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A cena, registrada em um vídeo geolocalizado próximo à cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, poderia ser de um filme pós-apocalíptico: soldados russos emergem de uma densa neblina montados em motos, motonetas e buggies, enquanto outros estão em pé na carroceria de uma picape deteriorada. Longe de ser apenas um vislumbre bizarro do front, essa imagem simboliza uma mudança profunda na forma como a Rússia conduz sua guerra, adaptando-se às realidades impostas pelos campos de batalha modernos, dominados pelos drones.
A batalha por Pokrovsk, que se tornou o novo símbolo da resistência ucraniana, ilustra essa transformação. Diferente do cerco a Bakhmut em 2023 – que ficou conhecido como um "triturador de carne" devido aos assaltos frontais e ondas humanas que deixavam corpos congelados nos campos –, a abordagem russa em Pokrovsk é mais sutil, ainda que igualmente mortal. O objetivo operacional não é mais limpar a cidade quarteirão por quarteirão, mas cercar as tropas ucranianas, cortar suas linhas de suprimento e forçar uma retirada.
As táticas russas evoluíram significativamente desde os primeiros dias da invasão em grande escala. A proliferação e o avanço tecnológico dos drones estenderam as "zonas de morte" em ambos os lados da linha de frente, tornando os avanços com blindados pesados extremamente difíceis e custosos. Em resposta, a Rússia passou a empregar grupos de assalto menores e mais ágeis, muitas vezes utilizando veículos não convencionais para se infiltrar em áreas ucranianas.
Essa nova abordagem é profundamente ineficiente em termos de vidas humanas e só permite avanços lentos. Analistas do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) em Washington avaliam que o exército russo parece acreditar que suas taxas de perda são sustentáveis e que seu lento ritmo de avanço atende aos requisitos estratégicos do Kremlin. Estima-se que a Rússia tenha sofrido mais de 1,1 milhão de baixas desde o início da invasão, com um terço delas ocorrendo apenas no último ano.
Essa transformação não é apenas tática, mas também estrutural. O exército russo está passando por uma reconfiguração para lutar uma guerra posicional, otimizando-se para operações ofensivas lentas com unidades táticas especializadas. Essa adaptação, que combina táticas de infantaria desmontada com fogo de precisão de drones, representa um afastamento significativo de sua doutrina pré-2022 de guerra mecanizada de manobra. O sucesso dessa estratégia de desgaste, no entanto, depende fundamentalmente da capacidade do Kremlin de sustentar as perdas e de sua aposta no esgotamento do apoio ocidental à Ucrânia.
Com informações de: CNN, Foreign Policy, Institute for the Study of War (ISW), Al Jazeera, CEPA, The Guardian, Carnegie Endowment for International Peace, SIPRI. ■