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Trump rompe negociações comerciais com o Canadá por causa de anúncio com Reagan
Decisão abrupta foi anunciada pelo presidente americano em rede social após propaganda da província de Ontário usar discurso de Ronald Reagan para criticar tarifas
America do Norte
Foto: https://images.euronews.com/articles/stories/09/52/44/38/1536x864_cmsv2_daa52bdf-a76f-58d3-855a-e670eeb3c394-9524438.jpg
■   Bernardo Cahue, 24/10/2025

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite de quinta-feira (24) a terminação imediata de todas as negociações comerciais com o Canadá. A decisão abrupta foi motivada por um anúncio publicitário anti-tarifas, pago pelo governo da província de Ontário, que utilizou trechos de um discurso do ex-presidente Ronald Reagan.

Em uma publicação em sua rede social Truth Social, Trump classificou a propaganda de "FALSA" e um comportamento "ultrajante". Ele alegou que o anúncio tinha como objetivo "interferir na decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos", que em breve deve se pronunciar sobre a legalidade das tarifas globais decretadas por seu governo. "Com base no comportamento atroz deles, TODAS AS NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O CANADÁ ESTÃO ENCERRADAS", escreveu Trump.

O Anúncio que Provocou a Crises

O centro da controvérsia é um anúncio de um minuto, parte de uma campanha de 75 milhões de dólares canadenses, que está sendo veiculado em canais de televisão americanos. Na peça publicitária, a voz de Ronald Reagan é ouvida criticando tarifas comerciais.

As frases usadas são reais, extraídas de um discurso de rádio de 1987, disponível nos arquivos da Biblioteca Presidencial Ronald Reagan. No trecho, Reagan afirma: "tarifas elevadas inevitavelmente levam à retaliação por parte de países estrangeiros e ao desencadeamento de intensas guerras comerciais" e que, a longo prazo, "tais barreiras comerciais prejudicam cada americano, trabalhadores e consumidores". No entanto, a ordem de algumas frases foi alterada para a edição do anúncio.

A Fundação Ronald Reagan emitiu um comunicado na quinta-feira afirmando que o anúncio "deturpa" o discurso original por usar "áudio e vídeo seletivo" e que estava "revisando suas opções legais", já que não havia autorização para o uso da imagem. Trump se apoiou nesse comunicado para justificar sua ação.

Ruptura no Relacionamento e Impacto Comercial

Esta ruptura nas negociações representa um forte revés na relação entre os dois países e um golpe para o primeiro-ministro canadense, Mark Carney. Apenas duas semanas antes, ele se reuniu com Trump na Casa Branca em um encontro descrito como cordial, no qual o presidente americano chegou a elogiar Carney, chamando-o de "líder de categoria mundial".

As tensões comerciais, no entanto, já vinham se acumulando há meses. Mais cedo na quinta-feira, antes do anúncio de Trump, Carney já havia sinalizado uma mudança de estratégia, declarando que o Canadá planeja duplicar suas exportações para países fora dos EUA em resposta à ameaça representada pelas tarifas americanas.

Os setores canadenses de aço, alumínio e automóveis já são afetados por tarifas setoriais de Trump, que em alguns casos chegam a 50% para metais e 25% para automóveis. Ontário, a província mais populosa e com a maior economia do Canadá, tem sido particularmente atingida.

Doug Ford, premier de Ontário e autor da campanha publicitária, já havia dito nesta semana que tinha certeza de que Trump "não ficou muito feliz" com o anúncio. Ele é um dos críticos mais vocais das tarifas americanas e já havia ameaçado, em meio a tensões anteriores, cortar o fornecimento de energia elétrica para alguns estados dos EUA.

Contexto Mais Amplo e Próximos Passos

Este é o segundo vez em poucos meses que Trump anuncia o fim de negociações com o Canadá. Em junho, ele tomou medida similar em resposta a um imposto digital canadense que afetava empresas de tecnologia americanas.

Apesar do término das negociações sobre novos acordos, os três países da América do Norte continuam ligados pelo TMEC (Tratado México-Estados Unidos-Canadá), que garante isenção de tarifas para a grande maioria do comércio entre eles. No entanto, esse próprio tratado está programado para uma revisão no próximo ano, adicionando mais uma camada de incerteza às relações comerciais regionais.

Até o momento, o governo federal do Canadá não emitiu uma reação formal ao anúncio de Trump. O primeiro-ministro Carney e o presidente Trump devem participar das mesmas cúpulas internacionais na Ásia nos próximos dias, mas não está claro se haverá um encontro entre os dois líderes.

Com informações de Notícias UOL, Público, BBC, Folha de S.Paulo, The New York Times, Euronews, NPR, Al Jazeera e ECO. ■