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Médico brasileiro tem visto cancelado pelos EUA após comentário sobre assassinato de ativista
Neurocirurgião perdeu vínculo empregatício e enfrenta investigações éticas; prática de doxxing contra críticos de figuras políticas intensifica-se globalmente
America do Norte
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■   Bernardo Cahue, 15/09/2025

O neurocirurgião brasileiro Ricardo Barbosa teve seu visto americano cancelado pelo governo dos Estados Unidos após publicar um comentário nas redes sociais elogiando o assassinato de Charlie Kirk, ativista pró-Trump e fundador do Turning Point USA. A medida, anunciada diretamente pelo vice-secretário de Estado Christopher Landau, ocorreu em meio a uma onda de perseguição digital organizada por grupos de extrema-direita contra críticos de figuras políticas conservadoras.

No comentário, publicado originalmente no Instagram, Barbosa referiu-se ao autor do disparo que matou Kirk como "companheiro de mira impecável" e destacou a precisão do tiro na "coluna cervical". Landau classificou a postagem como "um dos conteúdos mais assustadores já vistos online" e questionou publicamente se o médico cumpria o Juramento de Hipócrates, que prevê que profissionais da saúde ajam para "benefício dos pacientes" e pratiquem a medicina com "dignidade e honestidade".

Repercussão institucional e ética

A exposição do caso desencadeou consequências imediatas para Barbosa no Brasil:

  • Demissão da clínica: O neurocirurgião foi desligado da Recife Day Clinic, onde atuava. Em nota, a instituição afirmou que o comentário "não representa seus valores e princípios".
  • Investigações éticas: O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) abriu processo de apuração, e a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia anunciou "medidas cabíveis" contra o profissional.
  • Alerta consular: Landau determinou que o nome de Barbosa fosse incluído em um sistema de alerta para impedir futuras solicitações de visto para os EUA.

Estratégia de doxxing: perseguição política digital

O caso do neurocirurgião não é isolado. Ele ilustra uma prática crescente de doxxing – a exposição pública de informações privadas com fins de intimidação – coordenada por grupos políticos extremistas.

1. Padrão de exposição:
  • Informações pessoais (como endereços, locais de trabalho e dados familiares) são coletadas por meio de fontes abertas (redes sociais, registros públicos) ou métodos ilícitos (violação de dados, engenharia social).
  • Alvos são frequentemente identificados em fóruns online e redes sociais como Twitter e Telegram, onde simpatizantes de causas progressistas ou antirracistas manifestam opiniões.
2. Orquestração e impacto:
  • Coalizões de perfis conservadores ou alinhados à extrema-direita amplificam a exposição, tagging autoridades, empregadores e entidades de classe para pressionar por demissões, sanções ou investigações.
  • Nos EUA, essa estratégia tem sido usada sistematicamente contra críticos de Donald Trump, com casos documentados de cancelamento de vistos, demissões e até ameaças físicas.
3. Enquadramento legal no Brasil:
  • O doxxing não é tipificado como crime específico no Brasil, mas se enquadra em violações previstas no Marco Civil da Internet, na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e no Código Penal (artigos sobre calúnia, difamação, ameaça e violação de privacidade).
  • Vítimas podem buscar reparação por danos morais e materiais, além de requerer a remoção de conteúdo sob decisão judicial.

Liberdade de expressão ou incitação à violência?

Especialistas em direito digital e activismopolítico alertam para o perigo de normalizar o doxxing como ferramenta de retaliação política. Para Maria Lima, professora de Direito da Universidade de São Paulo (USP), "a exposição com intuito de causar dano social, profissional ou físico configura perseguição ideológica – não mera exercício de liberdade de expressão".

Já vozes conservadoras argumentam que comentários públicos que celebram violência – especialmente de profissionais com responsabilidade social – devem ter consequências. Landau defendeu que "autoridades brasileiras de licenciamento deveriam interessar-se por um neurocirurgião que deseja publicamente a morte de pessoas com cujas opiniões políticas discorda".

Contexto internacional

O assassinato de Charlie Kirk ocorreu em um ambiente de polarização extrema nos EUA. Em julho de 2024, um simpatizante registrado como republicano – mas doador de causas democratas – tentou assassinar o ex-presidente Donald Trump durante um comício na Pensilvânia. Esse episódio acirrou ainda mais os ânimos entre grupos políticos rivais, levando a retaliações online e offline.

O caso Ricardo Barbosa reflete um fenômeno global: a weaponização de dados pessoais para silenci opositores políticos. Enquanto autoridades americanas e brasileiras avaliam as consequências legais e éticas do comentário do médico, organizações de direitos digitais defendem que a resposta a discursos de ódio não deve incluir violação de privacidade e perseguição coordenada – practices que alimentam ciclos de intolerância e risco democrático.

Nota da redação:

Discursos que incitam violência, independentemente de orientação política, são condenáveis. Da mesma forma, a exposição maliciosa de dados pessoais (doxxing) é uma prática perigosa e antiética – não um instrumento legítimo de justiça.

Com informações de Veja, Em Tempo, Acciyo, The Gateway Pundit, Dino.com.br, Sua Imprensa. ■