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Estratégia de asfixia: como o cerco econômico dos EUA paralisou a Venezuela
Além do bloqueio naval, Washington emprega um arsenal financeiro para estrangular a economia venezuelana, confiscando ativos, paralisando a produção de petróleo e aprofundando uma crise humanitária
Analise
Foto: https://www.moneytimes.com.br/uploads/2023/04/pdvsa.jpg
■   Bernardo Cahue, 17/12/2025

Do Anúncio ao Estrangulamento: A Escalada do Cerco

O anúncio de um "bloqueio total e completo" a navios petroleiros sancionados pelo presidente Donald Trump é a face mais visível e beligerante de uma campanha de pressão econômica de longa data contra a Venezuela. No entanto, essa medida militar é apenas a ponta do iceberg de uma estratégia abrangente de embargo financeiro. Anteriormente, forças dos EUA já haviam apreendido o petroleiro Skipper na costa venezuelana, um ato classificado por Caracas como "pirataria" e "roubo descarado". O objetivo declarado é sufocar economicamente o regime de Nicolás Maduro, atacando seu principal sustento: a indústria petrolífera, responsável por quase todas as receitas do país.

Os Três Pilares do Embargo Financeiro

A ofensiva econômica dos EUA se sustenta em três eixos principais, que vão muito além das apreensões de navios:

  1. Paralisia do Setor Petrolífero: As sanções impedem a Venezuela de acessar mercados financeiros internacionais, negociar sua dívida e adquirir diluentes e peças de reposição essenciais para a produção de crude. Isso causou uma queda catastrófica na produção, estrangulando o fluxo de caixa do Estado. Recentemente, o Departamento do Tesouro ampliou as sanções para incluir empresas de navegação e petroleiros específicos usados para burlar o embargo, visando rotas clandestinas para a Ásia.
  2. Confisco de Ativos Internacionais: A Venezuela tem bilhões de dólares em ativos congelados no exterior. O caso mais emblemático é o do ouro das reservas internacionais retido no Banco da Inglaterra. A justificativa inicial foi o reconhecimento, por parte do Reino Unido e dos EUA, do opositor Juan Guaidó como presidente interino. Mesmo após o desmonte do governo paralelo de Guaidó, o ouro permanece confiscado, privando o país de um ativo crucial.
  3. Sanções Direcionadas e Judicialização: A rede de sanções do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) congela bens de centenas de indivíduos e entidades venezuelanas, incluindo familiares de Maduro e altos funcionários, nos EUA. Paralelamente, ações judiciais, como a ordem de venda forçada da refinaria Citgo nos EUA para pagar credores, transferem ativos estratégicos do Estado venezuelano para mãos privadas.

O Custo Humano: Sanções como "Homicídio"

Analistas e relatórios independentes alertam que o impacto das sanções é devastador para a população civil, contradizendo o discurso oficial de que são "cirúrgicas". Um estudo do Center for Economic and Policy Research (CEPR) estimou que as sanções causaram mais de 40.000 mortes apenas entre 2017 e 2018, ao reduzirem drasticamente o acesso a alimentos e medicamentos importados. A economia, já frágil, foi empurrada para um colapso hiperinflacionário, agravando a crise migratória. Para esses críticos, num contexto de escassez generalizada, o embargo financeiro funciona como uma arma de guerra silenciosa, com efeitos letais.

Respostas e Repercussões Internacionais

O governo venezuelano respondeu à última escalada denunciando-a perante o Conselho de Segurança da ONU como um ato de "pirataria estatal" que viola o direito internacional e a livre navegação. Internamente, Maduro tenta diversificar parcerias, dependendo da China para escoar parte de seu petróleo e contando com apoio político-diplomático de aliados. A medida de Trump também gerou reações domésticas nos EUA, onde o congressista Joaquin Castro (democrata) classificou o bloqueio naval como "inquestionavelmente um ato de guerra" não autorizado pelo Congresso.

O caso venezuelano estabelece um precedente perigoso no sistema internacional. O confisco de ativos soberanos, como o ouro no Banco da Inglaterra, gera desconfiança na segurança do sistema financeiro ocidental. Paralelamente, a estratégia de pressionar mudanças de governo por meio do colapso econômico levanta profundas questões sobre soberania, direito internacional e os custos humanos aceitáveis na política externa.

Com informações de: CNN Brasil, Revista Oeste, Hora do Povo, The Washington Post, Al Jazeera, Wikipedia, Progressive International, Associated Press, U.S. Department of the Treasury, Autonomia Literária ■