Em discurso na 67ª Cúpula do Mercosur, presidente brasileiro classificou eventual intervenção armada como “catástrofe humanitaria” e defendeu a integração sul-americana como caminho para a soberania regional
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma posição firme de defesa da soberania venezuelana e da integração sul-americana, rejeitando publicamente a interferência externa nos assuntos do país e oferecendo-se como mediador no conflito com os Estados Unidos. As declarações foram feitas durante a 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosur, em Foz do Iguaçu, encerrando seu período na presidência pro tempore do bloco.
Defesa da Soberania e Crítica às Ações Estadunidenses
Lula foi direto ao afirmar que “ninguém presidente de outro país vai dizer como vai ser a Venezuela ou como vai ser Cuba”, defendendo que o povo venezolano é dono de seu próprio destino. Esta fala é uma resposta clara às recentes ações do governo dos EUA, que incluem:
- Autorização de operações secretas da CIA em território venezolano, conforme confirmado pelo presidente Donald Trump.
- Ataques a embarcações em águas internacionais próximas à costa da Venezuela, resultando em pelo menos 27 mortes desde setembro.
- Um aumento geral da pressão militar e econômica sobre Caracas, com sanções que afetam severamente a exportação de petróleo.
Lula também saiu em defesa de Cuba, afirmando que a ilha “não é um país exportador de terroristas”, mas “um exemplo de dignidade”.
Oferta de Mediação e Diplomacia como Alternativa
Diante da escalada, Lula posicionou o Brasil como um potencial facilitador do diálogo. Ele revelou ter conversado tanto com Donald Trump quanto com o presidente venezolano, Nicolás Maduro, e defendeu que “os problemas políticos não se resolvem com armas”.
- Contato com Trump: Lula afirmou ter dito ao homólogo estadunidense que “é melhor sentar-se à mesa para encontrar uma solução”, questionando os reais interesses por trás do conflito.
- Disposição para mediar: O presidente brasileiro se disse pronto para contribuir com um “acordo diplomático e não uma guerra fratricida”, sugerindo que poderia voltar a conversar com Trump antes do Natal.
- Postura pragmática: Apesar da crítica às ações dos EUA, Lula evitou um rompimento, mantendo canais abertos e praticando uma diplomacia silenciosa em segundo plano.
Integração Sul-Americana como Projeto Estratégico
O discurso na cúpula do Mercosur vai além da crise imediata e vincula a defesa da soberania a um projeto maior de unidade regional. Lula argumentou que a verdadeira ameaça à soberania vem de “forças antidemocráticas e do crime organizado”, não da integração.
Sua visão para a região inclui:
- Agir em bloco: “Não deixaremos de ser pequenos se atuarmos sozinhos. Juntos, podemos fazer muito”, declarou em outro fórum, rejeitando qualquer viés imperialista do Brasil.
- Reativar mecanismos regionais: Desde o início de seu mandato, Lula trabalha para revitalizar instâncias como a União de Nações Sul-Americanas (UNASUR) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).
- Fortalecer o Mercosul: Durante a cúpula, expressou confiança na concretização do acordo de associação com a União Europea, qualificado como um passo fundamental para os vínculos entre as regiões.
Contexto Complexo e Desafios pela Frente
A posição de Lula se dá em um cenário internacional desafiador. Analistas apontam que ele busca um jogo de equilíbrios entre o Sul Global e o Norte Atlántico, em um mundo mais polarizado. No entanto, fatores complicam essa estratégia:
- Tensões Globais: Guerras como a da Ucrânia e do Gaza reduzem o espaço para posições de neutralidade e autonomia.
- Fragilidade Regional: Países sul-americanos enfrentam crises políticas e económicas internas, com focos voltados para seus problemas domésticos.
- Pressão Externa Contínua: A renúncia do almirante Alvin Holsey, chefe do Comando Sul dos EUA, supostamente por preocupações com os bombardeios no Caribe, indica a gravidade e as divisões internas sobre a política na região.
Ao entregar a presidência pro tempore do Mercosul ao Paraguai, Lula deixa clara sua doutrina: uma América do Sul próspera e pacífica, baseada no diálogo e na cooperação, é a única forma de garantir soberania e desenvolvimento diante de um mundo em reconfiguração.
Com informações de: spanish.news.cn, telesurtv.net, fusernews.com, cidob.org, larepublica.pe, laiguana.tv, dw.com, abyayalasoberana.org, agenciabrasil.ebc.com.br, contrapunto.com■