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Rússia e China como fatores de contenção: a disputa geopolítica por trás da crise na Venezuela
Enquanto Trump anuncia bloqueio naval, apoio estratégico russo e laços econômicos chineses criam um custo proibitivo para uma escalada militar aberta, transformando a Venezuela em um tabuleiro de xadrez global
Analise
Foto: https://jornalggn.com.br/wp-content/uploads/2023/12/china-venezuela-xinhua.jpg
■   Bernardo Cahue, 17/12/2025

A Escalada Americana: Do Bloqueio Naval à Retórica de Guerra

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou um bloqueio naval "total e completo" a todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela, declarando que o país está "completamente cercado pela maior Armada já reunida na história da América do Sul". Esta medida é o ápice de uma campanha de pressão militar que se intensificou desde agosto, inicialmente justificada como combate ao narcotráfico. A retórica é beligerante: Trump designou o governo de Nicolás Maduro como uma "Organização Terrorista Estrangeira" e exige a devolução de petróleo e terras que alega terem sido roubados dos EUA. A ação prática mais contundente foi a apreensão militar do petroleiro "Skipper" na costa venezuelana em 10 de dezembro, um ato que Caracas denunciou como "pirataria internacional".

O Contrapeso Estratégico-Militar Russo

Em resposta direta à escalada americana, a Rússia emergiu como o principal aliado estratégico e político de Caracas. O presidente Vladimir Putin realizou uma ligação telefônica com Maduro para reafirmar seu apoio "incondicional" à soberania venezuelana. Mais do que palavras, esse apoio é institucionalizado por um Acordo de Parceria Estratégica e Cooperação entre os dois países, que entrou em vigor em novembro de 2025. O tratado é explicitamente desenhado para contrariar "medidas coercitivas unilaterais" (uma referência clara às sanções dos EUA) e prevê a expansão da cooperação nos setores de petróleo, gás e defesa. Diplomatas russos exigiram publicamente explicações de Washington pela apreensão do navio e defenderam um debate coletivo sobre segurança marítima, posicionando a Rússia como um ator legitimador da posição venezuelana em fóruns internacionais. Este apoio serve como um claro sinal dissuasório para os EUA, elevando os riscos de qualquer ação militar mais ampla ao introduzir o potencial de um confronto direto com uma potência nuclear.

O Pilar Econômico Chinês: O Sustento do Regime

Se a Rússia fornece o escudo político-militar, a China atua como o sustentáculo econômico vital para o governo Maduro contornar o cerco financeiro ocidental. Apesar das sanções dos EUA que buscam estrangular as exportações de petróleo, a Venezuela continua produzindo cerca de 1 milhão de barris por dia. Desse total, uma esmagadora parcela de aproximadamente 80% é exportada para a China, que se tornou o mercado quase exclusivo para o petróleo venezuelano sancionado. Esse fluxo comercial massivo, realizado por uma frota de "navios fantasmas" ou "zumbis" que burlam as sanções, garante um fluxo de caixa essencial para a sobrevivência do regime. A relação é simbiótica: a Venezuela garante receita, e a China assegura acesso a uma das maiores reservas de petróleo do mundo a um preço com desconto. Qualquer ação militar que vise paralisar completamente a economia venezuelana teria que enfrentar não apenas a Rússia, mas também os profundos interesses econômicos e energéticos de Pequim na região, complicando exponencialmente o cálculo estratégico de Washington.

Conclusão: Um Impasse Geopolítico Estruturado

A crise venezuelana transcendeu há muito a questão da mudança de regime. Ela se transformou em um microcosmo da rivalidade entre grandes potências, onde Rússia e China atuam como freios contundentes à política de máxima pressão dos EUA. A análise sugere que esses fatores, combinados, criam um impasse:

  • Dissuasão Estratégica (Rússia): O apoio aberto de Putin, materializado em acordos e retórica firme, sinaliza que uma intervenção militar teria consequências globais imprevisíveis, inibindo aventuras militares mais ousadas.
  • Interdependência Econômica (China): O comércio petrolero vital com a China torna praticamente impossível isolar completamente a Venezuela sem um conflito de alcance global, ancorando o regime financeiramente.
  • Guerra Híbrida em Curso: Diante desse cenário, a estratégia dos EUA parece se concentrar em uma guerra híbrida—bloqueio naval, sanções e operações pontuais como a apreensão de navios—que aumenta o custo para Maduro e seus aliados, mas evita (por enquanto) uma guerra terrestre convencional de alto risco.

Portanto, mais do que "impedir" uma guerra no sentido tradicional, Rússia e China criaram um custo geopolítico e econômico proibitivo para uma escalada militar total. Eles garantem que a queda de Maduro, se acontecer, não será resultado de uma invasão direta, mas de um longo e complexo jogo de pressão, resistência e negociação onde as grandes potências estão profundamente envolvidas.

Com informações de: G1, NPR, Opera Mundi, CBN, CNN Brasil, Al Jazeera, Revista Oeste, Naval.com.br, BBC, CNN International ■