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"Operação Midas": corrupção no setor energético da Ucrânia abala governo Zelensky
Desvio de aproximadamente US$ 100 milhões em plena guerra levou à demissão de ministros e gerou críticas internacionais, sendo aproveitado pela Rússia em fórum da ONU
Leste Europeu
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSKN0TfS-fy0euJNI9WiMYfWhDDAP39iC7IZA&s
■   Bernardo Cahue, 20/11/2025

Um grande escândalo de corrupção, batizado de "Operação Midas", abalou o governo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, levando à demissão de dois ministros e gerando duras críticas do representante russo na ONU, Vasily Nebenzya, que se referiu às autoridades ucranianas como uma "gangue corrupta e ladra". As investigações, conduzidas pelo Gabinete Anticorrupção da Ucrânia (NABU), revelaram um sofisticado esquema de desvio de cerca de US$ 100 milhões (aproximadamente € 86 milhões) no setor energético do país.

De acordo com o NABU, o esquema funcionava por meio de um "sistema criminoso" que impunha subornos sobre contratos da estatal de energia atômica, a Energoatom. Os subcontratados eram obrigados a pagar entre 10% a 15% do valor dos contratos para terem seus pagamentos liberados e manterem o status de fornecedores. Os investigados chegaram a implantar uma cadeia de decisão paralela dentro da empresa estratégica, impondo "gestores-sombra" para controlar o esquema. O dinheiro desviado era subsequentemente lavado através de uma rede de empresas, muitas delas com sede no exterior.

Demissões e a Sombra de um Aliado

Em resposta às revelações, o presidente Zelensky demitiu o ministro da Justiça, Guerman Galuchtchenko, e a ministra da Energia, Svitlana Gryntchuk. Galuchtchenko, que era ex-ministro da Energia, é acusado de ter recebido "vantagens pessoais" . Gryntchuk, por sua vez, não foi diretamente acusada, mas era considerada uma pessoa de confiança de Galuchtchenko.

O caso ganhou contornos mais sensíveis quando foi revelado que o alegado mentor do esquema de lavagem de dinheiro era Timur Mindich, um empresário considerado um amigo próximo de Zelensky. Mindich, de 46 anos, é coproprietário da empresa de produção Kvartal 95, fundada pelo presidente antes de sua carreira política. Segundo o NABU, ele controlava a lavagem e distribuição do dinheiro desviado e é suspeito de ter influenciado decisões de altos funcionários do governo. Mindich deixou a Ucrânia pouco antes do caso se tornar público, possivelmente com destino a Israel.

A Reação da Rússia e a Pressão dos Aliados

O escândalo foi rapidamente explorado pela Rússia no cenário internacional. Em declaração no Conselho de Segurança da ONU, o embaixador russo, Vasily Nebenzya

Entre os aliados ocidentais, o caso gerou preocupação. O chanceler alemão, Friedrich Merz, cujo país é o principal doador europeu de Kiev, exigiu publicamente que Zelensky lutasse "com energia" contra a corrupção. A luta contra a corrupção e as reformas no Estado de Direito são requisitos fundamentais para o processo de adesão da Ucrânia à União Europeia, que iniciou negociações formais em junho de 2024.

Padrão de Corrupção em Tempos de Guerra

Este não é o primeiro escândalo a abalar a Ucrânia desde o início da invasão russa em 2022. O país, que ocupa a 105ª posição entre 180 no Índice de Percepção da Corrupção de 2024, tem enfrentado casos notórios apesar dos progressos significativos na área.

  • Em setembro de 2023, o então ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, foi forçado a demitir-se após escândalos relacionados com a compra de uniformes e alimentos a preços inflacionados para o exército.
  • Em abril de 2024, vários responsáveis da defesa foram detidos, acusados de estarem envolvidos no fornecimento ao exército de dezenas de milhares de obuses defeituosos.
  • No mesmo ano, um vice-ministro da Energia e três outros suspeitos foram detidos "em flagrante" ao receberem parte de um suborno de US$ 500 mil.

Diante da crise, Zelensky afirmou que a Ucrânia "fará tudo para que ninguém a acuse de sabotar a diplomacia" e se comprometeu a trabalhar com os EUA nos pontos de um plano para acabar com a guerra. A luta contra a corrupção tornou-se não apenas uma questão de integridade interna, mas um elemento crucial para manter o apoio internacional vital para a resistência ucraniana.

Com informações de: CNN Brasil, CNN Portugal, SIC Notícias, TASS ■