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Um silêncio perigoso ronda as redações americanas. Larry Ellison, fundador da Oracle e uma das pessoas mais ricas do mundo, está tecendo uma rede de influência que coloca sob seu controle uma fatia sem precedentes da indústria de mÃdia e entretenimento. Seu projeto, que conta com a atuação de seu filho, David Ellison, ameaça configurar um monopólio midiático com poder para moldar narrativas polÃticas e culturais em escala global.
O império em construção assenta-se em três pilares principais:
Especialistas veem com extrema preocupação essa concentração. "Não é um sinal de uma democracia saudável quando bilionários compram todos os meios de consumo cultural", alertou Steven Buckley, professor de sociologia digital da University of London. A senadora Elizabeth Warren já se manifestou publicamente, classificando a potencial compra da Warner como uma "concentração de poder perigosa" que "precisa ser barrada".
O que torna a situação ainda mais alarmante são os laços polÃticos da famÃlia Ellison e as mudanças já observadas nos veÃculos sob seu comando. Larry Ellison é um conhecido apoiador do presidente Donald Trump, e essa proximidade parece estar refletindo-se no conteúdo jornalÃstico.
Logo após assumir o controle da CBS, a nova administração nomeou Kenneth Weinstein, um aliado de Trump, para o cargo de ombudsman da CBS News. Paralelamente, circulam rumores fortes de que Bari Weiss, uma figura conhecida por suas posições contra a grande mÃdia, pode ser nomeada editora-chefe da rede. Esses movimentos fizeram com que funcionários descrevessem a sensação interna como a de "lançar uma granada" na redação. O lendário âncora Dan Rather manifestou publicamente sua preocupação, dizendo que é "muito difÃcil ser otimista sobre as possibilidades dos Ellisons comprarem a CNN".
Os perigos de um monopólio midiático não são uma novidade para os observadores da comunicação global. O mesmo grupo da BBC, em 1993, produziu o documentário "Muito Além do Cidadão Kane", uma investigação corajosa que detalhava como a Rede Globo cresceu e solidificou seu poder à sombra do regime militar brasileiro. O filme analisava a figura de Roberto Marinho, comparando-o ao personagem Charles Foster Kane, e expunha o poder da emissora para formar e manipular a opinião pública, tornando-se um caso clássico de estudo sobre a relação simbiótica entre mÃdia e poder. Não obstante, logo após o lançamento do documentário, o empresário brasileiro lançaria um ousado plano de controle midiático via cabo em conjunto com a gigante Microsoft - o plano acabou frustrado pelos questionamentos sobre uma "logÃstica impossÃvel" segundo Bill Gates e pela negativa à s tentativas de financiamento pelo BNDES, em uma manobra que quase levou à penhora da Globo pelo Banco Palma de Mallorca e, posteriormente, levou o BANERJ à falência.
Mais recentemente, a BBC tem coberto outro front na batalha pela liberdade de imprensa: o cerco à Al Jazeera. Em maio de 2024, o governo de Israel decidiu fechar as operações do canal no paÃs, invadindo seu escritório em Jerusalém e confiscando equipamentos, sob a alegação de que a emissora era uma "caixa de ressonância do Hamas". A medida foi amplamente criticada por organizações de direitos humanos e de proteção aos jornalistas, que a viram como um esforço para silenciar vozes crÃticas.
Em um movimento surpreendente, a própria Autoridade Palestina suspendeu as transmissões da Al Jazeera na Cisjordânia, acusando o canal de "incitação" e de interferir em assuntos internos. Este duplo silenciamento, por partes em conflito, ilustra como a informação independente e crÃtica é frequentemente o primeiro alvo de governos autoritários e de grupos de poder.
O cenário que se desenha com a ascensão do império Ellison vai muito além de uma simples consolidação de negócios. Trata-se de uma fusão inédita entre capital tecnológico, infraestrutura de dados, produção cultural e jornalismo, tudo sob a égide de uma famÃlia com claras inclinações polÃticas. Quando um único grupo controla a plataforma de mÃdia social preferida dos jovens, as principais redes de notÃcias que formam a opinião pública e os estúdios que forjam o imaginário popular, a própria noção de esfera pública democrática e plural entra em colapso. O caso Ellison não é apenas mais uma manchete corporativa; é um teste crucial para a resistência das instituições democráticas na era da informação.
Com informações de: BBC.com, CNN Brasil, Fair.org, New York Times, The Verge. ■