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Venezuela aprova Lei com pena de 20 Anos para apoiadores de bloqueio naval
Legislação é resposta direta a apreensões de petroleiros pelos EUA e amplia repressão interna; tensão no Caribe atinge novo patamar
America do Sul
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■   Bernardo Cahue, 24/12/2025

O governo do presidente Nicolás Maduro aprovou, nesta terça-feira (23), uma lei que prevê penas de prisão de 15 a 20 anos para qualquer pessoa que promover ou financiar atos que descreve como pirataria ou bloqueios navais contra o país . A medida, batizada de “Lei para Garantir a Liberdade de Navegação e Comércio contra a Pirataria, Bloqueios e Outros Atos Ilícitos Internacionais”, foi aprovada por unanimidade pela Assembleia Nacional, de maioria governista, e agora segue para sanção executiva .

A lei representa uma resposta legal direta às recentes ações dos Estados Unidos no Mar do Caribe, que incluem a declaração de um “bloqueio total e completo” a embarcações sancionadas que navegam de ou para a Venezuela e a apreensão de pelo menos dois petroleiros com crude venezuelano neste mês de dezembro . O governo venezuelano classifica essas interceptações como atos de “pirataria naval criminosa” .

Os Detalhes da Lei e o Alvo Interno

O texto legal é abrangente e estabelece penas severas não apenas para ações diretas, mas também para apoio e promoção. Os principais pontos são:

  • Pena de Prisão: De 15 a 20 anos para quem “executar, promover, invocar, favorecer, facilitar ou apoiar” ações de pirataria, bloqueio marítimo ou espionagem que afetem a navegação .
  • Pesadas Multas: A lei também prevê a aplicação de multas de até um milhão de dólares (equivalente a cerca de R$ 6,5 milhões) e a apreensão de bens .
  • Proteção Estatal: Oferece mecanismos de proteção e assessoria jurídica do Estado a operadores comerciais .

Durante a sessão parlamentar, o presidente da Assembleia, Jorge Rodríguez, aliado de Maduro, dirigiu duras críticas à oposição interna, acusando-a de se curvar ao “imperialismo americano” e de apoiar as sanções e ações militares dos EUA . A lei é vista como um instrumento que amplia o cerco legal contra dissidentes, seguindo o modelo de legislações anteriores que já puniam o apoio a sanções internacionais .

O Contexto de Tensão no Caribe

A aprovação da lei ocorre no ápice de uma escalada militar e diplomática que transformou a região do Caribe em um palco de confronto.

  1. Bloqueio e Apreensões: Em 16 de dezembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um bloqueio total a navios-tanque sancionados. Dias depois, as forças americanas apreenderam um primeiro petroleiro (10 de dezembro) e um segundo (20 de dezembro) . Um terceiro navio teria sido perseguido .
  2. Discurso Antagônico: Trump afirmou que seria “inteligente” Maduro renunciar, enquanto o líder venezuelano rebateu dizendo que o americano “estaria melhor se focasse nos problemas do seu próprio país” .
  3. Justificativas em Conflito: Os EUA afirmam que suas operações visam combater o narcotráfico e a evasão de sanções, tendo realizado dezenas de ataques a embarcações suspeitas desde setembro, com mais de 100 mortos . Maduro, por sua vez, alega que o objetivo real é derrubar seu governo e controlar as vastas reservas de petróleo venezuelanas .

Reações Internacionais e o Debate na ONU

O conflito reverberou no Conselho de Segurança das Nações Unidas, revelando um cenário geopolítico dividido:

  • Críticas aos EUA: Rússia e China condenaram publicamente as ações americanas. A China as classificou como “apreensão arbitrária” e violação do direito internacional, enquanto a Rússia alertou que os EUA criavam um “modelo” perigoso de uso da força .
  • Apoio Regional Dividido: Enquanto países como Colômbia manifestaram apoio à Venezuela, outras nações latino-americanas com governos de direita, como Argentina, Panamá e Chile, pareceram alinhar-se com a posição dos Estados Unidos .
  • Disputa Narrativa: Na ONU, o embaixador venezuelano, Samuel Moncada, acusou os EUA de agir fora da lei internacional. Já o embaixador americano, Mike Waltz, reiterou que a venda de petróleo é o “sustento econômico primário do regime ilegítimo de Maduro” .

Impacto Prático e Incógnitas

A nova lei venezuelana surge em um contexto econômico frágil. O país, sob sanções petrolíferas dos EUA desde 2019, produz cerca de um milhão de barris de crude por dia, vendendo grande parte no mercado paralelo com descontos . Especialistas apontam que um bloqueio naval efetivo cortaria a principal fonte de receita externa do governo, podendo gerar uma crise em questão de semanas .

No plano jurídico-internacional, persiste o debate sobre a legalidade das ações. Enquanto um bloqueio naval tradicional é considerado um ato de guerra, os EUA enquadram suas apreensões como operações de aplicação da lei pela Guarda Costeira, com base em sanções domésticas e na designação do regime de Maduro como uma organização terrorista estrangeira . Essa ambiguidade deixa em aberto o risco de incidentes graves, caso embarcações se recusem a parar para inspeção .

Com informações de: G1 - Globo, Wyoming News Now, Swissinfo, The Straits Times, Global Times, Al Jazeera, ABC News ■