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Crise no Sudão: guerra e fome ameaçam sobrevivência de milhões
Conflito armado e colapso humanitário criam a maior crise de fome do mundo, com metade da população sudanesa em insegurança alimentar grave
Africa
Foto: https://www.reuters.com/investigates/special-report/assets/sudan-politics-hunger-aid/IMG_3922-crop1.jpg?v=151111301224
■   Bernardo Cahue, 20/09/2025

Contexto do conflito

O Sudão mergulhou em caos generalizado em abril de 2023, quando o conflito entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF) eclodiu em intensos confrontos. Dois anos de guerra incessante resultaram em aproximadamente 40.000 mortes e transformaram o país na maior crise de fome do mundo.

Estatísticas da crise humanitária

A escala de sofrimento é quase incompreensível:

  • 24,6 milhões de pessoas (metade da população) enfrentam fome aguda
  • 637.000 pessoas vivem em condições catastróficas de fome
  • 14 milhões foram deslocados à força de suas casas
  • 3,2 milhões de crianças menores de cinco anos sofrerão desnutrição aguda em 2025
  • Apenas 20% dos hospitais em zonas de conflito permanecem operacionais

Estes números representam a maior crise de fome extrema em todo o mundo e o maior deslocamento humano já registrado.

Mecanismos de uma tragédia

Vários fatores convergiram para criar esta catástrofe:

  1. Destruição de infraestrutura: O conflito devastou terras agrícolas, instalações de armazenamento de alimentos e rotas comerciais
  2. Colapso econômico: A guerra provocou o aumento de preços dos alimentos, com trigo e soja 100% mais caros que no ano anterior
  3. Interrupção de ajuda humanitária: Grupos armados impõem bloqueios rodoviários e impedem a entrega de assistência vital
  4. Falta de financiamento: Cortes drásticos no financiamento humanitário limitam severamente as operações de auxílio

Como resultado, pequenos agricultores foram forçados a fugir da violência, levando o sistema de cultivo ao colapso completo.

Impacto desproporcional em mulheres e crianças

Os grupos mais vulneráveis pagam o preço mais alto:

  • 80% dos hospitais em zonas de conflito estão inoperantes
  • 7 milhões de mulheres e meninas enfrentam risco de violência de gênero
  • 66% dos sobreviventes infantis de violência sexual são meninas
  • Meninos enfrentam estigmas culturais para reportar casos de abuso

Evidências apontam para o uso sistemático da violência sexual como arma de guerra, com milhões de crianças e mulheres sob risco iminente.

Resposta humanitária e desafios

Organizações internacionais enfrentam obstáculos monumentais:

  • O Programa Alimentar Mundial (PAM) precisa de US$ 645 milhões para operações até novembro de 2025
  • O Plano Regional de Resposta para Refugiados requer US$ 1,8 bilhão
  • Mais de 110 trabalhadores humanitários foram mortos, feridos ou sequestrados
  • Saques generalizados de suprimentos alimentares dificultam a distribuição

Apesar destes desafios, o PAM atingiu um marco ao apoiar 5 milhões de pessoas em maio de 2024, demonstrando que a assistência eficaz é possível quando o acesso é garantido.

Cenário regional e internacional

A crise sudanesa tem reverberações além das fronteiras nacionais:

  • 3,3 milhões de refugiados fugiram para países vizinhos
  • Chade e Egito acolhem o maior número de refugiados
  • Países da região já enfrentavam seus próprios desafios de conflito, fome e doenças
  • Há preocupação com riscos de mais instabilidade regional e combates nas fronteiras

A comunidade internacional alerta que esta crise ameaça as frágeis democracias das nações no Chifre da África, uma região já politicamente volátil.

Um apelo à ação global

O Sudão enfrenta uma encruzilhada existencial. Sem cessar-fogo imediato, acesso humanitário desimpedido e financiamento internacional maciço, centenas de milhares de pessoas morrerão de fome e doenças preveníveis. Como enfatizou o Coordenador de Emergência Regional do PAM, Shaun Hugues: "Dezenas de milhares morrerão no Sudão durante um terceiro ano de guerra, a menos que tenhamos acesso e recursos para alcançar os necessitados".

Esta crise não é inevitável - é criada pelo homem e pode ser interrompida pela ação humana concertada. O mundo não pode continuar a ignorar o sofrimento de milhões de sudaneses cujas vidas dependem de assistência imediata.

Com informações de: Observador, World Food Programme, Folha de S.Paulo, UN News, Action Against Hunger. ■