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Sonho americano em colapso: o pesadelo da deportação em massa sob Trump
Medo, isolamento e ruptura familiar marcam a vida de brasileiros nos EUA, onde políticas de tolerância zero transformam comunidades em alvos de operações de caça a imigrantes
America do Norte
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQk2z7Bda3My6qk9k54NGszxIyOphz-s3oAmQ&s
■   Bernardo Cahue, 18/11/2025

A promessa de prosperidade que atraiu milhões de brasileiros para os Estados Unidos se transformou, para muitos, em uma realidade de pânico e confinamento. Sob o segundo mandato de Donald Trump, políticas de imigração agressivas desencadearam uma série de operações de deportação que atingiram duramente a comunidade brasileira, fazendo com que famílias inteiras se trancassem em suas casas e reorganizassem suas vidas em torno do medo de serem detidas. O que era para ser a terra das oportunidades revela-se, agora, uma prisão em regime fechado, em que o ICE (Serviço de Imigração e Controle Alfandegário) atua como carcereiro.

O Cerco nas Comunidades

Relatos de diferentes estados pintam um quadro sombrio do dia a dia dos imigrantes. Em Charlotte, Carolina do Norte, uma operação surpresa no último fim de semana transformou uma região antes considerada segura em uma zona de risco. As ruas ficaram vazias, supermercados foram evitados e cultos religiosos foram cancelados. "Todo mundo que eu conheço ficou dentro de casa", relatou Admisterlan Mendes, um brasileiro que vive há nove anos em Indian Trail. Ele descreve a sensação de medo coletivo: "Agora a gente só sai desviando de onde eles [os agentes] estão". A situação se repetiu em Massachusetts, onde pais, temendo serem detidos, recusaram-se a buscar seus filhos no ponto de ônibus escolar, dependendo da solidariedade de cidadãos norte-americanos para resgatar as crianças.

Os Números do Aumento das Deportações

O clima de terror não é uma percepção isolada, mas reflexo de uma política de estado com números concretos. Até o início de outubro de 2025, 2.268 brasileiros já haviam sido repatriados, um aumento de aproximadamente 37% em relação ao total de 2024. Dados da Polícia Federal indicam que, de janeiro a setembro de 2025, 2.159 brasileiros foram deportados por meio de 23 voos fretados, superando o ano anterior completo e confirmando que 2025 terminará com um recorde histórico de deportações. O governo Trump caminha para bater recordes, com a projeção de atingir 600 mil deportações até o final de 2025 em todo o país.

A Contradição Econômica e o Alvo das Batidas

Há uma contradição gritante entre a retórica oficial e a realidade das deportações. O governo Trump justifica suas ações focando na remoção de "criminosos perigosos". No entanto, dados do Transactional Records Access Clearinghouse (TRAC) revelam que 71% dos imigrantes detidos pelo ICE não possuem antecedentes criminais. A maioria dos deportados brasileiros, segundo agências de notícias, era composta por trabalhadores, estudantes ou famílias em situação irregular que buscavam melhores condições de vida, e não por criminosos. Esses imigrantes são, frequentemente, peças essenciais na economia americana, atuando em setores como:

  • Construção civil: 1,9 milhão de trabalhadores indocumentados
  • Serviços de alimentação: 955 mil
  • Limpeza e manutenção, paisagismo e agricultura

Estratégia Política e a "Prisão" em Larga Escala

As deportações em massa são um pilar da estratégia política e econômica de Donald Trump. Seus objetivos declarados incluem restabelecer a hegemonia do dólar, reduzir o déficit comercial e incentivar a repatriação de grandes empresas. Nesse contexto, a imigração irregular é tratada não como uma questão humanitária complexa, mas como uma variável a ser controlada por meio de força bruta. O resultado é a criação de uma "prisão em regime fechado" em escala nacional, em que comunidades inteiras vivem sob vigilância constante, limitando seus movimentos e vivendo com a ameaça iminente de terem seus projetos de vida desarticulados. Para os que são pegos, a deportação envolve não apenas o retorno forçado, mas também a apreensão de documentos, escolta em aeronaves e, em muitos casos, o uso de algemas.

As Consequências Humanas e a Resistência

O custo humano dessas políticas é profundo. Histórias como a de Marta e José, um casal do qual o marido foi detido a caminho do trabalho apesar de estar no processo de legalização, ilustram a desestruturação familiar. Marta, que depende de um balão de oxigênio, viu-se sozinha e desamparada, enfrentando custos exorbitantes com advogados para tentar libertar o marido do centro de detenção. Paralelamente, surgem formas de resistência e solidariedade. Brasileiros e latinos organizam-se por meio de grupos como o Mutual Embrace Latino Voices, usando aplicativos de mensagem para compartilhar em tempo real a localização de agentes do ICE, transformando o WhatsApp em uma ferramenta de sobrevivência. Enquanto isso, o governo brasileiro tenta mitigar o impacto, criando um centro de recepção em Belo Horizonte para oferecer apoio social e psicológico aos deportados após o desembarque.

Com informações de: AG Immigration, G1, Governo do Brasil - MDHC, Esquerda.net, UOL, BBC, RFI, Folha de S.Paulo, Casa Marx, Migalhas■