e próximos passos

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o plano "é um bom plano tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia" e que a administração tem "falado igualmente com ambos os lados" para criar a proposta. No entanto, a secretária de Estado Marco Rubio sugeriu que o documento representa uma "lista de ideias potenciais" em vez de uma proposta concluída.

Enquanto Zelensky se diz pronto para um "trabalho construtivo, honesto e rápido", líderes europeus manifestaram ceticismo. A chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, alertou que "para qualquer plano funcionar, é necessário que os ucranianos e os europeus estejam a bordo". O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, foi mais direto: "paz não pode significar capitulação".

O Kremlin, por sua vez, afirmou através de seu porta-voz Dmitry Peskov que "não há consultas em curso", apenas "contatos", negando a existência de um processo formal de negociações.

Análise do contexto

O plano surge em um momento crítico do conflito, com as forças russas conquistando territórios e aumentando ataques aéreos. Analistas apontam que muitas das disposições da proposta ecoam demandas que Moscou já havia apresentado em negociações anteriores em Istambul, que foram rejeitadas pela Ucrânia e por funcionários europeus.

A exigência de que a Ucrânia realize eleições em 100 dias também gera questionamentos, considerando que o país está sob lei marcial e que partes significativas de seu território estão ocupadas. Da mesma forma, a anistia total para todas as ações durante a guerra potencialmente incluiria o presidente russo Vladimir Putin, que é alvo de um mandado do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra.

Com informações de: CNN Brasil, G1, DW, Sky News, Associated Press, BBC, Jovem Pan, Gazeta do Povo■