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EUA reduzem tarifas de importação, aliviando parte da desvantagem competitiva
Decisão de Trump remove taxa global de 10% sobre cerca de 200 produtos alimentícios, porém sobretaxa de 40% exclusiva ao país segue intacta, deixando itens como café e carne em situação frágil
America do Norte
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTD_Me_PY-ewIG4y0CH47uAlNyjIhPc6moLWQ&s
■   Bernardo Cahue, 15/11/2025

O governo dos Estados Unidos anunciou na noite de sexta-feira (14) a redução das tarifas de importação para aproximadamente 200 produtos alimentícios. A medida, formalizada por meio de uma ordem executiva do presidente Donald Trump, remove a tarifa global de 10% - as chamadas "tarifas de reciprocidade" - implementada em abril contra diversos parceiros comerciais. Para o Brasil, no entanto, o alívio é limitado: a sobretaxa adicional de 40% imposta especificamente ao país em julho permanece em vigor, fazendo com que a taxação total sobre produtos como café e carne bovina caia de 50% para 40%, mantendo o Brasil em desvantagem frente a concorrentes que tiveram suas taxas zeradas.

A decisão entra em vigor retroativamente às 2h01 (horário de Brasília) de quinta-feira (13) e reflete um esforço da administração Trump para conter o aumento dos preços dos alimentos nos EUA, que tem pressionado a inflação e gerado preocupação entre os consumidores americanos.

Produtos afetados e o impacto setorial

Entre os produtos que tiveram a tarifa de 10% removida estão itens de grande relevância para a pauta de exportação brasileira :

  • Café e chá
  • Carne bovina (em diversos cortes e preparações)
  • Frutas tropicais e sucos de frutas, como banana, laranja, manga, açaí e abacaxi
  • Cacau e especiarias
  • Castanhas (do Pará, caju, entre outras)
  • Mandioca e tapioca
  • Fertilizantes adicionais

O impacto da medida, porém, varia significativamente entre os setores:

  • Suco de laranja foi o maior beneficiado, ficando completamente livre de tarifas, já que não estava sujeito à sobretaxa de 40%. As exportações desse produto para os EUA somam cerca de US$ 1,2 bilhão anuais.
  • Café, do qual o Brasil é o principal fornecedor dos EUA, continua com tarifa total de 40%, mantendo em desvantagem um produto que já registra queda de 54% nas exportações em outubro ante o mesmo período de 2024.
  • Carne bovina, setor onde o Brasil é o maior exportador mundial e os EUA são seu segundo maior mercado, também segue com 40% de taxação.

Reactions mistas no Brasil

As reações no Brasil foram de cauteloso otimismo, mas com fortes ressalvas sobre as distorções competitivas que persistem. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, classificou a decisão como "positiva" e "um passo na direção correta", mas foi enfático ao apontar o problema central :

"Há uma distorção que precisa ser corrigida. Todo mundo teve 10% a menos. Só que, no caso do Brasil, que tinha 50%, ficou com 40%, que é muito alto", afirmou Alckmin em coletiva no Palácio do Planalto neste sábado (15).

Os exportadores demonstraram visões divergentes conforme seu grau de benefício com a medida:

  • Setor de carnes comemorou a decisão. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) emitiu nota afirmando que a medida "reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países e reconhece a importância da carne do Brasil".
  • Setor de café mostrou-se frustrado. Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, destacou a desvantagem competitiva: "Muitos [países concorrentes] já tinham acordo bilateral formado, outros estavam com 10% [de taxa], como a Colômbia e a Etiópia".
  • Setor de frutas recebeu a notícia com preocupação, especialmente pela exclusão da uva - a segunda fruta brasileira mais exportada para os EUA - da lista de exceções.

Contexto político e negociações em andamento

A decisão ocorre em meio a um esforço diplomático entre Brasil e EUA para resolver a questão tarifária. O anúncio segue-se a uma reunião bilateral entre os presidentes Lula e Trump na Malásia no fim de outubro e a encontros entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, realizados na última quinta-feira (13).

Do lado americano, a motivação para a revisão tarifária está claramente ligada às pressões inflacionárias. Dados do departamento de estatísticas dos EUA mostram que os preços médios no varejo do café torrado e moído subiram mais de 40% no último ano até setembro, enquanto os da carne moída e das bananas aumentaram 11,5% e 8,6%, respectivamente - acima da inflação geral de 3%. Trump admitiu o impacto ao declarar: "Os preços do café estavam um pouco altos. Agora, ficarão mais baixos em um período muito curto".

Segundo Alckmin, com a retirada da tarifa global de 10%, o percentual das exportações brasileiras isentas de qualquer tarifa extra passou de 23% para 26%, o que representa cerca de US$ 10 bilhões em vendas aos EUA.

Próximos passos

Enquanto Trump declarou que não considera necessárias novas reduções de tarifas no curto prazo , o governo brasileiro sinaliza que continuará pressionando pela eliminação da sobretaxa de 40%. "Vamos continuar trabalhando para reduzir mais. Realmente, no caso do café, não tem sentido, a tarifa ainda é alta, e o Brasil é o maior fornecedor de café para os Estados Unidos", reforçou Alckmin.

O resultado das negociações em curso entre Brasil e EUA deve definir se o país conseguirá recuperar a competitividade plena no que é seu segundo maior parceiro comercial, em um momento em que a diplomacia bilateral parece ter reaberto canais de diálogo após um período de tensões.

Com informações de: G1, Folha de S.Paulo, BBC, Agência Brasil, UOL, Poder360, ICL Notícias. ■