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Escassez de terras raras paralisa indústria bélica dos EUA
Controles de exportação da China, que domina o refino global, deixam empresas americanas com estoques à beira do esgotamento e expõem vulnerabilidade estratégica
America do Norte
Foto: https://washingtonmonthly.com/wp-content/uploads/2024/06/Jul-24-Ammo-Lofgren.jpg
■   Bernardo Cahue, 06/10/2025

Uma grave escassez de terras raras — minerais essenciais para a fabricação de equipamentos militares de alta tecnologia — está paralisando setores críticos da indústria de defesa dos Estados Unidos. A crise foi desencadeada pelos controles de exportação impostos pela China, que responde por quase 90% do refino global desses elementos estratégicos.

De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), as empresas norte-americanas têm estoques suficientes para apenas dois a três meses de operação. Após esse período, a produção industrial não poderá ser mantida, afetando desde a fabricação de mísseis e caças até a de veículos militares.

O Coração do Problema: A Dependência Estratégica

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos com propriedades magnéticas e de condutividade únicas, tornando-se insubstituíveis na manufatura de tecnologia de ponta. Na indústria bélica, sua aplicação é vasta e crítica:

  • Sistemas de orientação de mísseis balísticos e supersônicos.
  • Lasers para artilharia e sistemas de visão noturna em aviões de caça.
  • Sensores em equipamentos diversos e cintos de segurança.
  • Fabricacao de ímãs permanentes essenciais para motores de alta performance.

Um porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA chegou a classificar os minerais críticos como "essenciais para a prontidão militar dos EUA". A Otan também listou as terras raras como vital para manter a vantagem tecnológica e a prontidão operacional da aliança.

A Arma Geopolítica da China

Em abril, o Ministério do Comércio da China, em conjunto com a Administração Geral das Alfândegas, impôs medidas de controle à exportação de sete categorias de itens de terras raras médias e pesadas, incluindo samário, gadolínio e disprósio. A justificativa de Pequim foi de que esses elementos têm "importantes atributos de duplo uso" (civil e militar), e o controle de sua exportação é uma "prática internacional comum".

Analistas, no entanto, veem a medida como uma resposta direta às tarifas comerciais impostas pelo governo Trump e uma manobra para manter uma posição de vantagem geopolítica. Esta não é a primeira vez que a China utiliza esse recurso; em 2010, suspendeu as exportações para o Japão durante uma disputa territorial.

Impacto Concreto na Indústria

Os efeitos da escassez já são sentidos no chão de fábrica:

  • A Ford foi forçada a reduzir a produção de SUVs em Chicago e chegou a fechar temporariamente uma de suas fábricas.
  • Fornecedoras de autopeças como Aptiv e BorgWarner anunciaram que estão desenvolvendo motores com uso mínimo ou nenhum de terras raras para contornar as restrições.
  • Comerciantes de metais relataram um ambiente de "pânico no mercado", com preços de alguns ímãs disparando para mais de 15 dólares a unidade, ante um custo habitual de menos de 40 centavos.

A Corrida por Soluções e a Disputa pelo Brasil

Para reduzir a dependência, os EUA estão em uma corrida para reconstruir sua cadeia produtiva doméstica. A MP Materials, maior produtora de terras raras no Hemisfério Ocidental, recebeu investimentos bilionários do Pentágono e fechou acordos de fornecimento com gigantes como Apple e General Motors.

Paralelamente, Washington busca diversificar suas fontes de suprimento. Nesse contexto, o Brasil, que detém a segunda maior reserva mundial de terras raras, com 23% do total global, tornou-se alvo do interesse americano. No entanto, a produção brasileira já está comprometida com um acordo com a China até 2027.

Embora o presidente Lula tenha declarado que "ninguém bota a mão" nos minerais brasileiros, empresas australianas, algumas com conexões e financiamento ligados ao Departamento de Defesa dos EUA, já se estabeleceram em Minas Gerais para explorar uma das maiores jazidas do mundo.

Especialistas alertam que, no curto prazo, a China manterá seu controle estratégico sobre o setor. A construção de cadeias de fornecimento alternativas exigirá enormes investimentos, transferência de tecnologia e pelo menos cinco a dez anos para se tornar significativa, deixando a indústria ocidental vulnerável durante esse período.

Com informações de: CNN Brasil, G1, Folha de S.Paulo, Agência Pública, Metal.com, Investnews, Deutsche Welle, Congresso em Foco e Gov.br/CNPq. ■