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Salário Mínimo na Rússia: aumento de 20% em 2026 é anunciado
Enquanto Brasil e Portugal planejam reajustes moderados, decisão russa chama a atenção pelo percentual, mas esconde realidades estruturais distintas
Leste Europeu
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQEL0Z4VHlZLHoIY-FEpbrCvb1BL9ejyJpHNQ&s
■   Bernardo Cahue, 14/10/2025

O primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, anunciou um aumento de mais de 20% para o salário mínimo do país a partir de janeiro de 2026, elevando-o para 27.093 rublos (cerca de 270 euros). A mudança, que afeta diretamente 4,6 milhões de russos, segue a legislação federal que determina que o piso salarial não pode ser inferior a 48% do salário médio nacional do ano anterior. A análise crítica deste movimento, no entanto, exige que se olhe além das fronteiras russas e se compreenda como diferentes nações encaram o desafio de valorizar a renda de seus trabalhadores num cenário econômico global volátil.

Na Rússia, o reajuste de 20,7% representa um dos maiores saltos percentuais recentes. Desde 2000, o valor foi ajustado 26 vezes. Em regiões como Bashkiria, o valor efetivo recebido pelos trabalhadores é ainda maior devido aos coeficientes regionais, podendo chegar a 31.156 rublos. Este aumento agressivo é uma ferramenta do governo para compensar a perda do poder de compra da população, agravada pela inflação e pelas pressões econômicas internacionais. No entanto, o valor absoluto, quando convertido para moedas fortes, revela uma base salarial que ainda permanece significativamente baixa em comparação com padrões europeus.

Um olhar além da Rússia: As realidades do Brasil e de Portugal

Colocar o anúncio russo em perspectiva é essencial. Enquanto Mishustin fala em 20%, outros governos traçam trajetórias mais moderadas:

  • Brasil: O governo projetou um salário mínimo de R$ 1.631 para 2026, um aumento de 7,44% sobre o valor atual de R$ 1.518. O reajuste segue uma regra permanente que combina a inflação medida pelo INPC até novembro e o crescimento do PIB de dois anos antes, com um limite de ganho real de 2,5% acima da inflação. O impacto orçamentário é substancial, pois o mínimo serve de referência para cerca de 59,9 milhões de pessoas, incluindo aposentados e beneficiários de programas sociais. Cada real de aumento gera cerca de R$ 430 milhões em despesas obrigatórias, pressionando o orçamento federal.
  • Portugal: A meta do governo para o salário mínimo nacional em 2026 é de 920 euros, representando um aumento de 50 euros mensais em relação ao valor vigente. Esta é mais uma etapa em uma trajetória clara de valorização que visa alcançar 1.100 euros até o final da legislatura, demonstrando um compromisso de médio prazo com a elevação da renda base.

Análise Crítica: Por que os números sozinhos enganam?

  1. O Percentual vs. o Poder de Compra: O aumento de 20% na Rússia é inegavelmente alto, mas parte de uma base muito baixa. O novo valor de 27.093 rublos equivale a aproximadamente 270 euros, um patamar que, mesmo após o reajuste, fica bem abaixo do mínimo que vigorará em Portugal (920 euros). Isso evidencia que o percentual de aumento, sem o contexto do valor absoluto e do custo de vida local, oferece uma visão limitada da realidade.
  2. Metodologias e Compromissos Diferentes: O Brasil optou por uma fórmula técnica com teto para o ganho real, buscando um equilíbrio entre a valorização do trabalhador e a sustentabilidade fiscal. Portugal, por sua vez, estabelece uma meta política clara e progressiva. A Rússia, ao vincular o mínimo à média salarial, busca uma correção mais orgânica, mas sujeita aos altos e baixos de sua economia.
  3. Impacto Fiscal Divergente: O anúncio russo não detalha o impacto fiscal da medida. No Brasil, o cálculo é transparente: o aumento projetado para 2026, de R$ 113, injetará dezenas de bilhões de reais na economia via benefícios sociais, mas também onerará consideravelmente os cofres públicos. A decisão russa, em um contexto de guerra e sanções, provavelmente terá um custo fiscal significativo, que não foi explicitado na simples divulgação do novo valor.

Portanto, o anúncio vistoso do governo Mishustin, ainda que positivo para o trabalhador russo no curto prazo, serve mais como um indicador das profundas dificuldades econômicas que o país enfrenta do que como um modelo a ser seguido. A comparação internacional desnuda as complexas escolhas entre gerar alívio imediato para a população e garantir a estabilidade econômica de longo prazo, um dilema que cada nação resolve de acordo com suas próprias pressões e prioridades.

Com informações de: Iz.ru, Bashinform, Agência Câmara Notícias, G1, Agência Senado, Correio de Venezuela, Agência Brasil, InfoMoney, ABCmais. ■