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O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos transformou o cotidiano de milhares de imigrantes brasileiros, mergulhando comunidades inteiras em um estado de medo e apreensão. Relatos de batidas do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Aduanas) em igrejas, locais de trabalho e até tribunais fizeram com que muitos deixassem de sair de casa, evitassir aglomerações e mudassem drasticamente seus hábitos, em um cenário descrito de forma recorrente como um "clima de terror".
Esse pânico generalizado não é apenas uma percepção subjetiva. Ele tem reflexos concretos e mensuráveis:
O temor se espalhou de forma particularmente intensa em polos conhecidos da imigração brasileira. Em Martha's Vineyard, ilha em Massachusetts, operações do ICE fizeram com que famílias inteiras deixassem de levar crianças à escola e que alguns se escondessem em matas próximas após prisões realizadas no início da manhã. A sensação de segurança que existia por décadas se desfez, substituída por um estado de alerta constante.
O "terror psicológico", como definiu um influenciador da comunidade brasileira, é alimentado por vários fatores. Um dos mais impactantes é a tática das "prisões colaterais", onde agentes do ICE, ao buscarem um alvo específico, detêm qualquer pessoa que esteja no caminho e pareça ser estrangeira, mesmo que não tenha antecedentes criminais. Isso cria a percepção aterradora de que qualquer um pode ser pego por estar "no lugar errado, na hora errada".
Para tentar se proteger, os brasileiros recorrem a estratégias de sobrevivência:
O clima de intimidação não atinge apenas quem está em situação irregular. Advogadas relatam que cidadãos americanos e portadores de green card também estão com medo de viajar ou se expor. A situação chegou ao ambiente escolar, com relatos de crianças sendo ameaçadas de deportação durante brigas no pátio do colégio, um reflexo do discurso de ódio que se normalizou na sociedade.
Especialistas veem nessa estratégia um plano mais amplo. "Há, acima de tudo, um plano de desumanizar o outro. Uma estratégia fundamental para depois você poder expulsar, estigmatizar, prender e cometer violências atrozes", analisa o jornalista Jamil Chade, autor de um livro sobre a distopia americana. O objetivo final, segundo ele, seria instaurar um terror que leve os próprios imigrantes a deixarem o país por conta própria, poupando o governo do custo político de deportações em massa.
Enquanto isso, a resistência se organiza, principalmente na esfera jurídica. Escritórios de advocacia criaram plantões 24 horas por WhatsApp para atender clientes em situação de risco, e governadores de estados afetados, como Massachusetts, buscam montar grupos de advogados para auxiliar imigrantes detidos. No entanto, a mobilização social nas ruas ainda é considerada aquém da gravidade do desafio.
Para a comunidade brasileira, que soma mais de 1,8 milhão de pessoas nos EUA, o futuro é uma incógnita. O que resta é uma angústia que sintetiza o drama de milhares de vidas interrompidas: "Tem dias em que a gente também não sabe o que fazer", desabafa o diretor de uma ONG de apoio em Nova Jersey. Enquanto a máquina de deportações não dá trégua, o sonho americano de muitos se transforma em um pesadelo de insegurança e espera.
Com informações de G1, Folha de S.Paulo, BBC, Veja, Agência Pública e Buala. ■