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Forças Armadas do Benin frustram tentativa de golpe de Estado e detêm rebeldes
Oito soldados invadiram TV estatal e anunciaram tomada de poder, mas acabaram presos pelo Exército
Africa
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■   Bernardo Cahue, 07/12/2025

Na manhã de domingo, 7 de dezembro de 2025, um grupo de militares tentou tomar o poder no Benin, em mais uma agitação política a abalar a África Ocidental. A ação, no entanto, foi rapidamente neutralizada pelas forças leais ao governo, que prenderam pelo menos 14 envolvidos e garantiram a segurança do presidente Patrice Talon.

A tomada da TV estatal e a rápida reação do governo

O episódio começou nas primeiras horas da manhã, quando soldados identificados como Comitê Militar para a Refundação (CMR) invadiram a sede da Rádio e Televisão do Benin (RTB). Em uma transmissão surpresa, um grupo de pelo menos oito militares anunciou a destituição do presidente Patrice Talon, a dissolução de todas as instituições estatais e a suspensão da Constituição. Os rebeldes declararam o tenente-coronel Pascal Tigri como presidente do comitê militar que assumiria o poder.

Testemunhas em Cotonou, a capital econômica, relataram ter ouvido tiros e rajadas de armas automáticas, principalmente nas proximidades da residência presidencial no Campo Guezo. A embaixada da França no país emitiu um alerta, pedindo que seus cidadãos permanecessem em casa devido aos distúrbios.

A resposta das forças leais, no entanto, foi rápida. Horas após o anúncio na TV, o ministro do Interior, Alassane Seidou, apareceu em vídeo para declarar o fracasso da tentativa de golpe. "Diante dessa situação, as Forças Armadas do Benin e a sua liderança, fiéis ao seu juramento, permaneceram comprometidas com a república", afirmou. A Guarda Republicana retomou o controle do edifício da televisão estatal.

Detenções e situação atual

De acordo com fontes militares, 14 militares foram detidos em conexão com a tentativa de golpe. Entre os presos estão os responsáveis pela operação, mas os relatos indicam que o suposto líder, tenente-coronel Pascal Tigri, e outro membro do grupo conseguiram fugir.

Autoridades garantiram que a situação está totalmente sob controle. Uma fonte próxima à presidência afirmou à AFP que se tratava de um "pequeno grupo que controla apenas a emissora de televisão" e que o exército regular já havia retomado o controle. O presidente Talon, sua família e principais ministros estão seguros.

Condenação regional e contexto de instabilidade

A tentativa de golpe foi imediatamente condenada por blocos regionais. Tanto a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) quanto a União Africana (UA) emitiram comunicados veementes contra a ação.

  • A CEDEAO classificou o movimento como uma "subversão da vontade do povo" e prometeu apoiar o governo constitucional.
  • O presidente da Comissão da UA, Mahmoud Ali Youssouf, alertou que a proliferação de golpes na região "minam a estabilidade continental".

O episódio no Benin ocorre em um momento de grande fragilidade política na África Ocidental, que testemunhou uma série de tomadas de poder por militares nos últimos anos. Apenas na semana anterior, um grupo de militares tomou o poder na Guiné-Bissau, suspendendo os resultados das eleições de novembro. Mali, Burkina Faso, Níger e Guiné também passaram por golpes de estado bem-sucedidos desde 2020.

O pano de fundo político no Benin

A tentativa de golpe acontece a apenas quatro meses do fim do mandato do presidente Patrice Talon, que deve deixar o cargo em abril de 2026 após dois mandatos. O ambiente político no país tem sido tenso, marcado por críticas de que Talon, apesar de impulsionar o crescimento econômico, teria dado uma guinada autoritária.

Alguns fatores recentes contribuem para esse clima:

  1. Alteração Constitucional: No mês passado, o poder legislativo aprovou a extensão do mandato presidencial de cinco para sete anos, uma medida vista pelos críticos como uma manobra para concentrar poder.
  2. Exclusão da Oposição: O principal partido de oposição, os Democratas, teve seu candidato às próximas eleições rejeitado pela comissão eleitoral por alegada falta de patrocinadores suficientes.
  3. Crise de Segurança: Os rebeldes mencionaram em sua declaração a deterioração da segurança no norte do país. O Benin tem enfrentado ataques de grupos jihadistas vinculados à Al Qaeda, com um ataque em janeiro de 2025 sendo o mais letal já sofrido pelas forças armadas do país.

Os militares rebeldes citaram em seu comunicado a "governação de Patrice Talon e a privação de alguns cidadãos do seu direito de escolher o seu candidato" como motivações para a ação. Este episódio frustrado coloca um holofote sobre as tensões internas em um país antes considerado um dos bastiões da democracia na região, enquanto a África Ocidental continua sua luta contra uma onda de instabilidade política.

Com informações de: DW, O Globo, CNN Brasil, RFI, RTP, Público ■