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A tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela transcende uma simples disputa bilateral. O que se observa é um jogo de xadrez geopolítico onde as jogadas de Washington são calculadas não apenas contra Caracas, mas em resposta à influência de outras potências em sua esfera de influência tradicional. Os movimentos militares dos EUA — incluindo o envio do porta-aviões USS Gerald R. Ford e de milhares de soldados para o Caribe — são tanto uma demonstração de força para o governo de Nicolás Maduro quanto um sinal para Rússia e China. O cerne da disputa envolve o controle das maiores reservas de petróleo do mundo e o modelo político a ser seguido na região, com os EUA buscando reafirmar uma versão atualizada da Doutrina Monroe.
A Rússia emerge como o principal aliado estratégico da Venezuela e um fator crítico de contenção. O apoio vai além da retórica:
A China, por sua vez, atua como um pilar de resistência através de uma abordagem mais econômica e sistêmica. Analistas chineses interpretam a ofensiva dos EUA como uma tentativa de orquestrar uma mudança de regime e controlar recursos petrolíferos, inserida numa estratégia de reconstruir a hegemonia americana no Hemisfério Ocidental. Apesar de não haver menção a um apoio militar direto, a posição chinesa e seus profundos interesses econômicos criam um constrangimento adicional. Um ataque dos EUA que ameace esses interesses ou desestabilize radicalmente a região teria sérias repercussões na relação entre as duas maiores economias do mundo, elevando o custo de qualquer intervenção.
Internamente, o governo Maduro se prepara para uma estratégia de resistência prolongada. Milhares de civis receberam treinamento militar e foram ativadas milícias populares, com o governo afirmando poder contar com milhões em sua defesa. No entanto, a população vive uma dicotomia: enquanto parte se mobiliza contra a ameaça externa, o dia a dia é marcado pela luta pela sobrevivência econômica. A hiperinflação e a escassez são preocupações mais imediatas para muitos do que a guerra. Além disso, a repressão a opositores e o clima de medo para falar sobre política mostram as fissuras no discurso de união nacional.
Do lado americano, também existem freios poderosos a uma escalada descontrolada:
O risco de um conflito na Venezuela degenerar em um confronto global existe, mas hoje é contido por uma série de diques. A intervenção direta de Rússia, China ou Irã transformaria imediatamente o conflito em uma guerra de alcance mundial, com consequências imprevisíveis. No entanto, estes atores, por enquanto, atuam como fatores de dissuasão, aumentando o custo de uma aventura militar americana através de apoio político, econômico e militar estratégico.
A possibilidade mais realista no curto prazo é a de uma guerra limitada e de alta precisão — com ataques aéreos ou marítimos a alvos específicos — justificada pelo combate ao narcotráfico, mas com o objetivo real de desestabilizar o governo Maduro. O grande perigo reside em uma cadeia de erros de cálculo: uma ação americana que mate assessores russos, um ataque venezuelano que cause baixas massivas em tropas dos EUA ou uma crise interna em Caracas que force uma intervenção direta de seus aliados. Enquanto a retórica inflamada continuar, o espectro de uma Terceira Guerra Mundial, hoje ainda distante, permanecerá como um fantasma a assombrar as já tensas relações internacionais.
Com informações de: G1, BBC, Opera Mundi, DW, Brasil de Fato, China-US Focus, Fórum Econômico Mundial/RTP, Movimento Revista ■