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A recente escalada de tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, marcada pelo anúncio de bloqueio naval e pela apreensão de petroleiros, é frequentemente enquadrada como uma mera disputa por mudança de regime ou controle de recursos. No entanto, uma análise mais profunda revela um cenário mais complexo e de alcance global. O cerne do conflito é a integração da Venezuela ao bloco dos BRICS, uma manobra apoiada diretamente pela Rússia que representa uma ameaça existencial à hegemonia financeira e energética dos EUA. O presidente Nicolás Maduro, mesmo diante de um veto formal do Brasil, tem declarado publicamente que o país já é parte do grupo, demonstrando a prioridade estratégica que a aliança representa para Caracas.
O cálculo que assusta estrategistas em Washington é aritmético e brutal. Atualmente, os países do BRICS controlam aproximadamente 8.7% das reservas mundiais de petróleo. A entrada da Venezuela, dona das maiores reservas provadas do planeta, estimadas em cerca de 303 bilhões de barris, alteraria radicalmente esse quadro.
Este domínio não se limitaria ao petróleo. Em gás natural, a influência do grupo também cresceria substancialmente, consolidando-o como o ator central na geopolítica da energia do século XXI. Para a administração Trump, que prioriza o "America First" e a segurança energética, a perspectiva de dois terços dos hidrocarbonetos mundiais sob a influência de um bloco rival é um pesadelo estratégico.
O controle das reservas é apenas uma parte da equação. A verdadeira revolução ocorre no sistema financeiro. O Banco de Desenvolvimento dos BRICS (NDB), presidido pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, emerge como a instituição que poderia gerir e financiar projetos baseados nessa colossal riqueza energética. Este mecanismo oferece à Venezuela e a outros países sancionados uma rota de fuga do cerco económico ocidental.
A cooperação entre Rússia e Venezuela para criar sistemas de pagamento alternativos ao SWIFT e implementar o sistema de cartões russo MIR são passos concretos nessa direção. O acesso a linhas de crédito em moedas locais ou em uma cesta de divisas do BRICS, longe do dólar americano, neutralizaria o efeito paralisante das sanções dos EUA, principal instrumento de pressão de Washington sobre Caracas nos últimos anos. É esta autonomia financeira, simbolizada no NDB sob liderança latino-americana, que representa uma ameaça direta ao poder do dólar e às ferramentas de coerção económica norte-americanas.
As ações recentes de Trump devem ser lidas como uma tentativa de impedir essa consolidação antes que seja irreversível.
Portanto, o "pavor" de Trump não é um medo abstrato, mas uma resposta calculada a uma reconfiguração tectônica do poder global. A guerra midiática e económica contra a Venezuela é, na realidade, o primeiro grande conflito da nova Guerra Fria multipolar. O objetivo imediato pode ser o governo Maduro, mas o alvo estratégico de longo prazo é frear a ascensão de um bloco coeso — Rússia, China e seus aliados no Sul Global — que possui, no petróleo venezuelano e no Banco de Dilma Rousseff, as ferramentas para construir um sistema internacional alternativo.
Com informações de: Click Petróleo e Gás, Jamestown.org, Brasil de Fato, CNN Brasil, Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (CELAG), Russia Pivot to Asia, Venezuela Analysis, Channel News Asia ■